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Captar imigração e atrair emigrantes vai gerar riqueza

É preciso aumentar a população, concordam banqueiros e economistas. Horta Osório apela a uma “política inteligente de imigração”. Caldeira Cabral e José Eduardo Martins defendem atracção de emigrantes. Vítor Bento alerta para perigo do envelhecimento.

Bruno Simão/Negócios
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Portugal tem de "pensar além das reformas estruturais" para poder ambicionar "um crescimento sustentável". "Temos de definir uma política de imigração inteligente, que atraia pessoas qualificadas", defendeu António Horta Osório, presidente do Lloyds Bank, na conferência "Os Caminhos do Crescimento", organizada pelo Negócios. Para o banqueiro, "uma política de imigração inteligente" permitirá atrair "pessoas inteligentes que contribuirão para o crescimento da economia" do País. E ajudará a resolver o problema da "população estagnada e a descer" que, do seu ponto de vista, é um dos obstáculos ao aumento da riqueza.

Precisamos
de ter gente qualificada. Isso significa atrairmos emigrantes. 
José Eduardo Martins
Advogado da Abreu Advogados


"Temos de pensar em como a natalidade e a imigração permitirão aumentar o tamanho da população do País", defendeu Horta Osório. E para mostrar que é possível definir uma política de atracção de pessoas qualificadas com sucesso deu o exemplo de Singapura, que foi criada a partir do zero em 1960 e hoje é uma economia em crescimento.


Também José Eduardo Martins, sócio da Abreu Advogados e secretário de Estado do Governo de Durão Barroso, apontou a reduzida dimensão do País como um obstáculo ao crescimento. Portugal tem "um país deserto", lamentou. "Precisamos de ter gente qualificada. Isso significa atrair emigrantes", sublinhou na conferência do Negócios. "No Norte [da Europa], conseguem ser um país de velhinhos ricos, já um país de velhinhos pobres…".


Mas fazer regressar os portugueses jovens que emigraram nos últimos anos pode representar outro problema, como avisou Manuel Caldeira Cabral, professor da Universidade do Minho .


"Quando a primeira opção dos melhores é sair, isso é mau. Quando o salário médio dos novos empregos é 582 euros, eles vão e não voltam", alertou o membro da equipa de economistas que está a desenhar o cenário macroeconómico para o Partido Socialista.


"Quem esteja a ganhar três mil euros vai voltar a Portugal para ganhar mil? Gostava que me mostrassem o estudo económico que me diga que isso vai acontecer. É um problema que temos de inverter, mas que devíamos ter evitado criar em primeiro lugar", lamentou Caldeira Cabral.

 

Envelhecimento é entrave ao crescimento
O desequilíbrio demográfico resultante do envelhecimento da população europeia e portuguesa é um dos entraves ao crescimento identificados por Vítor Bento.


"Provavelmente, vamos ter que viver com crescimentos muito baixos porque a demografia não permite mais. E uma das razões porque provavelmente há um investimento muito baixo é exactamente por isso: as previsões demográficas são muito desfavoráveis", admitiu o presidente não executivo da SIBS.


"A Europa tem neste momento um excesso de poupança sobre o investimento. Provavelmente tem, em termos globais, uma poupança excessiva para aquilo que são as suas necessidades, mas ao mesmo tempo há um défice de investimento na Europa como um todo", constatou o economista.


Na opinião de Vítor Bento, a solução deverá passar por "arranjar mecanismos para canalizar esse excesso de poupança para os sítios onde o investimento é mais necessário, nomeadamente nos países periféricos". Até porque, apontou, é nessas economias que o investimento pode produzir maior convergência económica". 

 
A dívida, as reformas e a confiança
Horta Osório ainda vê alguns riscos ao crescimento da economia nacional. A elevada dívida das empresas é um problema e a necessidade de reformas estruturais mantém-se. Mas há mais confiança.
 

Dívida das empresas ainda é problema
"Em Portugal a dívida aumenta, apesar da queda da dívida das famílias", o que se deve à subida da dívida pública e também ao endividamento das famílias, que não diminuiu nos anos de ajustamento, apontou Horta Osório. Para o banqueiro, é por causa da elevada dívida das empresas que o programa de "quantitative easing" que o Banco Central Europeu tem em marcha não será benéfico para o tecido empresarial português. "Não estou convencido que tenha impacto no crédito às empresas porque as empresas estão demasiado endividadas", alertou.

 

Reformas têm de continuar
O líder do Lloyds recomenda que Portugal não abandone o caminho das reformas estruturais. "Para haver crescimento sustentável tem de haver reformas estruturais, que nos permitirão sermos mais competitivos e aumentar a riqueza. Só as reformas estruturais podem aumentar as exportações". Horta Osório deixou mesmo um recado para os líderes partidários, a menos de seis meses das próximas eleições legislativas: "um programa de Governo credível terá de ir nesta direcção".

 

Programa do BCE está a dar confiança
Apesar dos desequilíbrios que subsistem, Horta Osório antevê um aumento da confiança em resultado do programa de expansão monetária do Banco Central Europeu. "O ‘quantitative easing’, está a ter um impacto importante nos juros e no euro", sublinhou o banqueiro, constatando que a desvalorização do euro e e redução das taxas de juros "terá um efeito positivo no reforço da confiança", contribuindo para o aumento da procura.

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