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Zona Euro poderá prolongar validade do resgate à Grécia por mais quatro meses

Segundo fontes citadas por alguma imprensa internacional, o Eurogrupo poderá prolongar por mais quatro meses a validade do actual resgate, que expira no fim de Junho e no âmbito do qual há ainda 7,2 mil milhões de euros disponíveis para a Grécia. Extensão poderia dar tempo a Atenas para fazer referendo ou novas eleições, mas pode não reduzir risco de "default".

20 de Fevereiro – Dijsselbloem após acordo no Eurogrupo para estender financiamento por quatro meses

“Foi intenso porque foi sobre construir confiança com base no que já está acordado. Esta noite foi o primeiro passo para construir confiança. O trabalho feito nas últimas semanas compensou”.
Reuters
21 de Maio de 2015 às 15:32
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Perante o impasse instalado nas negociações entre Atenas e a troika com vista à libertação de novos desembolsos, os governos da Zona Euro poderão voltar a estender a validade do segundo resgate à Grécia. Segundo fontes citadas por alguma imprensa internacional, o Eurogrupo poderá prolongar por mais quatro meses a validade do actual programa de assistência financeira, que expira no fim de Junho e no âmbito do qual há ainda 7,2 mil milhões de euros disponíveis para a Grécia.

 

Essa extensão poderia dar tempo ao Governo grego para completar a sua lista de reformas, testar o respectivo apoio parlamentar e, em caso de dissidências significativas, em especial dentro do Syriza, Alexis Tsipras disporia de mais algum tempo para convocar um referendo ou mesmo novas eleições. As sondagens sugerem que 75% dos gregos querem manter-se no euro e também que o Syriza continuaria a ser o partido mais votado, o que pode reforçar a posição de Tsipras se este se distanciar da ala mais radical do seu partido (que quer a saída do euro) e se mover para o centro.

 

Ontem, no âmbito das Conferências do Estoril, George Papandreou, antigo primeiro-ministro grego socialista que pediu o primeiro resgate para a Grécia em 2010, disse ter a "esperança" de que "estando o actual Governo a enfrentar o mesmo problema com o qual todos os partidos da esquerda à direita já tiveram de lidar, se acabe com o populismo e nasça uma nova Grécia". "Tudo seria mais fácil se houvesse consenso político", asseverou.

 

Segundo prolongamento do prazo - e o mesmo dinheiro?

 

A parte europeia do actual resgate expirava em Fevereiro (o FMI tem desembolsos previstos até Março de 2016), tendo depois sido prolongada até ao fim de Junho. Até ao momento, porém, nenhuma transferência, nem europeia nem do FMI, teve lugar para Atenas porque não houve acordo sobre as reformas e metas orçamentais, pelo que a 5ª (e última) avaliação deste segundo programa da troika permanece suspensa. Desde 2010, a comunidade internacional já enviou para o país quase 240 mil milhões de euros, que tem hoje uma dívida superior a 180% do seu PIB.

 

A extensão da validade deste segundo programa não reduz, por si, o risco de a Grécia entrar em incumprimento, a menos que os europeus decidam avançar uma parte do dinheiro  em resposta à aprovação de algumas reformas - no IVA  por exemplo - como, ainda em Março, sugeriu o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem. Os 7,2 mil milhões ainda disponíveis (já aprovados pelos parlamentos nacionais dos países do euro e pelos accionistas do FMI) são insuficientes para pagar os reembolsos de dívida ao FMI e ao BCE previstos durante todo o Verão, mas chegariam para pagar os 5,6 mil milhões agendados até ao fim de Julho (não contando com os Bilhetes de Tesouro).

 

Ainda assim, vários responsáveis europeus têm sinalizado que, mesmo que a Grécia falhe pagamentos aos credores, isso não significa que as agências de rating declarem "default" nem que o país entrará numa espécie de "via verde" rumo à saída do euro.

 

Encontro a três à margem da cimeira de Riga

 

Tsipras deverá encontrar-se nesta quinta-feira, 21 de Maio, com a chanceler alemã e o presidente francês, à margem da cimeira que decorre em Riga sobre política europeia de vizinhança. Segundo o jornal grego Kathimerini, Tsipras espera que da reunião com Angela Merkel e François Hollande resulte algum apoio político que ajude a definir o rumo das negociações. A mesma publicação adianta que o primeiro-ministro deverá dizer aos seus homólogos que Atenas já fez muitas concessões e que é agora a vez de os credores se aproximarem da Grécia.

 

Já o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, concedeu uma nova entrevista controversa, desta feita ao New York Times magazine, em que afirma ter gravado reuniões do Eurogrupo pelo que pode provar que não foi maltratado pelos seus colegas no último encontro informal, que decorreu também em Riga e que foi seguida da decisão de Tsipras de o afastar da liderança das negociações com os europeus. Conta a Reuters, que esta sua revelação no jornal norte-americano gerou hoje uma onda de críticas em Atenas, com vários deputados da oposição e comentadores a acusarem Varoufakis de usar expedientes que boicotam o esforço de entendimento de Atenas com os parceiros europeus.

 

Numa segunda entrevista, à estação de televisão britânica Channel 4, Varoufakis repete, por seu turno, que a prioridade da Grécia são os salários dos funcionários públicos e as pensões. "Se pudermos, a 5 de Junho, reembolsar o FMI e pagar pensões e salários, bem como outras obrigações que temos com os nossos credores internos" assim será feito. "Se não, vamos ter de dar prioridade aos pensionistas e aos trabalhadores do sector público".

 

Ontem Nikos Filis, presidente do Parlamento grego, admitia que a Grécia não conseguirá pagar ao FMI a 5 de Junho sem acordo com credores. "Se não houver um acordo até lá [5 de Junho] que resolva o actual problema de financiamento [da Grécia], eles [credores] não receberão qualquer dinheiro", disse, referindo-se aos mais de 310 milhões de euros que Atenas terá de devolver ao Fundo Monetário Internacional no dia 5 de Junho.

O último pagamento realizado ao FMI foi em 12 de Maio, tendo a Grécia usado a conta de depósito de emergência que tem, tal como os restantes países-membros, junto da instituição para pagar os 750 milhões de euros devidos ao próprio FMI, que terão de ser repostos em breve.

 

"O que sei das negociações não sustenta o optimismo de Atenas"

 

Também em entrevista, agora à Reuters citada pelo Guardian, o ministro alemão das Finanças diz que, em concreto, ainda não há nada a que se possa chamar acordo. "O que eu sei a partir das negociações que estão a decorrer com as três instituições (da troika) não sustenta o optimismo das declarações que têm vindo de Atenas", diz o ministro alemão das Finanças.

Wolfgang Schäuble repete que os progressos são mais ao nível da atmosfera em que decorrem as negociações, mas "na substância ainda não há nada que possa sustentar o anúncio de que estamos mais próximos de um acordo".

 

Já ontem o ministro alemão das Finanças havia voltado a mostrar-se muito prudente, não tendo excluído a possibilidade de a Grécia falhar pagamentos aos credores, como voltou, de novo, admitido pelo próprio Governo grego.

 

Questionado sobre se repetiria a garantia que deu em 2012, de que a Grécia não deixaria de pagar aos credores a tempo e horas, o ministro alemão das Finanças respondeu: "Sabendo que há a tendência de escrever as declarações de ministros das Finanças na pedra, teria de pensar muito bem antes de repetir isso nas actuais circunstâncias".

 

Em entrevista ao Wall Street Journal e ao Les Echos, o ministro repetiu, porém, que acredita num acordo entre a Grécia e os seus credores antes de o país ficar sem fundos. "Há mais progressos no ambiente do que na substância das negociações. (…) Mas estamos lá. As negociações entre a Grécia e as três instituições sempre foram difíceis mas sempre resultaram no passado".

 

Sobre a possibilidade de um terceiro resgate, o ministro respondeu com a promessa que vem do Eurogrupo de Novembro de 2012. Nessa altura, ficou escrito que "se a Grécia, uma vez concluído o actual programa, tivesse atingido um excedente primário, cumprisse os seus compromissos mas continuasse a ter necessidades financeiras, reflectiríamos sobre essa possibilidade". "Essa afirmação – acrescentou - permanece válida, embora as condições se tenham tornado mais frágeis". "A Grécia não completou o programa, não tem um excedente primário e diz que não quer um terceiro programa".

 

(notícia actualizada às 17h00 com dados sobre montantes e prazos de reembolso de dívida)

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