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Argentina: Macri toma possa à sua maneira mas sem a presença de Kirchner

Cristina Kirchner não estará presente esta quinta-feira na tomada de posse de Mauricio Macri, cuja vitória nas presidenciais põe um ponto final nos 12 anos de liderança dos Kirchner e coloca a direita moderada no poder da Argentina.

Reuters
10 de Dezembro de 2015 às 11:32
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Quase 20 dias depois de ganhar as eleições presidenciais, Mauricio Macri, candidato do centro-direita, toma posse esta quinta-feira. A cerimónia oficial acontece depois daquilo que se pode considerar uma telenovela argentina real.

O sufrágio de 22 de Novembro na Argentina tirou a esquerda do poder, depois de 12 anos sob liderança dos Kirchner (Nestor e Cristina Kirchner). Mauricio Macri venceu a corrida à presidência do país após uma luta renhida com o candidato Daniel Scioli, apoiado pela presidente cessante. Chegou à vitória com promessas de alterações significativas na economia da Argentina.

Seguiram-se os preparativos para a tomada de posse. O ponto menos feliz do enredo sobre a cerimónia teve lugar a 6 de Dezembro, altura em que Cristina Kirchner publicou no seu site um artigo onde acusa Mauricio Macri de a desrespeitar ao telefone e lembra o opositor que a tomada de posse "não é a sua festa de aniversário".

"Passam-me o telefone e o presidente eleito começou com um elevado tom de voz a exigir-me que lhe entregasse o bastão e a banda presidencial na Casa Rosada [sede do poder] porque era ‘a sua cerimónia’ (…) devo confessar que me surpreendeu a exaltada – eufemismo de gritos – verborreia do presidente eleito (…) a tal ponto que por um momento tive de o recordar que para lá dos nossos cargos, ele é um homem e eu uma mulher e que não deve tratar-me dessa forma".

A equipa de Macri partiu em sua defesa.

Em causa estava o facto de Kirchner desejar fazer toda a cerimónia de tomada de posse no Congresso enquanto Macri preferia seguir os trâmites institucionais e dividir a cerimónia em duas partes: juramento no Congresso e cerimónia de entrega dos símbolos presidenciais na Casa Rosada.

Sem fim à vista, a disputa acabou por ser resolvida pelo tribunal, a quem os apoiantes de Macri haviam recorrido para que a justiça decretasse que o mandato de Kirchner terminava quarta-feira às 23:59, permitindo-lhes fazer a cerimónia como bem entendessem, escreve o Diário de Notícias.

Assim foi, e até à entrega do bastião o país ficará sob liderança de Federico Pinedo, líder provisório do Senado, sendo ele quem irá entregar a Macri os símbolos presidenciais esta quinta-feira, ao 12:00 (15:00 em Lisboa). Kirchner não estará presente, quebrando o protocolo após o escalar da contenda.

As promessas de Macri

O candidato chega à liderança da Argentina com a promessa de controlar os vastos recursos naturais e de deixar cair medidas populistas para reavivar a economia do país que durante décadas esteve aquém do seu potencial, escreve a Reuters.

Se conseguir levar a cabo as suas intenções, o investimento pode fluir para o país, dada a fértil região das Pampas, um sector tecnológico promissor, uma força de trabalho com formação superior e alguns dos poços de petróleo mais desejados do mundo.

A líder cessante, Cristina Kirchner, durante os oito anos que esteve no poder, adoptou medidas proteccionistas com o intuito de impulsionar a indústria local. Aumentou também a despesa com o Estado Social, numa altura em que milhões de argentinos precisavam de ajuda para sair da pobreza após a devastadora crise económica de 2002.

Macri, um conservador empresário, propõe, por seu turno, o levantamento de controlos cambiais, o corte na inflação (neste momento, encontra-se em dois dígitos) e um contacto mais próximo com os investidores internacionais. Contrariando a presidência anterior, e para cortar no défice orçamental, o candidato considerado pró-empresas quer colocar fim a subsídios na energia e nos transportes. Além disso, promete também aumentar as reservas em moedas estrangeiras, que estão em mínimos de nove anos.

"A única maneira de combater a pobreza é criando emprego", disse Macri, citado pela Reuters, colocando a ênfase no papel que o sector privado tem a desempenhar.

Em 1930, Argentina tinha um produto interno bruto maior do que o resto da América Latina junta, mas a Reuters aponta que uma má gestão financeira e grande instabilidade política nas décadas recentes causaram uma crise atrás da outra.

Entre os objectivos de Macri está o de chegar a acordo sobre uma acção judicial politicamente sensível submetida por credores norte-americanos que exigem o pagamento total da dívida da Argentina, que entrou em incumprimento ("default") em 2002.

Quem é Mauricio Macri?

Macri, com 56 anos, filho de imigrantes italianos, foi um empresário de sucesso com interesses no sector da construção, finanças e produção automóvel até, em 1991, ter sido raptado e mantido em cativeiro por 12 dias, conta o The Telegraph, adiantando que foi esta situação que o fez decidir aventurar-se na política.

Antes disso, porém, entrou no mundo do futebol e ficou conhecido como o presidente de maior sucesso do clube de futebol Boca Juniors, função que desempenhou entre 1996 e 2008. Entretanto, em 2003, formou o seu partido de centro-direita.

Casado pela terceira vez e com três filhos, antes de se candidatar à presidência, Macri desempenhava o cargo de presidente de câmara de Buenos Aires.

Escreve o The Telegraph que internamente muitos temem que faça o país regressar aos dias de intensas privatizações e de uma economia neoliberal, um receio que o próprio considera infundado.

"Estou grato por este governo [de Kirchner] porque nos devolveu a nossa dignidade ao ajudar os pobres. Deu-nos trabalho, abriu fábricas, melhorou o acesso à educação e aos cuidados de saúde (…). Tenho receio que Macri desfaça tudo isto. Ele representa os ricos", disse à Reuters Martin Sosa, estudante de 18 anos.

Posto isto, escreve a agência, algumas alterações são inevitáveis de acordo com os economistas consultados pela Reuters. As reservas estrangeiras na Argentinas são muito baixas, o controlo de capitais afugentou o investimento e a inflação ronda os 25%.

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