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Alemanha mostra o seu lado luminoso no acolhimento aos refugiados

Munique inundada de donativos, brinquedos distribuídos às crianças, bancadas de estádios de futebol vestidas com faixas a dar as "boas-vindas", gente a aplaudir a chegada de autocarros, exército mobilizado para construir abrigos. No acolhimento aos refugiados, o lado luminoso da Alemanha está a tentar ofuscar o outro lado.

Reuters
02 de Setembro de 2015 às 18:26
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Os recentes confrontos entre e a polícia antimotim e os neonazis que protestavam contra um centro de refugiados em Hidenau, no leste da Alemanha, chocaram e deram a volta ao mundo – até porque há registo de quase 200 actos semelhantes só neste ano. Mas haverá uma maioria mais silenciosa que passa menos nas tv’s e que quer – e está – a fazer muito diferente.

Relata o "Independent" que a cidade de Munique foi nesta quarta-feira, 2 de Setembro, inundada de donativos destinados às centenas de refugiados que estão a chegar de comboio vindos de Budapeste, a ponto de polícia se ter visto forçada a pedir por duas vezes para que a população não trouxesse mais alimentos, nem roupa, nem produtos de higiene, nem brinquedos, nem fraldas para bebés.

A onda de solidariedade surgiu depois de a Polícia de Munique ter usado a sua conta oficial no twitter para anunciar pela manhã que estavam cerca de 590 refugiados na principal estação ferroviária da cidade, acrescentando: "Quem quiser ajudar é bem-vindo." Ao início da tarde, teve de emitir um pedido educado para que "por favor, não trouxessem mais donativos", para depois ser obrigada a reforçar a mensagem: "As doações existentes para os refugiados presentes e para aqueles que ainda estão a chegar são suficientes. Obrigado Munique".

 

Munique tem acolhido milhares de requerentes de asilo e migrantes, sobretudo sírios e iraquianos, que chegam de comboio da Hungria depois de entrarem na Europa através dos Balcãs. Em Budapeste, muitos continuam retidos, depois de as autoridades húngaras terem suspendido temporariamente as partidas internacionais para a Alemanha para tentar fazer o seu recenseamento e alguma triagem.

A onda de solidariedade para com os refugiados da Síria tem sido promovida pelo governo de Angela Merkel, que decidiu acolher todos os seus nacionais e mobilizou o exército para construir abrigos. O Ministério do Interior antecipa que 800 mil refugiados procurarão ao longo deste ano a protecção da Alemanha – quatro vezes mais que em 2014 e mais do que qualquer outro país europeu.

"Se a Europa fracassar na questão dos refugiados, se esta ligação próxima com os direitos humanos universais se quebrar, então esta não será a Europa que desejámos", advertiu nesta semana a chanceler, ao pedir aos demais países europeus que assumam a responsabilidade de receber uma "quota justa".


A imprensa – incluindo o "Bild", o rei dos tablóides, que hoje questiona porque é que tantos depositam as suas esperanças na "mama Merkel" – tem igualmente defendido o dever de acolher quem foge para proteger a sua vida, depois de ter feito igualmente campanha aberta contra o Pegida (Patriotic Europeans against the Islamization of the Occident), que desde Outubro de 2014 organiza demonstrações públicas contra o governo alemão e aquilo que considera ser a islamização do Ocidente.

Nas redes sociais, são também cada vez mais frequentes a troca de fotografias e de vídeos a testemunhar a solidariedade do povo alemão. No último domingo, algumas bancadas de estádios de futebol foram vestidas com faixas a dar as "boas-vindas aos refugiados". E há imagens da população a aplaudir a chegada de autocarros filmadas a partir do seu interior, por refugiados, que as partilham com a hastag "Danke_Deutschland".

Num longo artigo em que descreve as posições antagónicas que a imigração suscita no país e os riscos dessa fractura ser agora ampliada, a Der Spiegel refere o exemplo de um casal de reformados que criou uma rede de apoio para ajudar os recém-chegados, designadamente com as formalidades burocráticas – o alemão está longe de ser uma língua franca – para concluir que se está perante um "movimento popular nunca antes visto na Alemanha".

"No início da década de 1990, houve uma vaga de pessoas dispostas a ajudar os refugiados que chegavam ao país para escapar da guerra na Jugoslávia, mas não foi tão ampla nem numerosa quanto esta", diz Olaf Kleist, pesquisador do Centro de Estudos de Refugiados da Universidade de Oxford, à revista alemã. "É uma clara indicação de que a sociedade alemã está disposta a mudar. É cada vez mais curiosa e aberta ao que vem de fora, à novidade", analisa.

"Há a sensação na Alemanha de que o país mudou num único Verão", escreve também o Guardian numa reportagem alargada sobre o acolhimento alemão aos refugiados.

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