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Saída da Grécia do euro deixou de ser tabu

Nos “caminhos para o crescimento” da Europa, tema da conferência anual do Negócios desta sexta-feira, o risco de “default” da Grécia será a primeira pedra. Mas haverá mais e talvez maiores obstáculos a impedir o fecho do capítulo da Grande Crise.

16 de Abril de 2015 às 00:01
12 de Fevereiro – Merkel antes do Conselho Europeu em que se encontrou pela primeira vez com Tsipras

“A Alemanha está pronta para fazer compromissos, mas também devo dizer que a credibilidade da Europa depende naturalmente do respeito pelas regras que fixámos e da confiança mútua”.
Francois Lenoir/Reuters
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Os riscos de uma nova recessão e de uma espiral deflacionista terão sido praticamente anulados, em boa medida devido ao programa de compra de dívida do BCE e à descida da cotação do euro e do petróleo. Em contrapartida, a Zona Euro enfrenta agora "desafios acrescidos na frente financeira e geo-política".

 

O diagnóstico é do FMI e sugere que continua a ser difícil dar por encerrado o já longo capítulo da Grande Crise, aberto em Wall Street em 2008. A progressão de 1,5% projectada  pelo FMI para o PIB da Zona Euro é menos de metade da antecipada para os Estados Unidos; o desemprego e o endividamento permanecem bem mais elevados deste lado do Atlântico; e a  Europa enfrenta  novos e talvez maiores  perigos – dentro de portas e no limite das suas fronteiras – que lhe exigirão provas de redobrada vitalidade quando muitos a pressentem moribunda. 


A primeira nova "pedra" no caminho chama-se Grécia. Ao contrário do que sucedeu no último "pico" de crise grega em 2012,  a eventual saída do país do euro deixou de ser tabu.

 

Ainda em Fevereiro, o antigo presidente francês Valéry Giscard d’Estaing – que esteve na primeira linha das negociações  que levaram à adesão do país à então CEE, em 1981 – afirmava que Grécia deveria sair "de forma amigável" de um euro onde nunca deveria ter entrado – "foi um erro evidente" – porque Alexis Tsipras fez-se eleger com base num programa eleitoral "irrealizável com uma moeda forte". Pierre Moscovici, comissário do euro e antigo ministro francês socialista das Finanças, também já advertiu que a manutenção da Grécia no euro não se fará a "qualquer preço".

 

Embora não o afirmem abertamente, decisores políticos e várias instituições estão a trabalhar em planos de contingência.

O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, dizia nesta semana que uma saída grega será dolorosa e onerosa mas acomodável pelo resto da Zona Euro. "O efeito de curto prazo seria  gerível. A questão que se coloca é quem será o próximo?", contrapõe o economista irlandês Philip Lane. Já o Governo de Angela Merkel quererá, de acordo com o "Die Zeit",  que a Grécia permaneça no euro mesmo que entre em incumprimento com os credores. Isto, na condição de que, após quase três meses de negociações muito amadoras, saiam de Atenas propostas e compromissos credíveis de reforma.

 

Fundamental, diz por seu turno Luís Amado, é garantir que a  Europa não vai recuar, mesmo que o euro mude de formato. Numa altura em Atenas se aproxima de Moscovo, contestando as sanções europeias impostos no rescaldo da anexação da Crimeia, e a ameaça do "Estado islâmico" se alastra, o ex-MNE diz que "a desintegração europeia seria uma catástrofe para o continente e para o mundo". Por isso, acrescenta, "acredito que o euro – independentemente da sua configuração – subsistirá como elemento comum federador. Se o euro se salvar, o processo de integração será reforçado".

 

   

 
Perguntas à espera de respostas
O futuro próximo da UE e da Zona Euro passa pelas respostas que forem dadas a inúmeras interrogações e que, no limite, poderão puxar o projecto para um modelo mais federal mas também empurrá-lo para a desagregação.
 

A Grécia sai do euro?
Deve a Grécia ser mantida no euro em nome da integridade europeia ou, como avisa o comissário Moscovici, esse não é um desígnio que deva prevalecer a "qualquer preço"?

 

E o Reino Unido, fica na união Europeia?
Os britânicos vão às urnas em 7 de Maio. Se os conservadores vencerem serão chamados a referendar a continuidade na UE. Fica assim aberto um precedente que a Frente Nacional diz querer repetir em França se vencer as presidenciais de 2017.

 

Mais integração? Como e até onde?
Num cenário de saída da Grécia, deve a Zona Euro avançar num modelo mais federal para travar uma espiral de desintegração? Fazer o quê e como? Quererão os Governos europeus mais Europa? E os cidadãos europeus?

 

A geo-política vai forçar mudanças?
A Europa diz que proteger-se da Rússia significa, desde logo, maior independência em termos energéticos.
É preciso investir. Onde? Em que fontes? Com que dinheiro?  

 

 
S&P volta a cortar "rating" grego
A Standard & Poor’s voltou a descer de  B- para CCC+ o "rating" de longo prazo da dívida pública grega, empurrando para terreno ainda mais especulativo (ou "lixo").
 
A S&P admite que, se não houver acordo com a troika no prazo de um mês, a Grécia deixará de ter fundos para pagar aos credores. A saída do euro não é, porém,  o cenário base da agência, que o descreve como  um evento "sem precedentes" capaz de provocar impactos económicos, sociais e políticos "severos". Se as negociações não ficarem concluídas até meados de Maio, "poderá não haver tempo para que o Parlamento grego aprove as condições associadas ao programa revisto, nem o Ecofin terá tempo para libertar a última tranche do programa  (7,2 mil milhões de euros) ou para estabelecer uma nova linha de financiamento. A S&P estima que o PIB tenha contraído 1%  nos últimos seis meses e o país volte a registar um défice primário  neste ano.
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