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Die Zeit: Merkel quer manter a Grécia no euro mesmo em caso de "default"

De acordo com o jornal alemão, o Governo de Angela Merkel está a ponderar de que forma a Grécia pode permanecer no euro mesmo que incumpra pagamentos. Atenas terá, no entanto, de se comprometer com reformas que permitam restaurar a sustentabilidade do país. Se esse não for o caso, a saída do euro será inevitável.

12 de Fevereiro – Merkel antes do Conselho Europeu em que se encontrou pela primeira vez com Tsipras

“A Alemanha está pronta para fazer compromissos, mas também devo dizer que a credibilidade da Europa depende naturalmente do respeito pelas regras que fixámos e da confiança mútua”.
Reuters
15 de Abril de 2015 às 12:16
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O governo da chanceler Angela Merkel está estudar um plano que permita manter a Grécia no euro, garantindo desta forma a integridade da união monetária europeia, no caso de o país entrar em "default", falhando pagamentos devidos aos credores, noticia o "Die Zeit".

 

Segundo o jornal alemão, em caso de incumprimento soberano o Banco Central Europeu (BCE) teria de deixar de fornecer liquidez aos bancos do país, uma vez que estes são maioritariamente detidos pelo Estado grego, que seria assim considerado accionista insolvente. O plano que está a ser pensado em Berlim passa por tentar perceber como é que a liquidez à banca pode ser mantida. O pré-requisito para esta concessão passa, porém, por o Governo grego "cooperar e demonstrar estar disponível para empreender as reformas" consideradas necessárias pela troika para garantir a sustentabilidade financeira do país. Se este não for o caso, uma secessão da união monetária passará a ser um cenário praticamente inevitável. Mesmo assim, acrescenta o Die Zeit, a Grécia continuaria integrada na União Europeia e poderia beneficiar de "fluxos de ajuda de Bruxelas para facilitar a transição para a sua própria moeda". Citado pela Bloomberg, o Ministério alemão das Finanças recusou fazer quaisquer comentários à notícia.

 

FMI: Isto não está a funcionar

 

A possibilidade de uma crise aberta na Grécia tem vindo a ser crescentemente admitida por fontes do governo grego e das instituições da troika, à medida que se arrastam as negociações e os cofres de Atenas vão ficando vazios. De acordo com relatos na imprensa grega, Poul Thomsen – que desde 2010 tem acompanhado de perto a Grécia em representação do FMI – terá dito nesta semana aos directores do Fundo que as negociações "não estão a funcionar", que Atenas continua a negar o acesso a dados essenciais para se perceber a real dimensão das necessidades financeiras do país, pelo que não pode antecipar se será possível concluir com sucesso o actual resgate ao país – etapa fundamental para que possa ser desembolsada a última fatia do empréstimo da troika, de sete mil milhões de euros.  

 

"Queremos muito um acordo e esperamos alcança-lo", mas se não houver entendimento, a saída da união monetária é um cenário que se abre, admitiu nesta terça-feira o  economista-chefe do FMI. "Será um evento muito dispendioso para a Grécia, e extremamente doloroso", mas que pode ser acomodado pelo resto da Zona Euro, disse ainda Olivier Blanchard,  citado pela Bloomberg.

 

Blanchard falava, em Washington, na apresentação das novas perspectivas macroeconómicas, no âmbito das quais o FMI reviu em baixa, de 2,9% para 2,5%, a previsão de crescimento da economia grega para este ano, antecipando uma aceleração para 3,7% em 2016.

 

Nesta semana também, o Financial Times citou uma fonte de Atenas, segundo a qual o Governo grego já está a considerar entrar em incumprimento, caso as negociações com a troika continuem em aberto, e será o FMI o primeiro a não receber os desembolsos (do primeiro empréstimo a Atenas, concedido em 2010) devidos em Maio e em Junho. Nunca um país avançado não honrou a tempo e horas os seus compromissos com a instituição sedeada em Washington, de que os Estados Unidos são o maior accionista. O ministro grego das Finanças Yanis Varoufakis conta encontrar-se nesta quinta-feira com Barack Obama, à margem dos encontros do FMI e do Banco Mundial que decorrem na capital norte-americana.

 

Por seu lado, o jornal alemão "Bild" avançou que já se preparam eleições antecipadas na Grécia caso as negociações não cheguem a bom porto, informação que o Governo grego desmentiu. Segundo uma sondagem da "Metron Analisys", 82% dos gregos querem manter-se no euro, o que traduz uma subida face aos cerca de 75% que assim respondiam em Janeiro.

 

Falando ontem na Comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, em Bruxelas, o comissário Pierre Moscovici disse, por seu turno, que as negociações entre os credores e a Grécia "avançam" mas "a um ritmo lento".

 

O comissário europeu dos Assuntos Económicos disse ainda que as negociações entre a Grécia e os credores podem prosseguir mesmo que não haja acordo no Eurogrupo sobre as reformas que terão de ser levadas a cabo no país – etapa fundamental para que a troika possa desbloquear a última fatia do segundo resgate, de 7,2 mil milhões de euros. "Continuaremos", disse nesta terça-feira Pierre Moscovici aos jornalistas, citado pela Lusa, quando questionado sobre o que acontecerá se na próxima reunião dos ministros das Finanças da Zona Euro (Eurogrupo) não for possível um acordo preliminar sobre as reformas a implementar na Grécia.

 

Menos impostos, mais dívidas

 

Essa eventualidade foi admitida pelo comissário responsável pelo euro. Em declarações citadas pela Bloomberg, retiradas de uma entrevista ao Handelsblatt, Valdis Dombrovskis diz que o atraso das negociações se deve à incapacidade do Governo grego de apresentar propostas de reforma do sistema pensionista e do mercado de trabalho, domínios que foram considerados fundamentais pelo FMI para manter o país numa trajectória financeira sustentável. Nessa entrevista, Dombrovskis diz esperar da Grécia "compromissos credíveis de reforma", e refere que 11 de Maio será agora a data mais provável para um acordo capaz de desbloquear nova ajuda da comunidade internacional ao país, que está sob resgate desde Maio de 2010. Quanto à reunião do Eurogrupo de 24 de Abril, que terá lugar em Riga, capital da Letónia, o mais provável – diz o comissário do euro - é que se limite a "fazer o balanço dos progressos" até então alcançados.

 

A Grécia tem de fazer face a vários compromissos financeiros. Antes ainda do Eurogrupo, tem de pagar 200 milhões de euros ao FMI e refinanciar 2.400 milhões de euros em dívida de curto prazo. Em Maio, tem de fazer mais dois pagamentos ao FMI, de 200 e 700 milhões de euros, e terá novamente de refinanciar bilhetes do tesouro. Em Atenas, a queda abrupta na arrecadação de impostos terá deixado os cofres desguarnecidos. Segundo o site noticioso Macropolis, o excedente orçamental caiu no fim de Fevereiro para cerca de mil milhões de euros, um terço abaixo do registado em igual período do ano passado, e as dívidas do Estado grego às empresas e cidadãos do país subiram 3,4% para 3,87 mil milhões de euros.

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