Notícia
Meo fica com TVI. Perceba o negócio
É uma operação que andava a ser falada e agora é anunciada. A TVI vai, se o negócio ficar concluído, passar para o universo da Altice, detentora da PT Portugal. O Negócios preparou um trabalho onde responde a algumas questões sobre o negócio.
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O que é a Media Capital?
A Altice chegou a acordo para comprar a Media Capital à Prisa. O que tem a Media Capital? A Media Capital é a empresa que, em Portugal, tem o canal de televisão TVI, que tem uma licença de sinal aberto, portanto disponível na plataforma gratuita de televisão. Além disso, tem os canais temáticos, como a TVI24, TVI Ficção e TVI Reality (para a emissão em directo dos reality shows da estação), que só estão em ofertas pagas de televisão. Estende a sua malha ao mundo com a TVI Internacional e TVI África. Segundo dados da Media Capital, em 2016, o conjunto de canais da TVI liderou com um share de 25,0% no total do dia e de 28% no horário nobre. Ou seja, a TVI teve em 2016 uma cobertura média diária de 4,620 milhões de pessoas durante todo o dia e de 3,23 milhões em horário nobre. Este é o principal activo que a Altice compra.
Além da televisão, a Media Capital tem uma produtora audiovisual, a Plural Entertainment, que actua em toda a Península Ibérica. A Plural tem o seu embrião na NBP, produtora fundada por Nicolau Breyner, que a Media Capital adquiriu em 2001, dando origem em 2008 à Plural. A Altice já salientou a importância de ter este activo no portefólio da Media Capital. A própria Altice já tem feito produções de programação, a serem transmitidas nas suas plataformas.
A Altice compra, também, um conjunto de rádios. Além da Rádio Comercial, uma das mais ouvidas, a Media Capital tem ainda a M80, a Cidade, a Smooth FM e a Vodafone FM que passa assim a dar nome a uma rádio do principal concorrente.
Uma outra área considerada no portefólio é o digital, no qual se insere o portal Iol, onde estão alojados os seus sites, nomeadamente o Maisfutebol, um jornal online dedicado ao desporto, ou o Autoportal, dedicado ao mundo automóvel. A Altice já tem, depois da compra da PT Portugal, o portal Sapo. O que deverá merecer análise do ponto de vista da concorrência. Um dos elementos da ofertas digital da empresa que tem levado ao crescimento desta área digital é o TVI Player, que permite a visualização online de programas que passam na televisão.
Finalmente, a Media Capital tem uma área de música e entretenimento, com a editora Farol.
O que é a Altice?
A Altice é uma empresa fundada por Patrick Drahi em 2002 que tem vindo, nos últimos anos, a comprar várias sociedades no mundo das telecomunicações e dos media. Tem operações em França, Israel, Portugal e Estados Unidos, onde comprou a Suddenlink e a Cablevision. Este ano passou a estar cotada também nos Estados Unidos. Em França é detentora da SFR. E em Portugal adquiriu, em 2015, a PT Portugal à Oi por 7,4 mil milhões de euros. Sempre disse que queria entrar nos media. EM Portugal já tinha entrado quando comprou a Cabovisão, que entretanto foi obrigada a vender.
Porque quer a Altice a Media Capital?
A estratégia da Altice passa pela convergência vertical, entre uma plataforma de distribuição (telecomunicações como a PT) e produção e detenção de conteúdos (Media Capital). Em França já estava a levar a cabo esta estratégia, detendo o L’Expansión, Libération, L’Express ou i24news. Nos Estados Unidos da América, tem a News12. Os media que tem no portefólio leva-a a ter mais de 1.500 jornalistas. Agora juntará 1.127 trabalhadores, estando 474 na televisão, com a compra da Media Capital. Michel Combes declarou, na conferência de imprensa na qual apresentou o negócio, estar muito entusiasmado por juntar dois líderes: a TVI e a PT. O grupo acredita na estratégia de "convergência que iniciámos em outros países, como França e Israel". Agora, "começaremos também em Portugal, com os melhores activos que se possa imaginar. De um lado, a PT e do outro lado Media Capital".
Pode a TVI ser fechada aos outros operadores?
Apesar de ficar com este portefólio, a TVI não poderá ser um conteúdo exclusivo da Altice, já que sendo um canal generalista de sinal aberto tem de estar em todas as plataformas. É uma estação aberta e licenciada pelo Estado. A Altice já disse que não quer fechar conteúdos, mas já fez saber que a sua estratégia de compra de media faz parte de diferenciação na oferta aos seus clientes. Paulo Neves, presidente da PT, já disse isso mesmo. "Os conteúdos são algo importante da nossa estratégia, como factor diferenciador da nossa oferta".
Porquê a TVI?
Era o activo que estava disponível no mercado. A Prisa, depois de falhar em Maio a venda da Santillana, editora, tinha de encontrar outras formas de realizar capital para pagar dívida. Os bancos da Prisa assim determinavam. Com isso a Media Capital estava no mercado à venda. E a Prisa arrecada 320 milhões de euros, e desconsolida quase 100 milhões de dívida associada à Media Capital. A empresa, no entanto, vai registar uma menos valia com esta venda: de 81 milhões de euros nas contas individuais e nas consolidadas de 69 milhões. O negócio tem de ter o aval dos credores da Prisa. A Prisa chegou em 2013 a acordo com os seus bancos credores para estender a maturidade da dívida, mas teve de tomar medidas para a reduzir. Por isso, as vendas de activos que têm sido realizadas são para pagar dívida. No final de 2016, o passivo financeiro era de 1,8 mil milhões de euros. Além disso, como a Altice disse está a comprar um líder de televisão, o que salientou Michel Combes é a primeira vez que consegue: juntar o líder de televisão com o líder de telecomunicações.
A Media Capital vai ficar na mesma?
Não tendo avançado com o seu plano de negócios para a Media Capital, alguma coisa deverá mudar nas mãos da Altice. Garantiu que não iria fazer despedimentos, mas na PT já saíram muitos quadros, através de rescisões e do processo de transferência de estabelecimento que, aliás, Bloco e PCP consideram ser um despedimento encapotado e fraudulento. Paulo Neves tem falado da agilização da empresa. Agora, Michel Combes, em relação à Media Capital, disse ser uma empresa bem gerida, que fez nos últimos anos um bom trabalho ao nível dos custos. Por isso, o CEO da Altice vê mais sinergias ao nível de receitas, com oportunidade de negócio. Rosa Cullell, presidente da Media Capital, já fez saber que gostaria de ficar na empresa e a Altice disse publicamente que gostaria que a CEO ficasse. No lado do futuro, Michel Combes limitou-se a dizer que pretende reforçar a digitalização da Media Capital.
O que quer a Altice fazer?
Além da digitalização, a empresa já prometeu aumentar os investimentos em conteúdos portugueses até para exportá-los. A Altice já falou no lançamento de serviços novos e inovadores e até de canais novos, mas ainda diz cedo para concretizar.
Preço é elevado?
A Altice e a Prisa comunicaram o negócio de compra da Media Capital por um valor da empresa de 440 milhões de euros. Este valor implica que a Prisa receba pela venda de quase 95% da sua posição na Media Capital um valor superior a 320 milhões de euros, de acordo com o comunicado da Prisa. Além disso, implica a assumpção da dívida da Media Capital que atinge 100 milhões de euros. De acordo com as contas trimestrais da Media Capital, o passivo é de 170 milhões. Para um endividamento líquido de quase 100 milhões de euros. Se considerado todo o valor empresarial implícito na operação, a Altice está a pagar tendo em conta um múltiplo de quase 10 vezes o EBITDA. Em 2016, a Media Capital teve um EBITDA de 41,5 milhões de euros. Os valores do negócio que estavam a ser falados eram em torno dos 450 milhões de euros, o que os analistas consideravam elevado.
Além do valor que terá de pagar à Prisa, pelos 94,69% que os espanhóis detêm, a Altice teve de lançar uma OPA obrigatória, na qual se propõe comprar os 5% remanescentes. O que avalia esta compra da posição de minoritários em 11,5 milhões de euros. A maior parte da posição dos minoritários está concentrada no caixa económica galega NCG Banco, que detém 5% dos 5,13% ainda dispersos no mercado. Tendo em conta os 2,5546 euros oferecidos pela Altice, a Media Capital ficaria avaliada em 215,9 milhões de euros.
A Altice acordou com a Prisa a compra da Media Capital, num negócio avaliado em 440 milhões de euros. Conheça os principais contornos da operação que já são conhecidos.
Michel Combes admitiu que o valor acordado era justo, lembrando que há dois lados nas negociações: o vendedor e o comprador.
Que aprovações têm de ser dadas?
A operação tem de ser aprovada pelos accionistas da Prisa e pelos seus credores. Do lado da Altice, tem de receber luz verde das entidades de concorrência. Michel Combes diz que será a Autoridade da Concorrência, portanto em Portugal, que terá de analisar. No entanto, quando foi a compra da PT a operação recaiu na esfera de Bruxelas. Uma análise em Portugal obriga a Autoridade da Concorrência a ouvir a ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que tem parecer vinculativo. A ERC já uma vez vetou a entrada da Ongoing na TVI por essa empresa ser uma das principais accionistas, à época, da Impresa, dona da SIC. Além disso, a ERC tem de ser pronunciar ao abrigo da Lei da Televisão, pelo facto de a TVI deter uma licença para televisão. Mesmo que fosse uma análise europeia, a Comissão Europeia tem um expediente que a permite ouvir os reguladores sectoriais nacionais, neste caso a ERC, nestes casos em que está em causa a liberdade de informação e pluralidade de informação. A Altice já garantiu que a informação da TVI será independente. "100% independente".
Além destas aprovações, a operação tem uma segunda parte, que é a oferta pública de aquisição obrigatória lançada pela posição dos minoritários na Media Capital, cotada em Lisboa. A CMVM tem de registá-la. A oferta sobre os 5% que a Prisa não detém custará à Altice mais 11,5 milhões de euros. Quem lançou a oferta foi a Meo - Serviços de Telecomunicações e Multimédia, sociedade detida pela Altice mas de direito português.
O Governo pode bloquear a operação?
Directamente não. A ERC é que tem de se pronunciar sobre a licença de televisão. De qualquer forma, quando se tratam de activos deste impacto, a posição do Governo é sempre relevante. António Costa, primeiro-ministro, tinha dias antes do anúncio da operação criticado a Altice, dizendo até que não a escolhia para sua operadora, e falando do temor de que a PT se torne num novo caso Cimpor, desmembrada e com despedimentos. A importância do activo é tal que a Altice foi falar com o Governo, mas também com o Presidente da República, que os recebeu na sexta-feira. Já anteriormente, a TVI não tinha sido vendida porque o governo de Sócrates, acusado de querer controlar a estação, bloqueou a compra por parte da PT.
O que vão fazer os concorrentes?
Muito se tem falado que podia haver uma reacção dos concorrentes da Altice a este negócio. Especulação reforçada quando Miguel Almeida, presidente da Nos, ao Expresso disse que se "se os reguladores não fizerem nada, aceitando essa aquisição, haverá guerra, defenderemos os interesses dos nossos clientes". Mas foi dizendo acreditar que a operação possa ser chumbada. "Não vemos com bons olhos a integração vertical de um operador de telecomunicações com uma televisão como a TVI. Esse operador, ao comprar um canal de televisão, por maioria de razão, vai querer servir melhor os seus clientes do que os dos outros, o que viola o princípio da universalidade dos canais licenciados como a TVI. Acreditamos que não é um bom movimento para o país e para as empresas e não o faríamos, por questões de cidadania desde logo mas também por questões empresariais. Não nos parece que a AdC ou mesmo a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) possam viver tranquilas com um passo desses". Logo se especulou que o movimento de resposta poderia ser a compra da Nos por um dos outros media, Impresa ou Cofina. No entanto, não é essa a estratégia do operador, segundo sabe o Negócios, embora só com o tempo se possa ver a resposta. De qualquer forma, Nos e Vodafone não comentaram o anúncio de compra, mas em sede de análise da concorrência terão oportunidade de fazer os seus comentários. Também a Impresa e a Cofina não comentaram, mas o fundador da Impresa e o seu actual CEO, Francisco Pinto Balsemão e Francisco Pedro Balsemão, foram recebidos por Marcelo Rebelo de Sousa no dia em que o anúncio foi feito.
Também há que lembrar que a Nos e Vodafone nunca quiseram entrar nos direitos do desporto e a Nos acabou por compra os direitos televisivos do Benfica, depois da Altice ter atacado os do Porto. O Sporting acabou por ficar também na Nos. Miguel Almeida assumiu que só adquiriu os direitos "apenas em consequência da intenção que o nosso concorrente na altura demonstrou".
A Altice chegou a acordo para comprar a Media Capital à Prisa. O que tem a Media Capital? A Media Capital é a empresa que, em Portugal, tem o canal de televisão TVI, que tem uma licença de sinal aberto, portanto disponível na plataforma gratuita de televisão. Além disso, tem os canais temáticos, como a TVI24, TVI Ficção e TVI Reality (para a emissão em directo dos reality shows da estação), que só estão em ofertas pagas de televisão. Estende a sua malha ao mundo com a TVI Internacional e TVI África. Segundo dados da Media Capital, em 2016, o conjunto de canais da TVI liderou com um share de 25,0% no total do dia e de 28% no horário nobre. Ou seja, a TVI teve em 2016 uma cobertura média diária de 4,620 milhões de pessoas durante todo o dia e de 3,23 milhões em horário nobre. Este é o principal activo que a Altice compra.
Além da televisão, a Media Capital tem uma produtora audiovisual, a Plural Entertainment, que actua em toda a Península Ibérica. A Plural tem o seu embrião na NBP, produtora fundada por Nicolau Breyner, que a Media Capital adquiriu em 2001, dando origem em 2008 à Plural. A Altice já salientou a importância de ter este activo no portefólio da Media Capital. A própria Altice já tem feito produções de programação, a serem transmitidas nas suas plataformas.
Uma outra área considerada no portefólio é o digital, no qual se insere o portal Iol, onde estão alojados os seus sites, nomeadamente o Maisfutebol, um jornal online dedicado ao desporto, ou o Autoportal, dedicado ao mundo automóvel. A Altice já tem, depois da compra da PT Portugal, o portal Sapo. O que deverá merecer análise do ponto de vista da concorrência. Um dos elementos da ofertas digital da empresa que tem levado ao crescimento desta área digital é o TVI Player, que permite a visualização online de programas que passam na televisão.
Finalmente, a Media Capital tem uma área de música e entretenimento, com a editora Farol.
O que é a Altice?
A Altice é uma empresa fundada por Patrick Drahi em 2002 que tem vindo, nos últimos anos, a comprar várias sociedades no mundo das telecomunicações e dos media. Tem operações em França, Israel, Portugal e Estados Unidos, onde comprou a Suddenlink e a Cablevision. Este ano passou a estar cotada também nos Estados Unidos. Em França é detentora da SFR. E em Portugal adquiriu, em 2015, a PT Portugal à Oi por 7,4 mil milhões de euros. Sempre disse que queria entrar nos media. EM Portugal já tinha entrado quando comprou a Cabovisão, que entretanto foi obrigada a vender.
Porque quer a Altice a Media Capital?
A estratégia da Altice passa pela convergência vertical, entre uma plataforma de distribuição (telecomunicações como a PT) e produção e detenção de conteúdos (Media Capital). Em França já estava a levar a cabo esta estratégia, detendo o L’Expansión, Libération, L’Express ou i24news. Nos Estados Unidos da América, tem a News12. Os media que tem no portefólio leva-a a ter mais de 1.500 jornalistas. Agora juntará 1.127 trabalhadores, estando 474 na televisão, com a compra da Media Capital. Michel Combes declarou, na conferência de imprensa na qual apresentou o negócio, estar muito entusiasmado por juntar dois líderes: a TVI e a PT. O grupo acredita na estratégia de "convergência que iniciámos em outros países, como França e Israel". Agora, "começaremos também em Portugal, com os melhores activos que se possa imaginar. De um lado, a PT e do outro lado Media Capital".
Pode a TVI ser fechada aos outros operadores?
Apesar de ficar com este portefólio, a TVI não poderá ser um conteúdo exclusivo da Altice, já que sendo um canal generalista de sinal aberto tem de estar em todas as plataformas. É uma estação aberta e licenciada pelo Estado. A Altice já disse que não quer fechar conteúdos, mas já fez saber que a sua estratégia de compra de media faz parte de diferenciação na oferta aos seus clientes. Paulo Neves, presidente da PT, já disse isso mesmo. "Os conteúdos são algo importante da nossa estratégia, como factor diferenciador da nossa oferta".
Porquê a TVI?
Era o activo que estava disponível no mercado. A Prisa, depois de falhar em Maio a venda da Santillana, editora, tinha de encontrar outras formas de realizar capital para pagar dívida. Os bancos da Prisa assim determinavam. Com isso a Media Capital estava no mercado à venda. E a Prisa arrecada 320 milhões de euros, e desconsolida quase 100 milhões de dívida associada à Media Capital. A empresa, no entanto, vai registar uma menos valia com esta venda: de 81 milhões de euros nas contas individuais e nas consolidadas de 69 milhões. O negócio tem de ter o aval dos credores da Prisa. A Prisa chegou em 2013 a acordo com os seus bancos credores para estender a maturidade da dívida, mas teve de tomar medidas para a reduzir. Por isso, as vendas de activos que têm sido realizadas são para pagar dívida. No final de 2016, o passivo financeiro era de 1,8 mil milhões de euros. Além disso, como a Altice disse está a comprar um líder de televisão, o que salientou Michel Combes é a primeira vez que consegue: juntar o líder de televisão com o líder de telecomunicações.
A Media Capital vai ficar na mesma?
Não tendo avançado com o seu plano de negócios para a Media Capital, alguma coisa deverá mudar nas mãos da Altice. Garantiu que não iria fazer despedimentos, mas na PT já saíram muitos quadros, através de rescisões e do processo de transferência de estabelecimento que, aliás, Bloco e PCP consideram ser um despedimento encapotado e fraudulento. Paulo Neves tem falado da agilização da empresa. Agora, Michel Combes, em relação à Media Capital, disse ser uma empresa bem gerida, que fez nos últimos anos um bom trabalho ao nível dos custos. Por isso, o CEO da Altice vê mais sinergias ao nível de receitas, com oportunidade de negócio. Rosa Cullell, presidente da Media Capital, já fez saber que gostaria de ficar na empresa e a Altice disse publicamente que gostaria que a CEO ficasse. No lado do futuro, Michel Combes limitou-se a dizer que pretende reforçar a digitalização da Media Capital.
O que quer a Altice fazer?
Além da digitalização, a empresa já prometeu aumentar os investimentos em conteúdos portugueses até para exportá-los. A Altice já falou no lançamento de serviços novos e inovadores e até de canais novos, mas ainda diz cedo para concretizar.
Preço é elevado?
A Altice e a Prisa comunicaram o negócio de compra da Media Capital por um valor da empresa de 440 milhões de euros. Este valor implica que a Prisa receba pela venda de quase 95% da sua posição na Media Capital um valor superior a 320 milhões de euros, de acordo com o comunicado da Prisa. Além disso, implica a assumpção da dívida da Media Capital que atinge 100 milhões de euros. De acordo com as contas trimestrais da Media Capital, o passivo é de 170 milhões. Para um endividamento líquido de quase 100 milhões de euros. Se considerado todo o valor empresarial implícito na operação, a Altice está a pagar tendo em conta um múltiplo de quase 10 vezes o EBITDA. Em 2016, a Media Capital teve um EBITDA de 41,5 milhões de euros. Os valores do negócio que estavam a ser falados eram em torno dos 450 milhões de euros, o que os analistas consideravam elevado.
Além do valor que terá de pagar à Prisa, pelos 94,69% que os espanhóis detêm, a Altice teve de lançar uma OPA obrigatória, na qual se propõe comprar os 5% remanescentes. O que avalia esta compra da posição de minoritários em 11,5 milhões de euros. A maior parte da posição dos minoritários está concentrada no caixa económica galega NCG Banco, que detém 5% dos 5,13% ainda dispersos no mercado. Tendo em conta os 2,5546 euros oferecidos pela Altice, a Media Capital ficaria avaliada em 215,9 milhões de euros.
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Michel Combes admitiu que o valor acordado era justo, lembrando que há dois lados nas negociações: o vendedor e o comprador.
Que aprovações têm de ser dadas?
A operação tem de ser aprovada pelos accionistas da Prisa e pelos seus credores. Do lado da Altice, tem de receber luz verde das entidades de concorrência. Michel Combes diz que será a Autoridade da Concorrência, portanto em Portugal, que terá de analisar. No entanto, quando foi a compra da PT a operação recaiu na esfera de Bruxelas. Uma análise em Portugal obriga a Autoridade da Concorrência a ouvir a ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que tem parecer vinculativo. A ERC já uma vez vetou a entrada da Ongoing na TVI por essa empresa ser uma das principais accionistas, à época, da Impresa, dona da SIC. Além disso, a ERC tem de ser pronunciar ao abrigo da Lei da Televisão, pelo facto de a TVI deter uma licença para televisão. Mesmo que fosse uma análise europeia, a Comissão Europeia tem um expediente que a permite ouvir os reguladores sectoriais nacionais, neste caso a ERC, nestes casos em que está em causa a liberdade de informação e pluralidade de informação. A Altice já garantiu que a informação da TVI será independente. "100% independente".
Além destas aprovações, a operação tem uma segunda parte, que é a oferta pública de aquisição obrigatória lançada pela posição dos minoritários na Media Capital, cotada em Lisboa. A CMVM tem de registá-la. A oferta sobre os 5% que a Prisa não detém custará à Altice mais 11,5 milhões de euros. Quem lançou a oferta foi a Meo - Serviços de Telecomunicações e Multimédia, sociedade detida pela Altice mas de direito português.
O Governo pode bloquear a operação?
Directamente não. A ERC é que tem de se pronunciar sobre a licença de televisão. De qualquer forma, quando se tratam de activos deste impacto, a posição do Governo é sempre relevante. António Costa, primeiro-ministro, tinha dias antes do anúncio da operação criticado a Altice, dizendo até que não a escolhia para sua operadora, e falando do temor de que a PT se torne num novo caso Cimpor, desmembrada e com despedimentos. A importância do activo é tal que a Altice foi falar com o Governo, mas também com o Presidente da República, que os recebeu na sexta-feira. Já anteriormente, a TVI não tinha sido vendida porque o governo de Sócrates, acusado de querer controlar a estação, bloqueou a compra por parte da PT.
O que vão fazer os concorrentes?
Muito se tem falado que podia haver uma reacção dos concorrentes da Altice a este negócio. Especulação reforçada quando Miguel Almeida, presidente da Nos, ao Expresso disse que se "se os reguladores não fizerem nada, aceitando essa aquisição, haverá guerra, defenderemos os interesses dos nossos clientes". Mas foi dizendo acreditar que a operação possa ser chumbada. "Não vemos com bons olhos a integração vertical de um operador de telecomunicações com uma televisão como a TVI. Esse operador, ao comprar um canal de televisão, por maioria de razão, vai querer servir melhor os seus clientes do que os dos outros, o que viola o princípio da universalidade dos canais licenciados como a TVI. Acreditamos que não é um bom movimento para o país e para as empresas e não o faríamos, por questões de cidadania desde logo mas também por questões empresariais. Não nos parece que a AdC ou mesmo a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) possam viver tranquilas com um passo desses". Logo se especulou que o movimento de resposta poderia ser a compra da Nos por um dos outros media, Impresa ou Cofina. No entanto, não é essa a estratégia do operador, segundo sabe o Negócios, embora só com o tempo se possa ver a resposta. De qualquer forma, Nos e Vodafone não comentaram o anúncio de compra, mas em sede de análise da concorrência terão oportunidade de fazer os seus comentários. Também a Impresa e a Cofina não comentaram, mas o fundador da Impresa e o seu actual CEO, Francisco Pinto Balsemão e Francisco Pedro Balsemão, foram recebidos por Marcelo Rebelo de Sousa no dia em que o anúncio foi feito.
Também há que lembrar que a Nos e Vodafone nunca quiseram entrar nos direitos do desporto e a Nos acabou por compra os direitos televisivos do Benfica, depois da Altice ter atacado os do Porto. O Sporting acabou por ficar também na Nos. Miguel Almeida assumiu que só adquiriu os direitos "apenas em consequência da intenção que o nosso concorrente na altura demonstrou".