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Festa, cravos, votos, confrontos e feridos: Houve de tudo na Catalunha

O dia do referendo independentista catalão começou em festa, as ruas cheias e pessoas a distribuir cravos numa alusão à revolução pacífica portuguesa de 1974. Mas ainda de manhã o ambiente degradou-se com o registo de confrontos. Há já centenas de feridos.

01 de Outubro de 2017 às 17:20
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Foi curto o pavio do clima de festa que se viveu ao início da manhã na Catalunha. Rapidamente o ambiente festivo proporcionado pelos milhares de catalães que desceram às ruas para votar no referendo independentista agendado para este domingo, 1 de Outubro (1-O), deu lugar a confrontos que resultaram em pelo menos 460 feridos, alguns muito graves, segundo informou a meio desta tarde a presidente da câmara de Barcelona, Ada Colau.

 

Antes ainda das 09:00, a hora em que abriram as urnas (fecham às 20:00 locais, mais uma hora do que em Lisboa), havia, segundo a imprensa internacional, filas enormes de pessoas que se juntaram à porta das assembleias de voto para impedir que as mesmas fossem encerradas pelas forças de segurança nacionais (Guardia Civil e Polícia Nacional). Até às 18:00 tinham sito feitas quatro detenções por crimes de resistência, desobediência e acções contra as forças de autoridade, segundo refere o El Mundo.

Estas receberam ordens no sentido de impedirem a realização de uma consulta popular considerada "ilegal" pelas autoridades políticas e judiciárias espanholas.

 

Apesar de os Mossos d’Esquadra (polícia catalã) terem revelado que até à hora de almoço tinham procedido ao encerramento de 183 assembleias de voto, o Ministério do Interior de Espanha adiantou que até às 15:00 locais tinham sido encerrados somente 92 pontos de voto. Por seu lado, ao início da tarde a Generalitat garantia que 73% dos locais de voto previstos estavam em pleno funcionamento.

 

Para contornar esta questão, uma hora antes da abertura das urnas a Generalitat aprovou uma medida que permite aos eleitores catalães votarem em qualquer assembleia de voto e não apenas na correspondente à sua morada. É também permitida a utilização de boletins de voto impressos em casa, isto porque nos últimos dias foram apreendidos largos milhares.

 

O presidente do governo autonómico da Catalunha, Carles Puigdemont, foi um dos eleitores que votou numa assembleia de voto que não a sua. O líder da Generalitat, que está sob ameaça de prisão por desobediência devido a ter promovido o referendo de 1-O apesar de ordem judicial contrária, votou em Cornellà de Terri já que o colégio eleitoral de Sant Julià de Ramis foi encerrado pela Guardia Civil.

 

Considerando que as ordens dadas aos Mossos d’Esquadra com vista ao encerramento de colégios eleitorais não estavam a ser devidamente cumpridas, a Guardia Civil e a Polícia Nacional, que acusam a política catalã de "passividade", começaram a actuar ainda de manhã. Entraram em várias assembleias de voto e tentaram desmobilizar as pessoas que ali se encontravam.


 

O ambiente inicial festivo, em que vários independentistas empunhavam e distribuiam cravos para, aludindo à revolução portuguesa de 25 de Abril de 1974, passar uma imagem de acção política pacífica e favorável à democracia, degenerou. Das palavras de ordem aos confrontos foi um passo. Madrid reagiu dizendo que a insistência da Generalitat em contrariar a lei obrigou o governo liderado por Mariano Rajoy a "fazer o que não queria".

 


"A absoluta irresponsabilidade da Generalitat teve de ser substituída pelo profissionalismo das forças de segurança", declarou a número dois do executivo de Rajoy, Soraya Sáenz de Santamaría, que assegura que as forças de segurança tinham como objectivo da sua actuação o "material eleitoral e não as pessoas".

 

Do lado da Generalitat responsabiliza-se o governo espanhol pela "violência injustificada". "O recurso injustificado e irresponsável de violência pelo Estado espanhol é evidente", disse Puigdemont que considera que "hoje o Estado espanhol perdeu muito mais do que até agora". Na mesma linha, Artur Mas, nacionalista e ex-presidente da Generalitat, afiança que "hoje o Estado espanhol acabou de perder a Catalunha".

 

Mais longe foi Ada Colau que exige a demissão de Rajoy. Pelo seu lado, o PSOE apela ao fim da acção policial contra a população catalã, recordando que quaisquer que sejam os resultados da consulta popular de hoje, o referendo "não é vinculativo". Como tal, os socialistas espanhóis, defensores de uma alteração constitucional tendente à federalização espanhola, pedem que se retome o diálogo entre a Generalitat e o governo central. 

 


A não actuação conforme as ordens por parte da polícia catalã já fez com que chegassem queixas de "desobediência" ao Ministério Público. O Tribunal Superior de Justiça da Catalunha (TSJC) tinha ordenado aos Mossos d’Esquadra para impedirem a realização do referendo. O El Mundo escreve mesmo que um juiz espanhol já procedeu à abertura de um processo contra a polícia catalã pelo crime de desobediência.

 

Há também registos de confrontos verbais entre elementos da polícia catalã e das forças centrais, já que os primeiros se recusaram a recorrer à força para desmobilizar pessoas e proceder ao encerramento de assembleias de voto.

 

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