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Os números do maior pessimismo do FMI
Os técnicos do FMI estão mais pessimistas sobre a evolução da economia e das contas públicas portuguesas. Veja que números que mais afastam Washington de Lisboa.
O Governo português começa a ficar cada vez mais isolado no optimismo com que encara os desenvolvimentos deste ano. Depois do Banco de Portugal, agora é a vez do Fundo Monetário Internacional (FMI) colocar alguma água na fervura.
Segundo o relatório da terceira avaliação pós-programa, os técnicos do Fundo esperam que a economia portuguesa cresça apenas 1,4% este ano. Menos 0,1 pontos do que em 2015 e do que a estimativa anterior do FMI apontava para 2016. Esse valor fica longe das contas de Mário Centeno, que espera que as medidas de estímulo ao consumo resultem num crescimento de 1,8% este ano. O Banco de Portugal apresenta uma previsão de 1,5%.
"Como a recuperação impulsionada pelo consumo está a perder o seu ímpeto, porém, o PIB deve crescer apenas 1,4% neste ano e moderar-se, recuando para 1,2% no médio prazo", pode ler-se no relatório.
Quanto ao investimento – Formação Bruta de Capital Fixo – é o FMI que faz a ponte entre o optimismo do Governo e o pessimismo do Banco de Portugal. O Fundo espera que avance 3%, a meio caminho entre os 0,7% do BdP e os 4,9% do Executivo de António Costa.
Na vertente externa, a situação muda de figura. Como prevê que o consumo e o investimento tenham aumentos mais modestos, o FMI tem de reflectir essa expectativa numa moderação das importações. Embora também esteja mais pessimista em relação às exportações, tudo somado (saídas menos entradas), as estimativas do FMI para a procura externa até são mais simpáticas para a economia portuguesa. Washington espera que as exportações cresçam 4,2% e as importações 4%.
Investimento e consumo puxam pelas importações – que penalizam o PIB -, logo o Governo espera mais dessa rubrica: um aumento de 5,5%. As exportações, por outro lado, só crescem 4,3% no cenário do Governo. Já o BdP é o que está mais pessimista em relação a ambos os indicadores, antecipando um crescimento de 2,2% das saídas e 2,1% das entradas.
No emprego, a realidade também é complexa. O FMI está mais optimista do que na sua última avaliação, divulgada em Agosto, prevendo uma taxa de desemprego de 11,6% este ano (a anterior estimativa era 12,9%). Ainda assim, esse valor não é tão ambicioso como os 11,3% do OE 2016. Por outro lado, o Fundo está mais optimista do que o Governo para a evolução do emprego (1% vs. 0,8%).
Em relação às contas públicas, voltamos a observar uma divergência substancial. O FMI diz que o défice orçamental deste ano ficará muito perto do limite dos 3% do PIB, nos 2,9%. Ou seja, 0,7 pontos percentuais mais pessimista do que o Governo (2,2%). Na dívida, a diferença é menos expressiva: Fundo espera 127,9% do PIB, o Ministério das Finanças 127,7%.