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Bombardeamentos russos na Síria não teriam Estado Islâmico como alvo
Concretizado o primeiro ataque militar aéreo russo na Síria, John Kerry veio alertar que as acções da Rússia poderão estar a ser contraproducentes. Fonte oficial anónima norte-americana diz mesmo que Moscovo não teve como alvo zonas controladas pelo Estado Islâmico, mas outros opositores do regime sírio.
Esta quarta-feira, 30 de Setembro, assinalou a primeira acção militar russa na Síria desde que, em 2011, eclodiu a guerra civil que vem dilacerando o país. No entanto, surgem informações que indiciam que o alvo dos ataques aéreos do exército russo não eram as posições detidas pelo autoproclamado Estado Islâmico (EI), mas uma zona supostamente controlada por outros grupos opositores do regime liderado pelo presidente sírio, Bashar al-Assad, um aliado de Moscovo no Médio Oriente.
O bombardeamento do exército moscovita ocorreu nas províncias de Homs e Hama, regiões maioritariamente controladas pelas forças leais a Assad. Todavia, segundo refere o The Guardian, um dos ataques terá acontecido mais precisamente em Talbiseh, uma pequena bolsa de território em Homs que estaria controlada por forças sunitas também opositoras de Assad mas que estarão a ser apoiadas militarmente pelos Estados Unidos.
Um responsável norte-americano avançou à Reuters, sob a condição de anonimato, que os alvos do regime russo não pareciam ser territórios controlados pelos extremistas sunitas do autoproclamado EI. O ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, foi mais longe ao afirmar, no Parlamento gaulês, que "é um facto" que a Rússia executou o primeiro ataque aéreo na Síria, mas "curiosamente não atacaram o Estado Islâmico".
Também o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, já criticou a acção russa. Em plena assembleia-geral das Nações Unidas, citado pelo Washington Post, Kerry mostrou "grande apreensão" perante a eventualidade de os ataques aéreos russos terem como alvo "zonas em que o EI e os seus afiliados não estejam a operar". À margem da referida assembleia-geral, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos terá ainda dito ao seu homólogo russo, Sergey Lavrov, que os ataques hoje realizados poderiam ser contraproducentes face aos esforços norte-americanos na região.
Os Estados Unidos lideram, há já mais de um ano, uma coligação internacional que tem realizado intervenções aéreas contra supostos alvos daquele grupo extremista sunita. No entanto, nem tudo estará a correr bem nestas operações em que participam ainda países como a França, a Arábia Saudita, a Turquia ou Israel.
Ainda recentemente, o Pentágono admitiu, pela primeira vez, que algumas das armas e equipamentos militares fornecidos às forças oposicionistas de Assad tinham ido parar às mãos erradas, ou seja, a elementos do EI que também continuam a combater Damasco.
Esta manhã, a câmara alta do Parlamento russo deu provimento ao pedido em que o presidente Vladimir Putin solicitava autorização para recorrer a meio militares aéreos para atacar alvos terroristas na Síria. Moscovo defendeu mesmo ser o único país que está a actuar com legitimidade em território sírio, argumentando ter recebido um pedido de Assad para que apoiassem a luta de Damasco. Pelo contrário, o Kremlin acusa Washington ter contornado as regras do direito internacional ao avançar com operações militares na Síria sem o devido enquadramento de uma resolução das Nações Unidas.
Poder-se-á estar perante uma situação de conflito entre Moscovo e Washington. Pelo menos ao nível geoestratégico. Os Estados Unidos defendem que Assad não poderá continuar no poder, uma vontade contrária aos interesses da Rússia e do Irão. E apesar de haver margem diplomática para uma solução a meio caminho, que poderia passar um regime de transição na Síria, a administração de Obama teme que Moscovo aproveite a intervenção na Síria para apoiar os intentos do regime alauita liderado por Bashar al-Assad.
Obama rejeita a possibilidade de se "voltar ao 'status-quo pré-guerra" na Síria depois de um eventual estabilizar da crise no país. Mas, para já, a possibilidade de estabilização regional na Síria, bem como noutros países do Médio Oriente entre os quais o Iraque e o Afeganistão, está ainda bem distante.