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Procurador-geral admite prender líder do Governo catalão antes do referendo
A seis dias da data prevista para o referendo sobre a independência, o conflito na Catalunha continua a escalar e os empresários espanhóis já sentem a quebra no investimento e no consumo.
Arranca em clima de tensão máxima a semana que poderá culminar no domingo, 1 de Outubro, com o referendo sobre a independência na Catalunha, de que as autoridades regionais não abdicam e que o Governo de Madrid continua a tentar bloquear por todos os meios, dos judiciais aos policiais até ao bloqueio de páginas na Internet.
Esta manhã, o procurador-geral do Estado, José Manuel Maza, adiantou que ao organismo que lidera ainda não pareceu "oportuno" pedir a detenção do presidente do governo catalão pelo crime de desfalque, mas reconheceu, citado pelo El Pais, que essa é uma possibilidade que continua "aberta".
Estas declarações do responsável da Procuradoria, cargo que ocupa desde Novembro do ano passado, surgem no dia em que o Tribunal de Contas do país vizinho impôs uma fiança de 5,25 milhões de euros, a pagar em 15 dias, ao ex-presidente da Generalitat, Artur Mas, precisamente por ter usado fundos públicos na "consulta simbólica" feita em 2014, em que participaram 2,3 milhões de catalães e 80% se pronunciaram pela independência. E já foram criadas contas solidárias para ultrapassar as "sanções impostas pelo Estado" central.
As autoridades da comunidade autónoma assinaram a 6 de Setembro a convocação de um referendo vinculativo sobre a independência. A lei que aprovou esta consulta popular no parlamento regional, em que os partidos separatistas têm maioria, foi logo no dia seguinte suspensa como medida cautelar pelo Tribunal Constitucional espanhol. Entretanto, 14 dirigentes da Generalit foram mesmo detidos e o governo espanhol tomou o controlo total das contas da Catalunha.
Aos avisos de Mariano Rojoy para que "não subestimem a força da democracia espanhola", o presidente regional, Carles Puigdemont, já respondeu que "não subestimem a força do povo catalão". E enfrentando todos os bloqueios, que rapidamente escalaram do plano constitucional para o financeiro e logístico, o Executivo da região mais rica de Espanha, que conta 7,5 milhões de habitantes e um terço da dimensão de Portugal, insiste que haverá votação e que, caso ganhe o "sim", em dois dias o Parlamento proclamará a independência.
Na véspera da primeira reunião de coordenação, agendada para esta tarde, entre a Guardia Civil, a Polícia Nacional e os Mossos d’Esquadra – a polícia autonómica, que o porta-voz da Generalitat já reclamou que juridicamente não pode ser colocada sob coordenação do Ministério do Interior –, o próprio Puigdemont partilhou no Twitter como é que os eleitores, usando um servidor "proxy", podem aceder a informação sobre o referendo. É que várias páginas têm vindo a ser bloqueadas, o que já motivou até uma queixa à Comissão Europeia para que intervenha sobre a "censura" que o Estado espanhol está a aplicar na Catalunha.
No es poden posar portes al camp: en aquesta web trobaràs el lloc on et correspon votar l'1 d'octubre https://t.co/XdvtLJ2ARt #1Oct
— Carles Puigdemont (@KRLS) September 23, 2017
Face a estes desafios e provocações mútuos, que está também a enervar os governos europeus, de vários quadrantes da sociedade civil espanhola continuam a multiplicar-se os apelos ao diálogo. O último chegou do Comité dos Reitores das Universidades Espanholas, que reclamou num comunicado que "face à actual conjuntura política na Catalunha, o diálogo, dentro da lei, é o único caminho para resolver um problema político que deve ter uma solução política".
Preocupados com o "abrandamento tanto no consumo como do investimento" que afirmem já se sentir em Espanha devido a esta situação de crise política que se vive na Catalunha, o patronato faz contas à vida e começa a engrossar a voz contra este ímpeto independentista. Javier Vega de Seoane, o líder do reputado "Círculo de Empresarios", que tem sede em Madrid e como sócios mais 200 executivos das principais empresas locais e estrangeiras que operam no país, desabafou ainda à agência Efe que a situação económica só não é pior porque a região tem "cidadãos estupendos", já que "se fosse pelos seus dirigentes, a Catalunha estaria bastante mal".
Na semana passada, o ministro espanhol das Finanças já tinha dramatizado que a independência da Catalunha seria uma decisão "irracional" e provocaria um "brutal empobrecimento" na região, até porque 75% da produção catalã passaria a estar sujeita a tarifas. Luis de Guindos calculou ainda que a secessão resultaria numa quebra de 25% a 30% do PIB catalão.