Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Mario Draghi elogia Fed e prevê que políticas monetárias divergentes se mantenham

Numa conferência do Fórum Económico Mundial, em Davos, Mario Draghi falou sobre os actuais problemas da Europa e sobre as suas perspectivas para o futuro. Falou-se de inflação, da crise dos refugiados e da Grécia. De fora ficou o “Brexit”, o elefante na sala desta conversa.

Reuters
22 de Janeiro de 2016 às 14:29
  • 1
  • ...

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, elogiou o trabalho realizado pela Reserva Federal norte-americana na decisão de aumentar os juros, salientou que é "natural" que os bancos centrais tenham políticas monetárias divergentes e acredita que as coisas assim se mantenham por algum tempo.

"A decisão que a Fed tomou foi apropriada, considerando a orientação da economia norte-americana, perfeitamente comunicada e aplicada sem falhas", disse Mario Draghi durante uma conferência do Fórum Económico Mundial, a ter lugar na cidade suíça de Davos, quando questionado sobre o aumento dos juros realizado pela Reserva Federal dos EUA (Fed) em Dezembro de 2015, pela primeira vez quase uma década.

O responsável, que começou por dizer que normalmente não comenta "as decisões de outros bancos centrais", fez esta excepção por considerar o elogio "totalmente merecido".

Enquanto os EUA aumentam os juros, o Banco Central Europeu manteve esta semana a taxa de juro de referência em mínimos históricos. Draghi considera que "as diferentes políticas económicas reflectem os diferentes momentos das respectivas economias" e que, portanto, "é natural que as políticas monetárias sejam diferentes, e serão divergentes por um tempo".

Questionado sobre a turbulência que sacudiu os mercados no início deste ano, assumiu que "há uma grande sensibilidade ao risco", mas que "é muito cedo para falar de uma mudança de sentimento".

"No caso [europeu] vemos uma recuperação continuada, moderada, e impulsionada pelo consumo", disse, acrescentando que os motores desta recuperação são o preço do petróleo, as políticas orçamentais na Zona Euro e, sobretudo, a política monetária do BCE.

Draghi considera, porém, que há um quarto motor de recuperação a considerar no futuro e que se prende com "o provável aumento dos gastos governamentais" na Europa, necessários inclusivamente para fazer face à crise dos refugiados.

Se do lado das perspectivas de crescimento não considera existirem razões para uma mudança de sentimento, "do lado da inflação as coisas são diferentes", uma vez que "a situação dá menos razões para ser optimista no tempo presente".

Diz o responsável que a penalizar a inflação está "o colapso do preço do petróleo, mas também a revisão em baixa das perspectivas de crescimento dos mercados emergentes - que aliás estão a ter um impacto no petróleo e no preço das ‘commmodities’".

Questionado sobre se as pessoas esperam demasiado dos bancos centrais, Draghi salientou que os responsáveis destas instituições fazem "o melhor que conseguem", mas estão "limitadas por um mandato", o que, ainda assim, "não deve ser assumido como uma razão para não agir".

"A maior obrigação dos bancos centrais é agir com base no seu mandado, o que no nosso caso é assegurar a estabilidade de preços", disse.

No que concerne os refugiados, Draghi considera que esta crise "é tanto um desafio como uma oportunidade" para a Europa, mas que é ainda "prematuro saber quanto tempo demorará a transformar este desafio em oportunidade".

O responsável salientou a importância de se manter a confiança e a determinação europeias, uma vez que "o tamanho do desafio pode minar a confiança". "Os gastos governamentais necessários para lidar com este desafio serão um dos maiores investimentos públicos realizados desde há alguns anos", acrescentou.

Confiante de que a Europa se vai unir para lidar com esta crise, justificou o seu optimismo com "a inevitabilidade deste fenómeno".

Os desafios da Europa


Houve ainda tempo para falar sobre o resgate grego e sobre as reformas que o país atravessa.

"O governo grego fez progressos significativos em aplicar reformas" e "as negociações estão em curso neste momento", disse Draghi, salientando as que três questões mais prementes em cima da mesa, nomeadamente, "os objectivos orçamentais para 2018 e 2019", a "reforma do sistema de pensões - que será fundamental" e, por fim, a "reforma do sector financeiro grego".

Os processos de resolução bancárias que tiveram lugar em Portugal – com o BES e o Banif – também surgiram em conversa, a par de processos semelhantes em bancos italianos, mas Draghi não quis aprofundar as questões específicas de cada país. Este disse somente que "as situações são diferentes" em Portugal e na Itália.

"O BCE não é a autoridade de resolução, isso significa que a maneira como estes resgates estão a ser implementados depende da autoridade em causa, que até ao final do ano passado, era a autoridade nacional. Agora, há uma directiva uniforme que dita como implementar resgates da mesma forma em países diferentes. O meu desejo é que a directiva corrente seja transformada em regra", acrescentou.

Reflectindo sobre o projecto europeu e o que o ameaça, salientou que este "é um momento em que todo os líderes europeus estão a tentar orientar os cidadãos no sentido do interesse comum europeu", mas de forma "respeitadora e democrática".

"O que mudou com as crises foi que se percebeu que não pode haver um processo elitista [de convergência europeia], mas um processo totalmente democrático. E é por isso que quando as crises são resolvidas, as democracias emergem mais fortes e a viagem comum para uma União mais próxima está cada vez mais demarcada", concluiu.

De fora desta conversa, transmitida em directo através da internet, ficou a eventual saída do Reino Unido da União Europeia. "Eu prometi não lhe perguntar sobre um Brexit", disse o moderador, recebendo de Draghi um "sim, por favor, não o faça", com um sorriso.

Este é, no entanto um dos temas que está a marcar esta edição do Fórum Económico Mundial de Davos, com vários líderes europeus a manifestarem-se a favor da permanência do país no bloco europeu. 

Assista aqui à conversa com Mario Draghi em Davos:



Ver comentários
Saber mais Davos2016 Davos Fórum Económico Mundial economia mercados refugiados Europa Brexit Mario Draghi Fed
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio