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Juros da Grécia disparam com reavivar de discórdia entre Atenas e a troika

A avaliação ao memorando grego permanece em suspenso. O último Eurogrupo saldou-se pelo reafirmar da divergência entre Atenas e os parceiros europeus. Já o FMI continua a discordar da receita de Bruxelas e permanece distante de integrar o programa de assistência grego. O resultado é a subida dos juros da dívida pública grega.

33 Grécia
31 de Janeiro de 2017 às 12:04
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Ao contrário da tendência verificada na generalidade dos países da Zona Euro, cujas taxas de juro seguem em queda esta terça-feira, 31 de Janeiro, a "yield" associada às obrigações de dívida pública grega negociadas no mercado secundário está a disparar tanto nas maturidades mais curtas como nas mais longas.

 

No prazo a 2 anos, a "yield" helénica dispara 71,4 pontos base para 9,361%, estando assim em máximos de 28 de Junho, enquanto a taxa de juro associada às obrigações gregas com prazo a 10 anos avança 38,8 pontos base para 8%, o que significa que também nesta maturidade os juros helénicos estão em máximos de 3 de Novembro.

 

São vários os factores a contribuir para esta tendência, embora todos estejam relacionados com os desentendimentos entre Atenas e as instituições da troika. A começar pelo facto de a segunda avaliação ao cumprimento do memorando estar bloqueada, com as negociações em torno da mesma suspensas – a validação da primeira avaliação chegou em 2016 com um atraso superior a meio ano face à data inicialmente estabelecida.

 

Depois das declarações de vontade feitas durante o encontro do Eurogrupo, realizado na semana passada, sobre o retomar das conversações entre as autoridades helénicas e as equipas de avaliação da troika, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, reiterou, em entrevista a um jornal sérvio citada pela Bloomberg, que a avaliação ao memorando deve estar completa brevemente.

 

Apesar deste aparente optimismo, o Ministério alemão das Finanças veio hoje avisar que não serão desbloqueadas novas parcelas da ajuda financeira prevista no programa de assistência grego, acordado no Verão de 2015, antes de ser dada luz verde à referida avaliação periódica. Nem se o Fundo Monetário Internacional (FMI) não integrar financeiramente o programa grego.

 

Citado pela Reuters, um porta-voz do Ministério tutelado por Wolfgang Schäuble afirma que "outros pagamentos dependem do sucesso na conclusão da revisão ao programa e da participação do FMI". Na passada segunda-feira, o presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), Klaus Regling, já avisara que o desbloqueio de novas tranches para Atenas depende do FMI aceitar participar na componente financeira do memorando.

 
Nova crise no horizonte?

Este panorama traz à memória o clima vivido antes do final de Maio do ano passado e antes do Verão de 2015, isto porque dentro de alguns meses a Grécia vai precisar de receber novas parcelas da ajuda financeira (que pode ascender aos 86 mil milhões de euros em três anos) para não correr o risco de entrar em incumprimento. Somente no dia 17 de Julho a Grécia terá de pagar 1,5 mil milhões de euros ao Banco Central Europeu, 2,1 mil milhões a investidores privados e ainda 300 milhões ao FMI. 

 

Mas se os parceiros europeus querem a participação financeira do FMI no resgate grego, a instituição liderada por Christine Lagarde e Atenas nem tanto. As autoridades gregas consideram que a posição do FMI é demasiado rígida, exigindo austeridade adicional ao país. E Tsipras assegurou há uma semana, antes ainda da reunião do Eurogrupo em Bruxelas, que não serão prosseguidas novas medidas que impliquem um aumento de receitas, um recado para o FMI e Bruxelas. No encontro dos ministros das Finanças, o ministro grego das Finanças, Euclides Tsakalotos, ouviu dos seus homólogos a exigência de novas medidas para lá do fim do programa, ou seja, depois de 2018.

 

Já o Fundo, apesar de recentemente ter considerado que a austeridade "já foi longe de mais" na Grécia, quer, por um lado, que Atenas se comprometa com reformas estruturais adicionais, e por outro, que os credores europeus aceitem avançar com um significativo alívio da dívida helénica, que a instituição considera incomportável e incompatível com as metas de crescimento definidas, designadamente em relação ao excedente orçamental primário de 3,5% do PIB em 2018.

 

A este respeito, na segunda-feira o MEE veio reiterar que a dívida grega é perfeitamente "gerível", respondendo assim ao relatório, ainda não oficialmente divulgado mas noticiado este fim-de-semana pelo Financial Times, em que o FMI sustenta que a dívida helénica vai tornar-se incontrolável, podendo atingir os 275% do PIB em 2060.

 

Entretanto, no passado dia 23 de Janeiro, começaram a ser implementadas as medidas de alívio da dívida da Grécia acordadas no início de Dezembro, e cuja implementação havia sido suspensa pelo Eurogrupo em resposta à decisão unilateral do Governo grego recorrer ao excedente primário de 2016 para pagar um bónus aos pensionistas mais necessitados.

 

No entanto o FMI considera que as medidas acordadas pelos credores europeus para aliviar o fardo da dívida pública grega são insuficientes, o que apesar das garantias dos vários intervenientes europeus de que o Fundo irá integrar o memorando, adensa a dúvida sobre qual a decisão final da instituição sediada em Washington.

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