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Preços do petróleo já viram “melhores dias”
As cotações do chamado ouro negro estão com um saldo anual negativo, à semelhança do que aconteceu em 2023 e 2024.
As cotações do petróleo nos mercados internacionais tiveram saldo negativo nos últimos dois anos e 2025 também não começou da melhor maneira. O Brent do mar do Norte, que serve de referência às importações de Portugal, e o West Texas Intermediate (WTI) – "benchmark" para os Estados Unidos – seguem no vermelho no acumulado deste ano.
Apesar de uma retoma recente, o ouro negro voltou a debater-se com dificuldades e tem negociado agora na casa dos 70 dólares, tanto em Londres como em Nova Iorque - com o WTI a cair mesmo para os 69 dólares na sessão desta terça-feira. "Os ganhos recentes ocorreram na sequência das sanções impostas pelos EUA a operadores de transporte marítimo ligados às exportações de petróleo iraniano, numa tentativa da administração norte-americana de pressionar a principal fonte de receita do Irão e impedir que o seu adversário no Médio Oriente adquira armas nucleares. No entanto, a valorização do petróleo foi modesta e não é provável que indique uma mudança de trajetória", sublinha Ricardo Evangelista, CEO da Activtrades Europe, numa análise a que o Negócios teve acesso.
No seu entender, "a tendência para os preços do petróleo continua a ser de queda, com incerteza sobre a procura futura, à medida que a ameaça de tarifas dos EUA lança uma sombra sobre o crescimento económico global. Ao mesmo tempo, as negociações em curso para um acordo de paz entre a Ucrânia e a Rússia podem levar a um alívio das sanções sobre as exportações de petróleo russas, aumentando a oferta – um cenário que colocaria ainda mais pressão sobre os preços do petróleo".
Ainda assim, há quem mantenha o otimismo. É o caso de Giovanni Staunovo, analista de matérias-primas do UBS. "Apesar de muitos anteverem que o mercado petrolífero irá ter uma oferta excedentária, a estrutura da curva dos futuros de crude ainda continua a ser de queda ('backwardation'). Isto mostra que o mercado continua apertado e não podemos esquecer que a OPEP+ deseja manter um equilíbrio no mercado do crude", salienta o estratega do banco suíço num "research" enviado ao Negócios.
Quando o mercado está em "backwardation", isso significa que os preços dos contratos a mais curto prazo ("spot") são superiores aos dos contratos para datas mais distantes. É também conhecido como "mercado invertido" e é o oposto do contango, pois sinaliza uma boa procura no imediato.
A entrega de petróleo em prazos mais curtos tem estado mais cara do que a dos contratos negociados com datas a seis meses, por exemplo, também devido ao facto de haver menos crude disponível no imediato – o que é percetível pelo recurso aos "stocks" petrolíferos em muitos países, na tentativa de não comprarem a preços mais elevados no mercado.
"Acreditamos que o papel da OPEP+ em assegurar um equilíbrio do mercado nos últimos anos, cortando as suas exportações, a par com a sua capacidade disponível para lidar com potenciais disrupções da oferta, explica este 'backwardation' da curva dos futuros, apesar de muitos participantes de mercado dizerem que há um excesso de oferta. Este ano começámos com os inventários mundiais de crude a caírem cerca de 50 milhões de barris em janeiro, segundo as estimativas preliminares da Agência Internacional da Energia", aponta Giovanni Staunovo.
Além disso, acrescenta o analista do UBS, "com o tempo frio no Hemisfério Norte, estamos convictos de que o mercado petrolífero terá continuado com um défice de oferta este mês". Por isso mesmo, Staunovo continua a apontar para um mercado perto do equilíbrio este ano, mantendo assim uma perspetiva "moderadamente positiva" para os preços, com a previsão do Brent num valor médio de 80 dólares por barril este ano - ainda que acredite que a volatilidade será uma constante devido às tarifas da Administração Trump. Será que, contra todas as evidências iniciais, este vai ser o ano em que o petróleo sai do vermelho?