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"Sim" vence com 90% na Catalunha e abre a porta a declaração de independência

Com uma participação superior a 2 milhões de eleitores, 90% dos boletins validados são a favor de uma Catalunha independente e menos de 8% do "não". Segunda-feira vai começar com reuniões em Madrid e Barcelona. Mas o roteiro deve passar por uma declaração unilateral de independência.

Reuters
02 de Outubro de 2017 às 01:59
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As dúvidas sobre se haveria ou não votação no referendo independentista do passado domingo, 1 de Outubro (1-O), foram dissipadas ao longo da jornada que culminou com uma clara vitória do "sim" à independência da Catalunha face ao reino de Espanha. 

 

Segundo os dados revelados pelo governo autonómico catalão (Generalitat), o "sim" obteve um pouco mais de 2 milhões de votos que representam 90,09% do total de mais de 2,2 milhões de boletins de voto validados. A participação acabou por superar o milhão de votos definido pela Generalitat como já sendo indicativo de "êxito" na consulta popular. O "não" ficou-se por 176,5 mil votos (7,87%).

 

O porta-voz da Generalitat, Jordi Turull, explicou que faltam ainda contabilizar cerca de 15 mil votos e que, devido ao encerramento de várias assembleias de voto bem como a apreensão de muitas urnas de voto, em torno de 770 mil catalães terão ficado impossibilitados de votar, pelo que a participação registada superior a 40% poderia ter facilmente chegado aos 55%, explicou Turull.

 


Antes já Carles Puigdemont, presidente da Generalitat, tinha agradecido a "impressionante resposta dos cidadãos" numa jornada marcada pela disputa entre independentistas e as forças de segurança espanholas cujas cargas policiais provocaram pelo menos 844 feridos.

 

Puigdemont defendeu que a Catalunha "ganhou o direito a ser um estado independente" e anunciou que, nos "próximos dias", fará chegar os resultados do referendo ao parlamento catalão. Será então altura para o parlamento agir em conformidade com a lei do referendo e a lei de desconexão aprovadas no início de Setembro, o que significa que estaremos na antecâmara de uma declaração unilateral de independência.

 

Esta é a via defendida por vários elementos da maioria nacionalista no parlamento catalão, designadamente pela CUP, mas que não garante por si só a secessão da Catalunha relativamente ao reino de Espanha.

 


A forma como Madrid actuou na gestão da crise catalã, principalmente o recurso à força para dispersar eleitores que fizeram vigílias junto às assembleias de voto para evitar o encerramento das mesmas pela Guardia Civil e pela Polícia Nacional, foi para Puigdemont uma "página vergonhosa [escrita] na relação com a Catalunha".

Comportamento que abriu uma nova via reivindicativa para a Catalunha, já que Carles Puigdemont explicou que a violência utilizada mostra que o nacionalismo catalão "já não é um assunto interno, mas de interesse europeu". "A União Europeia não pode continuar a olhar para o lado, os direitos fundamentais estão em perigo devido aos abusos de um Estado que se comporta de forma autoritária", acrescentou o presidente da Generalitat que tenta mostrar que os direitos humanos dos catalães estão em causa. Note-se que um dos requisitos para a aplicação do direito à autodeterminação dos povos é precisamente o desrespeito pelos direitos individuais. 

 

Rajoy mantém que não houve nenhum referendo

 

Ao início da noite de ontem, o primeiro-ministro espanhol insistiu na tese da ilegalidade do processo separatista levado a cabo pelos dirigentes catalães. Mariano Rajoy declarou que o que aconteceu na Catalunha não foi nenhum referendo mas uma "encenação".

 


E pese embora as imagens que davam conta de uma aparente forte mobilização do povo catalão, Rajoy garantiu que "
a maioria dos catalães ignoraram a convocatória" referendária.

 

O também presidente do PP fez questão de se desresponsabilizar pela violência que acabou por manchar um dia que se antecipava de grande tensão frisando que a responsabilidade deve ser assacada a quem "pedimos muitas vezes que rectificassem e não nos escutaram".

 

Rajoy falava do facto de, apesar dos repetidos avisos e da ilegalidade decretada pelo Tribunal Constitucional e ameaças de prisão a todos os que participassem na organização do referendo, a Generalitat ter levado avante o processo separatista.

 

O chefe do governo espanhol anunciou que já na manhã desta segunda-feira vai reunir-se com os líderes dos partidos representados no parlamento de Espanha a fim de "reflectir sobre o futuro".

 

O líder popular não deixou nenhuma indicação sobre se abrirá agora a porta ao diálogo com as instituições catalãs, isto depois de ter ficado clara a incapacidade de Madrid em fazer cumprir as ordens políticas e judiciais que impediam uma consulta popular que acabou por acontecer mesmo envolta por tensão e violência policial.

 

Isso mesmo ficou patente na actuação dos Mossos d’Esquadra (polícia local catalã), que rejeitou cumprir as ordens provocando a abertura de inquéritos por desobediência. Houve inclusivamente registo de confrontos verbais entre elementos da polícia catalã e da polícia nacional.

Os próximos dias confirmarão se a Generalitat prossegue a provável via de ruptura, de que a declaração unilateral de independência é um passo previsto e enquadrado pela lei de desconexão aprovada no mês passado. É ainda previsível que o imobilismo de Madrid e o recurso à força a coberto da legalidade, de que as imagens de confrontos fazem prova, tendam a alimentar o sentimento independentista do povo catalão.  

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