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Televisão húngara "aconselhada" a não transmitir imagens de crianças refugiadas

Uma nota editorial enviada aos trabalhadores da estação televisiva estatal húngara apela a que não se inclua imagens de crianças nas reportagens e notícias sobre imigrantes e refugiados que chegam todos os dias à Hungria.

REUTERS
01 de Setembro de 2015 às 20:00
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O canal estatal televisivo húngaro M1 emitiu uma nota editorial onde dá a indicação aos seus jornalistas e repórteres de imagem para que não recolham imagens de crianças refugiadas. A decisão do canal, que é a estação nacional mais vista, terá sido tornada pública através da circulação de uma foto da nota editorial, escreve o jornal britânico The Guardian. 

A autoridade húngara reguladora da comunicação, MTVA, já disse que a medida se destina a proteger as crianças, negando as acusações de que se trata de uma tentativa de limitar e influenciar a simpatia e solidariedade dos cidadãos húngaros para com os refugiados que atravessam todos os dias a fronteira.

Um jornalista que não quis ser identificado, e que é apoiante do Governo húngaro, disse ao The Guardian que o número de crianças registado na Hungria é "razoavelmente baixo, e em alguns meios de comunicação, a sua representação chega a ser excessiva", quando comparada com os registos oficiais.

A notícia chega numa altura em que as autoridades húngaras encerraram temporariamente Keleti, principal estação de comboios internacionais de Budapeste, capital da Hungria. Uma das motivações que levou ao encerramento temporário, e entretanto já normalizado, terá sido a chegada de cerca de 3.500 refugiados esta terça-feira, 1 de Setembro, ao sul da Alemanha. A origem do trajecto terá sido justamente a estação de Keleti, em Budapeste, de onde partiu o maior número de requerentes de asilo à Alemanha registado no espaço de 24 horas desde o início da crise migratória na Europa.

Para tentar travar a entrada de imigrantes, a Hungria terminou no sábado, 29 de Agosto, a construção de um muro de arame farpado com um metro e meio de altura e 175 quilómetros de extensão na fronteira com a Sérvia, e está a construir outro, que terá quatro metros de altura e que deverá estar concluído em Novembro.



O jornal britânico conta ainda que o canal estatal tem elaborado reportagens onde mostra a lotação que ocupa a estação de comboios de Budapeste, mas não reproduziu os protestos contra as políticas nacionais de contenção dos refugiados.

Entre os grupos que condenam a acção do Governo de Victor Orbán, primeiro-ministro húngaro, está o grupo de solidariedade e apoio MigSzol. Em anteriores declarações ao Negócios, o grupo explicava que a maioria dos imigrantes que chega à Hungria vem do Kosovo, da Síria, do Afeganistão e do Iraque. "Mais de 90% das pessoas que pedem asilo no país só o fazem por serem detidas na fronteira e saem da Hungria assim que têm hipótese", contou Amy Rodgers, membro do grupo húngaro de apoio aos refugiados. 


A mesma fonte alega que o trabalho desenvolvido por esta organização não-governamental "é muito político e aproveita a questão dos refugiados para propaganda anti-Governo", pelo que não tem lugar na cobertura mediática. Na página de Facebook do grupo MigSzol podem ver-se vídeos de manifestações a ocorrer em frente à estação ferroviária Keleti.

Num relatório realizado em 2014, apenas 3% dos húngaros considerava a imigração um problema. Um novo resultado publicado esta semana mostra que o número subiu para 66% e que apenas 19% acredita que o país tem o dever de aceitar os pedidos de ajuda.

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