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Agricultores pedem "acção rápida" e aposta na prevenção e rejeitam "soluções simplistas"

As duas maiores organizações pedem políticas agroflorestais de longo prazo , com especial foco no reforço da prevenção, lamentando que, muitas vezes, os pequenos e médios proprietários florestais sejam bodes expiatórios na hora de se apurarem culpas pelos incêndios.

Pedro Nunes/Reuters
18 de Setembro de 2024 às 23:50
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A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) reclama uma "ação rápida" por parte do Governo no apoio aos agricultores afetados pelos incêndios, enquanto a Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP) chama a atenção para um "problema nacional" que não atinge só o mundo rural e exige "medidas para reforçar prevenção e evitar tragédias futuras", de cariz "duradouro", rejeitando  "soluções simplistas ou meramente proibicionistas".

A área ardida em Portugal continental desde domingo ultrapassa os 106 mil hectares, dos quais perto de 76 mil nas regiões norte e centro do país, segundo o sistema europeu Copernicus, levando o Governo a decretar situação de calamidade nos municípios afetados.  Embora sobressaia a floresta, com predominância para as áreas dedicadas a eucaliptal, a agricultura também tem sido afetada em diferentes frentes, com relatos de perdas de pomares de fruta, de olivais e vinhas, mas também de explorações pecuárias.

Em comunicado, enviado esta quarta-feira, às redações, a CNA exorta o Governo e demais órgãos de soberania a avançar com uma "célere mobilização de meios para o rápido apuramento dos prejuízos e da incapacidade temporária para produzir" e de "apoios financeiros aos pequenos e médios agricultores afetados a atribuir por perda de rendimentos, ajudas à alimentação dos animais no caso da destruição de pastagens e outras", assim como com "a implementação de medidas a médio e longo prazo".

"A situação que se vive mostra bem que os incêndios não são apenas um problema que afeta exclusivamente o mundo rural e o interior. O mundo rural e o interior sofrem, e muito, com os incêndios, destruindo-se recursos naturais, explorações agrícolas e animais, e perdendo-se muita biodiversidade, mas o que estes incêndios também mostram é que este é um problema nacional, que também afeta áreas urbanas e industriais", realça, por seu turno, a CAP.

"Não arde apenas o que está abandonado. Arde também o que tem gente", enfatiza a organização liderada por Álvaro Mendonça e Moura, também num comunicado enviado às redações, em que defende que "apostar estrategicamente na prevenção salva vidas": "A prevenção, levada de forma séria, não é um custo, é um investimento. Rejeitam-se soluções simplistas, ou meramente proibicionistas seja de que tipo for. Este é o tempo de procurar soluções estáveis e duradouras, que evitem tragédias futuras".

A CNA subscreve que "a política de prevenção dá passos muito curtos" e "é pouco resoluta" e aponta o dedo aos sucessivos Governos, apontando que estes incêndios "evidenciam reiterados erros e omissões graves no que respeita à política agroflorestal". "Desde os mais destruidores fogos de 2017, muitas áreas ardidas continuam por reflorestar, a floresta continua desordenada e dominada por extensas manchas contínuas de eucalipto ao serviço dos interesses da grande indústria", acusa.

Ao Negócios, o secretário-geral da CAP, Luís Mira, aponta, porém, que se criaram muitos "mitos" em torno do eucalipto que não contribuem para a solução do problema que, ao fim e ao cabo, se resume à gestão: "As áreas de eucalipto que estão integradas na indústria não ardem, porque são geridas economicamente. Se tiver valor não arde. Isto não tem a ver com o facto de ser uma monocultura, mas com a gestão. Basta olhar para o exemplo do Pinhal de Leiria".

Para Luís Mira não só "tem de haver ações de prevenção durante o resto do ano", como carecem de serem olhadas de outra forma: "Às vezes perdemos o foco. A União Europeia tem uma política para a redução das emissões de dióxido de carbono. E Portugal tem feito esforços, desligando, por exemplo, e bem, a central a carvão do Pego, os quais caem por terra com incêndios desta dimensão, pelo que esta vertente tem de ser enquadrada no combate às emissões de CO2 ou a descarbonização vai por água abaixo".

"Este trabalho não pode ser só da responsabilidade do proprietário rural. Era como se a polícia fosse suportada apenas por quem tem bens", reforça o mesmo responsável, contrapondo essa realidade com os incentivos disponibilizados pelo Fundo Ambiental para o desígnio, que vão desde a aquisição de janelas e painéis solares à compra de bicicletas amigas do ambiente.

A CNA também toca neste nervo, apontando que "sobre os pequenos e médios proprietários florestais não raras vezes cai o papel de bodes expiatórios da culpa dos incêndios, forçados a limpezas caríssimas que consomem grande parte dos seus parcos rendimentos".

"À semelhança do que acontece com a produção agropecuária, os sucessivos Governos têm deliberadamente fechado os olhos perante os monopólios esmagadores dos preços à produção agrícola e florestal. Se num lado mandam as grandes superfícies comerciais, na floresta os preços são ditados pelas grandes indústrias da celulose, derivados da madeira e da cortiça, circunstância que muito contribui para a perda de interesse económico na floresta e na sua gestão ativa", acrescenta.

Ainda neste âmbito, e mais no imediato, a CNA defende que, "em colaboração com autarquias e produtores florestais, o Governo deve promover a criação de parques de receção e comercialização das madeiras 'salvas' dos incêndios, estabelecendo preços mínimos, por forma a conseguir algum rendimento aos pequenos e médios produtores afectados e para limpar as matas e proteger o ambiente e recursos como a água e os solos".

"Também sem mais demoras tem de haver coragem política para implementar medidas que assegurem transparência na cadeia agroflorestal e o aumento do preço das madeiras na produção, fator estruturante da maior importância para a floresta nacional e atractivo para os pequenos e médios produtores florestais", frisa.

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