Notícia
As raízes económicas do independentismo catalão
A luta dos catalães pela independência ou maior autonomia é alimentada pela natureza das relações económicas entre as regiões espanholas. Se fosse um país, a Catalunha teria uma economia maior do que a portuguesa.
Não faltam motivos políticos, culturais e até emocionais para muitos catalães defenderem a independência da região face a Espanha. Mas essa insatisfação crescente foi construída sobre alguns pilares económicos importantes. A Catalunha é mais rica e mais próspera do que a média do país, mas é penalizada pelas transferências entre regiões. Se fosse independente, teria um poder de fogo económico maior do que Portugal.
As regiões europeias onde existem pulsões independentistas mais fortes tendem a partilhar duas ideias: que caso fossem independentes, a sua economia se aguentaria e até suplantaria outros Estados comunitários; e que existem limites para a sua solidariedade para com regiões mais pobres.
"A característica mais impressionante destas regiões é um nível anormalmente elevado de prosperidade, em comparação com o resto do país", pode ler-se num relatório do Deutsche Bank, publicado há dois anos, sobre as raízes económicas do independentismo.
A Catalunha é um desses casos. O PIB per capita catalão equivale a quase 120% do espanhol, com uma taxa de desemprego cerca de quatro pontos percentuais mais baixa e alguns dos contributos financeiros mais elevados para o Governo central.
A independência da Catalunha seria um rombo gigantesco para a economia espanhola. Um em cada cinco euros produzidos anualmente em Espanha vem da Catalunha, assim como mais de 25% das exportações (dois terços, se considerarmos apenas as vendas a países da União Europeia).
A economia catalã é maior do que a portuguesa, a grega e a romena e está muito próxima da finlandesa. "Muitas das regiões [que querem ser independentes] não seriam de forma alguma pesos-pluma em comparação com membros que já existem na UE", sublinha o banco alemão.
O desejo de independência não é alimentado apenas pela superioridade económica. O sistema de solidariedade entre regiões tem potencial para gerar descontentamento. Embora por vezes se compare a Catalunha ao País Basco, as duas regiões são tratadas de forma muito diferente: o País Basco (tal como Navarra) está fora daquilo a que se chama o "regime comum", onde estão integradas as restantes 15 comunidades autónomas. Nessas 15 regiões, o Governo central é responsável por arrecadar impostos, redistribuindo-os depois de forma a tentar alisar diferenças entre mais ricos e mais pobres.
O regime comum é financiado com metade da receita de IRS e de IVA, assim como a totalidade dos impostos sobre o capital, entre outros. E não se pode dizer que ele não tem resultados: as diferenças orçamentais face à média nacional caem para metade depois das transferências.
Enquanto uma das regiões mais ricas de Espanha, a Catalunha é a terceira que mais contribui para este sistema (superada apenas por Madrid e pelas Baleares). O mais estranho - e motivo de descontentamento - é que depois de feitas as transferências, o "ranking" das regiões com mais ou menos capacidade financeira é totalmente alterado. Cantábria, Rioja e Extremadura passam a ser as que dispõem mais recursos. A Catalunha fica ligeiramente abaixo da média nacional. Ou seja, arrecadam mais impostos do que a média, mas beneficiam de menos recursos.
Um estudo do Ministério das Finanças espanhol realizado em 2014 concluía que, sem este esquema de distribuição, a Catalunha teria mais 8,5 mil milhões de euros para gastar. Mais de 4% do PIB.
Tudo somado, o racional económico da independência (ou mais autonomia) fica mais claro: são mais prósperos, têm uma economia maior do que alguns Estados da moeda única e é um dos que mais contribui para um sistema que depois os coloca em desvantagem relativa face a outras regiões.
Estes números não provam que os catalães estariam melhores sozinhos. Além das óbvias questões legais, é ter em conta várias vulnerabilidades. É razoável considerar que haverá provavelmente fuga de empresas e consequente destruição de postos de trabalho. O financiamento seria outra incógnita, embora alguns estudos estimem que um novo país teria um "rating" alto. A questão mais decisiva seria obviamente a permanência na UE e no euro. Fora destes espaços, a economia catalã perderá uma parte importante da força que os números parecem demonstrar.
As regiões europeias onde existem pulsões independentistas mais fortes tendem a partilhar duas ideias: que caso fossem independentes, a sua economia se aguentaria e até suplantaria outros Estados comunitários; e que existem limites para a sua solidariedade para com regiões mais pobres.
A Catalunha é um desses casos. O PIB per capita catalão equivale a quase 120% do espanhol, com uma taxa de desemprego cerca de quatro pontos percentuais mais baixa e alguns dos contributos financeiros mais elevados para o Governo central.
A independência da Catalunha seria um rombo gigantesco para a economia espanhola. Um em cada cinco euros produzidos anualmente em Espanha vem da Catalunha, assim como mais de 25% das exportações (dois terços, se considerarmos apenas as vendas a países da União Europeia).
A economia catalã é maior do que a portuguesa, a grega e a romena e está muito próxima da finlandesa. "Muitas das regiões [que querem ser independentes] não seriam de forma alguma pesos-pluma em comparação com membros que já existem na UE", sublinha o banco alemão.
O desejo de independência não é alimentado apenas pela superioridade económica. O sistema de solidariedade entre regiões tem potencial para gerar descontentamento. Embora por vezes se compare a Catalunha ao País Basco, as duas regiões são tratadas de forma muito diferente: o País Basco (tal como Navarra) está fora daquilo a que se chama o "regime comum", onde estão integradas as restantes 15 comunidades autónomas. Nessas 15 regiões, o Governo central é responsável por arrecadar impostos, redistribuindo-os depois de forma a tentar alisar diferenças entre mais ricos e mais pobres.
O regime comum é financiado com metade da receita de IRS e de IVA, assim como a totalidade dos impostos sobre o capital, entre outros. E não se pode dizer que ele não tem resultados: as diferenças orçamentais face à média nacional caem para metade depois das transferências.
Enquanto uma das regiões mais ricas de Espanha, a Catalunha é a terceira que mais contribui para este sistema (superada apenas por Madrid e pelas Baleares). O mais estranho - e motivo de descontentamento - é que depois de feitas as transferências, o "ranking" das regiões com mais ou menos capacidade financeira é totalmente alterado. Cantábria, Rioja e Extremadura passam a ser as que dispõem mais recursos. A Catalunha fica ligeiramente abaixo da média nacional. Ou seja, arrecadam mais impostos do que a média, mas beneficiam de menos recursos.
Um estudo do Ministério das Finanças espanhol realizado em 2014 concluía que, sem este esquema de distribuição, a Catalunha teria mais 8,5 mil milhões de euros para gastar. Mais de 4% do PIB.
Tudo somado, o racional económico da independência (ou mais autonomia) fica mais claro: são mais prósperos, têm uma economia maior do que alguns Estados da moeda única e é um dos que mais contribui para um sistema que depois os coloca em desvantagem relativa face a outras regiões.
Estes números não provam que os catalães estariam melhores sozinhos. Além das óbvias questões legais, é ter em conta várias vulnerabilidades. É razoável considerar que haverá provavelmente fuga de empresas e consequente destruição de postos de trabalho. O financiamento seria outra incógnita, embora alguns estudos estimem que um novo país teria um "rating" alto. A questão mais decisiva seria obviamente a permanência na UE e no euro. Fora destes espaços, a economia catalã perderá uma parte importante da força que os números parecem demonstrar.