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Merkel avisa que a "recolocação selectiva" dos refugiados não é suficiente

A chanceler alemã considera que a distribuição "selectiva" de 120 mil refugiados não chega para solucionar um problema que está "longe" de ser resolvido. Merkel defende um mecanismo permanente de distribuição dos refugiados. Depois das cimeiras, Europa continua dividida.

Angela Merkel é a Mais Poderosa 2015
A famosa pergunta que terá sido feita por Kissinger passou a ter resposta inequívoca. É a Angela Merkel que se telefona quando se precisa de resolver um problema na Zona Euro, na Europa, e até além dela. O seu poder é mais visível nos momentos difíceis. E é por isso que  regressa ao pódio em 2015. Foi ela que teve na mão a chave de soluções, embora precárias, para dilemas globais: a guerra na Ucrânia, a crise grega e o drama humano dos refugiados e imigrantes.
24 de Setembro de 2015 às 13:59
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No dia seguinte à cimeira de líderes europeus que aprovou o aumento do financiamento a programas internacionais e fundos que apoiem  no terreno os refugiados, a chanceler alemã sustentou que a União Europeia (UE) apenas "deu o primeiro passo" para resolver o problema, "mas ainda estamos longe do ponto onde deveríamos estar".

 

Angela Merkel, que discursou esta quinta-feira, 24 de Setembro, no Parlamento alemão, lamentou assim as divisões entre os Estados-membros da UE relativamente às crises migratória e dos refugiados e garantiu que a distribuição voluntária não é suficiente.

 

Depois de os ministros europeus do Interior terem, na terça-feira, aprovado por maioria a distribuição, através de quotas não obrigatórias, de 120 mil refugiados que permanecem em campos de acolhimento na Grécia, Itália e Hungria, Merkel diz estar "profundamente convencida de que aquilo que a Europa precisa não é apenas da recolocação selectiva [de migrantes], mas de um processo permanente de distribuição justa dos refugiados pelos Estados-membros" da União.

 

A governante germânica mostrou o seu desânimo face à incapacidade europeia para encontrar uma resposta comum e abrangente para o problema, apontando mira ao grupo de Visegrado (Hungria, República Checa, Polónia e Eslováquia), e também à Roménia, que têm reiterado a sua oposição à definição de quotas compulsórias para o acolhimento de refugiados. O primeiro-ministro eslovaco chegou mesmo a dizer, de antemão, que não cumpriria a quota definida por Bruxelas. Já a Polónia, que na terça-feira mudou a orientação de voto para apoiar o plano da Comissão Europeia, aceitou cumprir a quota desde que a mesma não fosse obrigatória.

 

Aquilo que Angela Merkel considera ser apenas um "primeiro passo" foi ontem aprovado, em Bruxelas, pelos líderes europeus e passa por garantir um financiamento de pelo menos mil milhões de euros para apoiar o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), liderado por António Guterres, e o Programa Alimentar Mundial. Assegurar maior apoio ao Líbano, Jordânia e Turquia, países inundados pelo afluxo de migrantes e refugiados que fogem dos cenários de guerra em países como a Síria, Iraque e Afeganistão, foi outra medida aprovada.

 

A forma como enfrentarmos esta crise irá
moldar a Europa para o longo prazo

Angela Merkel

A UE decidiu também incrementar a cooperação com a Turquia, principal porta de entrada na Europa para os migrantes provenientes do Médio Oriente, e aumentar a assistência aos países dos Balcãs, região que se tornou na principal rota de acesso ao centro da Europa. O reforço do controlo fronteiriço, algo que também a própria Alemanha defende e já implementou, e o financiamento de mais forças securitárias nas fronteiras mais expostas foram outras medidas aprovadas. Por fim, ficou agendada para Outubro uma nova cimeira para discutir o tema e que deverá contar com a presença do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan.

 

No entanto, Angela Merkel demonstrou um sentimento algo dividido face à forma como a situação está a ser encarada. Depois de considerar que na cimeira de ontem os líderes "reconheceram a escala do problema e enviaram um sinal de unidade", Merkel criticou, em pleno Bundestag, que alguns países tenham sido incapazes de assegurar "patamares mínimos para o acolhimento e cuidado de refugiados na Europa. No entender da governante alemã, apontada por muitos como a única personalidade europeia que tem demonstrado estar à altura do problema, "a forma como enfrentarmos esta crise irá moldar a Europa para o longo prazo". Nesse sentido, lembra que "as oportunidade são muito maiores do que os riscos" e pede o apoio "dos nossos parceiros transatlânticos, Estados Unidos, bem como da Rússia e dos estados do Médio Oriente" para contribuírem para a resolução do problema na origem.


ACNUR mostra "desapontamento" face à resposta europeia

 

Também a ACNUR revelou "desapontamento" pelo facto de a Europa não ter conseguido acordar novas medidas que permitissem aos migrantes chegar a solo europeu em condições de maior segurança. Ainda assim, esta agência reconhece que apesar "de o plano de recolocação não colocar um ponto final ao problema, irá ser, se tudo correr bem, o início de uma solução".

 

As críticas à incapacidade da Europa para se mostrar unida vêm de vários dirigentes. O primeiro-ministro belga, Guy Verhofsadt, lamenta que os líderes europeus tenham fracassado na resolução "desta crise humanitária" e defendeu a adopção de "políticas de asilo e migração comuns". Já Frans Timmermans, primeiro vice-presidente da Comissão Europeia, avisou que perante a falta de uma resposta europeia adequada, a Europa terá de lidar com o crescimento de forças de extrema-direita e populistas.

A maior maré de refugiados e migrantes está ainda por chegar.
Donald Tusk


Contudo, o tom crítico sopra em sentidos diversos. Já esta manhã, a Hungria, que depois de concluir a construção de um muro ao longo da fronteira com a Sérvia está já a levantar um novo muro junto à Croácia, assinalou a sua frustração pela impossibilidade revelada pela UE para definir políticas relativas ao reforço do controlo das fronteiras. E a Croácia, que depois de Budapeste ter encerrado a sua fronteira com a Sérvia viu crescer exponencialmente o afluxo de migrantes, para cerca de 50 mil neste período, aponta agora baterias à Sérvia tendo decretado a proibição da entrada de cidadãos e veículos sérvios no país.

As medidas restritivas implementadas pela Hungria junto à Sérvia colocaram em causa a rota dos Balcãs, utilizada pelos migrantes que depois de chegarem à Europa através da Turquia, se encaminham de seguida para a Grécia, Macedónia e Sérvia, num trajecto que culminava na rota Hungria-Áustria-Alemanha. Colocada em causa esta rota por Budapeste, o movimento migratório tem vindo a reorientar-se para a Croácia.

Esta crise está longe de ser resolvida. Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, avisou ao início da última madrugada que "a maior maré de refugiados e migrantes está ainda por chegar". Esta manhã a polícia húngara revelou que ontem foi registado um novo recorde diário com a chegada de mais de 10 mil migrantes ao país. E esta quinta-feira, as autoridades gregas registaram o desembarque, em menos de uma hora, de cerca de mil migrantes.  

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