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Líderes europeus desdobram-se em encontros e declarações sobre crise de refugiados

Já não há forma de fugir à crise humanitária em torno dos imigrantes e refugiados políticos. Principais países pressionam políticas comuns e desdobram-se em declarações e encontros.

Reuters
30 de Agosto de 2015 às 19:32
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Os líderes europeus desdobraram-se este domingo, 30 de Agosto, em declarações e anúncios de encontros sobre o tema que está a marcar a sua agenda internacional: a crise dos imigrantes e, em particular, dos refugiados políticos. Todos os dias, milhares tentam entrar, da forma mais desesperada, na Europa, fugindo da guerra, da fome e de perseguições políticas. Apesar do choque com as imagens dramáticas que diariamente são transmitidas nas televisões e dos números, referidos pela Reuters, que dão conta de pelo menos 2.500 imigrantes mortos na sua desesperada tentativa de cruzar fronteiras, os governos europeus estão longe de um consenso mínimo sobre esta matéria.

Perante isto, e dada a situação de urgência que se vive, os ministros do Interior francês, alemão e britânico apelaram à realização de uma reunião com os seus homólogos europeus "nas próximas semanas". O objectivo é preparar o encontro do Conselho de Justiça e Interior, previsto para 8 de Outubro, de modo a permitir que se avance com "propostas concretas".

A resposta chegou algumas horas depois, pela mão do governo luxemburguês que tem a presidência rotativa da União Europeia. "Com o objetivo de avaliar a situação no terreno, as ações políticas em curso e discutir novas iniciativas para reforçar a resposta europeia, o ministro da Imigração luxemburguês, Jean Asselborn, decidiu organizar um Conselho de Justiça e Assuntos Internos extraordinário", para o próximo dia 14, lê-se num comunicado noticiado pela agência Lusa.

Mas antes disso, haverá muitas outras reuniões. Já esta segunda-feira, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, desloca-se a Berlim para se reunir com Merkel. Segundo a agência Lusa, entre os principais temas a discutir nos encontros estará a crise migratória na Europa. E no final da semana, David Cameron virá a Portugal e Espanha. Em cima da mesa estará a agenda de reformas da União Europeia e, necessariamente, a crise de imigração.

 

Portugal recebe "pouco mais de 1.400 refugiados"

Segundo Passos Coelho, Portugal deverá receber "pouco mais de 1.400 refugiados", um número que fica consideravelmente abaixo da proposta da Comissão Europeia e que o governo português considerou ser exagerado. "O valor que tem estado em cima da mesa e que tem nesta altura a nossa concordância é pouco mais de 1.400 [refugiados]", disse o primeiro-ministro, na semana passada, citado pelo Público.

A abordagem do governo suscitou críticas internas. Neste sábado, na abertura do Fórum Socialismo do Bloco de Esquerda, a eurodeputada Marisa Matias criticou duramente a política de Portugal face aos refugiados. "Portugal tinha uma quota para recepção de 15 refugiados em 2013, e de 45 refugiados em 2014, e em nenhum dos casos as cumpriu. Dos 45 relativos a 2014 não chegou ainda um", acusou esta sexta-feira. E para 2015, Marisa Matias lamenta que o governo tenha negociado uma redução do número de refugiados a acolher. "Passos Coelho não devia ter regateado vidas", disse.

 

Principais governos pressionam posição comum

Mas as declarações não ficaram por aqui. Alemanha, França, Itália e Reino Unido fizeram questão de passar vários recados este domingo. E alguns foram além dos recados, passando autênticos raspanetes. Foi o caso do ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, que classificou de "escandalosa" a atitude de alguns países do Leste da Europa, em particular a Hungria, perante a vaga de refugiados. "Em relação às pessoas que são politicamente expulsas dos seus países temos de ser capazes de os receber", disse Fabius à Europe 1 Radio. "Todos os países têm de responder a isso. França, Alemanha e outros responderam, mas quando vejo alguns países que não aceitam estes grupos, acho isso escandaloso". As suas palavras foram especialmente duras com a Hungria: "A Hungria não está a respeitar os valores comuns europeus pelo que as autoridades europeias têm de ter uma discussão séria com os seus responsáveis".

A Hungria não está a respeitar os valores comuns europeus pelo que as autoridades europeias têm de ter uma discussão séria com os seus responsáveis".
Laurent Fabius, ministro francês dos Negócios Estrangeiros



Em causa está a intenção da Comissão Europeia em distribuir os requerentes de asilo político pelos vários países europeus, de modo a aliviar os países que estão mais expostos, tal como Itália ou a Grécia. Porém, esta proposta está longe de reunir consenso, motivando inclusivamente a hostilidade de países como a Hungria, Áustria, Eslováquia e Eslovénia.

Também o primeiro-ministro italiano falou, numa entrevista ao jornalCorrieredellaSera, publicada este domingo.

Pode levar meses, mas teremos uma única política europeia de asilo político.
Matteo Renzi

"É altura de lançarmos uma ofensiva política e diplomática", apelou Matteo Renzi, citado pela agência Reuters, mostrando-se optimista quanto aos resultados: "pode levar meses, mas teremos uma única política europeia de asilo político". O líder do governo italiano, muito pressionado pelos imigrantes que tentam cruzar o Mediterrâneo, foi uma das primeiras vozes críticas sobre a ausência de uma política comum e concertada da União Europeia.

Igualmente o governo alemão, que irá acolher pelo menos 800 mil pessoas este ano, se pronunciou este domingo, pedindo maior solidariedade na Europa.
"A Alemanha e outros poucos países são de longe os que recebem um maior número de refugiados", disse um porta-voz governamental. "Tem de haver uma distribuição mais justa dos refugiados, com maior solidariedade", apelou Steffen Seibert, segundo a Reuters.

Na véspera, o vice-chanceler Sigmar Gabriel já tinha lançado o alerta, lembrando que a Europa corre o risco de falhar perante esta "desgraça".

 

A Alemanha e outros poucos países são de longe os que recebem um maior número de refugiados [...]. Tem de haver uma distribuição mais justa dos refugiados, com maior solidariedade.
Steffen Seibert, porta-voz do governo alemão


Do Reino Unido, que tem tido uma posição dissonante face à política de imigração defendida pelos principais países europeus, também vieram palavras sobre este tema. Num artigo publicado no The Sunday Times, a ministra britânica do Interior, criticou o sistema europeu de fronteiras (acordo de Schengen), que na sua opinião contribuiu para que se chegasse a esta situação dramática.
 

(Notícia actualizada com mais informação às 20:20)

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