"A produção de vinho não é suficiente para o conjunto do consumo no país e das exportações, e o país necessita importar vinho para compensar a diferença", resume Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, que não tem, contudo, dúvidas que um dos problemas atuais se prende "com o volume de importação, que é superior às necessidades, entrando vinho a um preço inferior aos nossos custos de produção". Os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes à última década corroboram o cenário, ao indicarem que em Portugal o consumo e a exportação são superiores ao total produzido em todas as regiões, mas que o país continua a importar mais do que seria necessário. No ano passado o INE concluiu que a produção foi de 754 milhões de litros para um mercado que, entre exportação e consumo, absorveu 1.050 milhões. Essa diferença é compensada com a importação de vinho, a esmagadora maioria espanhol, mas ao longo da última década acima da procura.
De Norte a Sul do país, os produtores estão atentos à situação. Para Adrian Bridge, CEO da Fladgate, o eventual excesso de vinho no mercado "advém do facto de o setor continuar a reger-se por leis antiquadas e desajustadas à atualidade". Já Manuel Bio, presidente executivo da Abegoaria dos Frades, salienta que "Portugal tem tido nos últimos cinco anos produções médias e médias altas em quase todas as regiões, sendo que a pandemia agravou muito os ‘stocks’ nos produtores que vendiam quase exclusivamente para a restauração, o que, a par da redução do consumo de vinho tinto às refeições, levou a excedentes graves".
Manuel Marques da Cruz, presidente das Caves Santa Marta, garante que a sua empresa "não tem excesso de vinho, pelo contrário, os associados da cooperativa não produzem o suficiente para as necessidades de comercialização, particularmente de vinho de mesa".