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Os riscos de uma nova recessão e de uma espiral deflacionista terão sido praticamente anulados, em boa medida devido ao programa de compra de dívida do BCE e à descida da cotação do euro e do petróleo. Em contrapartida, a Zona Euro enfrenta agora "desafios acrescidos na frente financeira e geo-política".
O diagnóstico é do FMI e sugere que continua a ser difícil dar por encerrado o já longo capítulo da Grande Crise, aberto em Wall Street em 2008. A progressão de 1,5% projectada pelo FMI para o PIB da Zona Euro é menos de metade da antecipada para os Estados Unidos; o desemprego e o endividamento permanecem bem mais elevados deste lado do Atlântico; e a Europa enfrenta novos e talvez maiores perigos – dentro de portas e no limite das suas fronteiras – que lhe exigirão provas de redobrada vitalidade quando muitos a pressentem moribunda.
A primeira nova "pedra" no caminho chama-se Grécia. Ao contrário do que sucedeu no último "pico" de crise grega em 2012, a eventual saída do país do euro deixou de ser tabu.
Ainda em Fevereiro, o antigo presidente francês Valéry Giscard d’Estaing – que esteve na primeira linha das negociações que levaram à adesão do país à então CEE, em 1981 – afirmava que Grécia deveria sair "de forma amigável" de um euro onde nunca deveria ter entrado – "foi um erro evidente" – porque Alexis Tsipras fez-se eleger com base num programa eleitoral "irrealizável com uma moeda forte". Pierre Moscovici, comissário do euro e antigo ministro francês socialista das Finanças, também já advertiu que a manutenção da Grécia no euro não se fará a "qualquer preço".
Embora não o afirmem abertamente, decisores políticos e várias instituições estão a trabalhar em planos de contingência.
O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, dizia nesta semana que uma saída grega será dolorosa e onerosa mas acomodável pelo resto da Zona Euro. "O efeito de curto prazo seria gerível. A questão que se coloca é quem será o próximo?", contrapõe o economista irlandês Philip Lane. Já o Governo de Angela Merkel quererá, de acordo com o "Die Zeit", que a Grécia permaneça no euro mesmo que entre em incumprimento com os credores. Isto, na condição de que, após quase três meses de negociações muito amadoras, saiam de Atenas propostas e compromissos credíveis de reforma.
Fundamental, diz por seu turno Luís Amado, é garantir que a Europa não vai recuar, mesmo que o euro mude de formato. Numa altura em Atenas se aproxima de Moscovo, contestando as sanções europeias impostos no rescaldo da anexação da Crimeia, e a ameaça do "Estado islâmico" se alastra, o ex-MNE diz que "a desintegração europeia seria uma catástrofe para o continente e para o mundo". Por isso, acrescenta, "acredito que o euro – independentemente da sua configuração – subsistirá como elemento comum federador. Se o euro se salvar, o processo de integração será reforçado".
A Grécia sai do euro?
Deve a Grécia ser mantida no euro em nome da integridade europeia ou, como avisa o comissário Moscovici, esse não é um desígnio que deva prevalecer a "qualquer preço"?
E o Reino Unido, fica na união Europeia?
Os britânicos vão às urnas em 7 de Maio. Se os conservadores vencerem serão chamados a referendar a continuidade na UE. Fica assim aberto um precedente que a Frente Nacional diz querer repetir em França se vencer as presidenciais de 2017.
Mais integração? Como e até onde?
Num cenário de saída da Grécia, deve a Zona Euro avançar num modelo mais federal para travar uma espiral de desintegração? Fazer o quê e como? Quererão os Governos europeus mais Europa? E os cidadãos europeus?
A geo-política vai forçar mudanças?
A Europa diz que proteger-se da Rússia significa, desde logo, maior independência em termos energéticos.
É preciso investir. Onde? Em que fontes? Com que dinheiro?