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Passos privilegia rendimento das empresas, Costa das famílias

O primeiro-ministro, Passos Coelho, e o líder da oposição, António Costa, assumiram uma divergência fundamental sobre qual a estratégia de crescimento mais eficaz para o país.

Bruno Simão/Negócios
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Que o PS apresentaria o seu programa eleitoral a 6 de Junho já se sabia. A razão da escolha é que é novidade: passaram quatro anos e um dia desde as eleições de Junho de 2011, que deram a vitória ao PSD e à coligação que governa deste então. "Nós seremos uma alternativa", prometeu António Costa sexta-feira, 17 de Abril, numa conferência organizada pelo Negócios. Cerca de duas horas depois, vindo do Parlamento onde defendeu o seu Programa de Estabilidade, Pedro Passos Coelho não se inibiu: defendeu o essencial das escolhas dos últimos anos, e a fechar os trabalhos, comprou a divergência com o

Sei que é polémico e sei que há outras opções, que passam por fazer desagravamentos às famílias em vez de fazer às empresas [...] Nós achamos que o caminho é o de desagravar a fiscalidade para toda a gente, mas de forma muito assertiva em relação às empresas. 
Pedro Passos Coelho
Primeiro-ministro

líder socialista, defendendo que o país beneficiará de "uma clareza de opções" nas próximas eleições.


Na resposta ao repto da conferência – intitulada "Caminhos do Crescimento" – os dois responsáveis ofereceram à audiência de empresários e gestores duas alternativas para a promoção do prosperidade nacional. E nelas residem perspectivas distintas: um privilegia o alívio fiscal sobre as empresas para que estas possam criar emprego, capitalizar-se e atrair investimento estrangeiro; o outro dá prioridade à reposição de rendimentos das famílias, confiando que só assim será possível dinamizar a actividade económica e assegurar um futuro às empresas e atrair capital estrangeiro.


Passos Coelho salientou o "apoio extraordinariamente forte" que o seu Governo tem dado "à economia privada", no quadro de uma "estratégia" que visa facilitar a vida às empresas. "Por isso", disse, se escolheu "a redução do IRC, o crédito fiscal ao investimento" e outras medidas que visaram promover o investimento e capitalização empresarial. "Não se cresce sem capital", afirmou.


O primeiro-ministro reafirmou que a estratégia é para continuar: "Temos de manter a estabilidade dessas políticas". E acrescentou: "Sei que é polémico e sei que há outras opções, que passam por fazer desagravamentos às famílias em vez de fazer às empresas". Esse não é no entanto o caminho do PSD: "Nós achamos que o caminho é o de desagravar evidentemente a fiscalidade para toda a gente na medida das possibilidades, mas este [desagravamento] deve ser feito de forma muito assertiva em relação às empresas". Porquê? "Se não o fizermos não conseguimos assegurar a mudança estrutural de atracção de investimento que gera riqueza e emprego", defendeu, garantindo que mais vale continuar a desagravar a carga fiscal sobre as companhias do que, por exemplo, eliminar de uma vez a sobretaxa de IRS.


António Costa não concorda, e deixou-o claro num discurso em que apresentou as linhas gerais do programa eleitoral, que terá como uma das prioridades a "recuperação de rendimentos" das famílias através do "cumprimento integral" das decisões do Tribunal Constitucional sobre pensionistas e funcionários, do combate à pobreza e do aumento do salário mínimo. É que, continuou, "a melhoria da confiança das empresas passa pela melhoria das expectativas de procura, interna e externa, acompanhada da melhoria das condições de investimento", a qual deverá ser suportada por um programa de "capitalização de empresas" com incentivos fiscais ao investimento de sócios e um fundo público de recapitalização.


Para pré-arranque de campanha eleitoral, os dois partidos do bloco central parecem apostados em afirmar diferenças. O tempo e os respectivos programas eleitorais testarão a consistência das propostas.

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