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A Zona Euro ficou mais desequilibrada com a resposta à crise?

Espanha, Irlanda e Portugal concluíram os seus programas de ajustamento, estão de regresso aos mercados e corrigiram alguns desequilíbrios. Mas outros acentuaram-se no seio do euro.

16 de Abril de 2015 às 00:01
Reuters
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"A situação de 2014 é, do ponto de vista macroeconómico, pior do que era em 2008 e caracteriza-se por um duplo desequilíbrio – interno (elevado desemprego) e externo (excedente). Qualquer manual de macroeconomia dirá que tal situação reflecte uma insuficiência da procura interna. E de facto, a procura interna da Zona Euro como um todo é actualmente 3,4% inferior à registada em 2008". A conclusão foi recentemente  divulgada num  artigo publicado no Observador por Vítor Bento que, na conferência anual do Negócios que terá lugar nesta sexta-feira, contracenará com António Vitorino no debate sobre "Os caminhos para o crescimento" na Europa.


A conclusão do economista não chega a constituir uma surpresa – menos ainda para o próprio. O  ajustamento  nos países da periferia que perderam em 2010 e 2011 acesso aos mercados financeiros foi realizado num contexto em que também os países do centro – em particular a Alemanha – apertaram o cinto à despesa pública. A cura de austeridade corrigiu alguns desequilíbrios, mas ao ser generalidade gerou outros, e terá tornado mais grossas novas linhas de fractura na Zona Euro. Nos países do Sul concentram-se hoje os recordes de desemprego, de endividamento e de baixo potencial de crescimento, o que constituirá, em si, uma nova ameaça à sobrevivência do euro.


E como se sai daqui? No plano mais imediato, o FMI tem vindo a recomendar, em particular a Berlim, o aumento do investimento para aumentar o potencial de crescimento da maior economia europeia, o que ajudaria também a aumentar, desde logo, a procura europeia. O Governo alemão diz "sim" ao investimento privado, mas torce o nariz a abrir os cordões à bolsa do Orçamento que, pela primeira vez desde a reunificação, será equilibrado neste ano, permitindo que se comece a abater à dívida pública, superior a 90% do PIB. Berlim parece querer continuar a dar o exemplo na frente da estabilidade orçamental, numa altura em que o Tratado Orçamental dá os primeiros passos e o outro "motor" da integração europeia – a França – continua a revelar enormes dificuldades em controlar o seu défice dentro do velho limite máximo de 3% inscrito no Tratado de Maastricht.  

 

O "plano Juncker", que promete viabilizar 300 mil milhões de euros de novos investimentos nos próximos três anos, é, por ora,  a resposta colectiva europeia ao problema da insuficiente procura, e tenderá a ser concentrado num outro fim, geo-estratégico: em fontes e redes alternativas para reduzir a dependência energética face à Rússia, quando se teme que Putin queira reescrever o mapa da Europa.


Mas há quem defenda que é preciso ir mais longe, e avançar o quanto antes (e com urgência, se a  Grécia sair do euro) com novos mecanismos de integração. A partilha dos custos do desemprego (mutualizar dívida exigirá a revisão de Tratados, processo sempre longo e incerto), a troco da promessa de reformas estruturais impopulares (pensões, por exemplo)  poderá ser a etapa menos difícil de cumprir.

 
Perguntas à espera de respostas
O futuro próximo da UE e da Zona Euro passa pelas respostas que forem dadas a inúmeras interrogações e que, no limite, poderão puxar o projecto para um modelo mais federal mas também empurrá-lo para a desagregação.
 

A Grécia sai do euro?
Deve a Grécia ser mantida no euro em nome da integridade europeia ou, como avisa o comissário Moscovici, esse não é um desígnio que deva prevalecer a "qualquer preço"?

 

E o Reino Unido, fica na união Europeia?
Os britânicos vão às urnas em 7 de Maio. Se os conservadores vencerem serão chamados a referendar a continuidade na UE. Fica assim aberto um precedente que a Frente Nacional diz querer repetir em França se vencer as presidenciais de 2017.

 

Mais integração? Como e até onde?
Num cenário de saída da Grécia, deve a Zona Euro avançar num modelo mais federal para travar uma espiral de desintegração? Fazer o quê e como? Quererão os Governos europeus mais Europa? E os cidadãos europeus?

 

A geo-política vai forçar mudanças?
A Europa diz que proteger-se da Rússia significa, desde logo, maior independência em termos energéticos.
É preciso investir. Onde? Em que fontes? Com que dinheiro?  

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