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Dia da Mulher: Nem as sogras escapam à tentativa de reter talento feminino na Índia

Reter talento feminino nas empresas indianas – numa sociedade em que a família tem sempre primazia sobre a carreira profissional – tem obrigado as empresas a ser criativas no tipo de incentivos que oferecem às suas funcionárias.

45 India
Inês F. Alves inesalves@negocios.pt 08 de Março de 2016 às 13:44

Em vez do tradicional dia para levar os filhos a conhecer o local de trabalho, algumas empresas estão a promover o dia de levar a sogra à empresa. Há ainda quem permita às mulheres levar os filhos nas viagens de trabalho com todas as despesas pagas. Há empresas que promovem cursos para equilibrar a vida profissional e familiar e ainda quem opte por oferecer um género de "cheque família".

Escreve a Bloomberg que as empresas na Índia, especialmente as multinacionais e tecnológicas, estão a diversificar os incentivos para evitar que as mulheres abandonem o emprego depois de casarem ou terem filhos. Ao mesmo tempo, o Governo indiano está a preparar o aumento da licença de maternidade para os seis meses e meio pagos, sendo que algumas empresas já tomaram a iniciativa de prolongar as licenças.

O objectivo é reter talento feminino no mercado de trabalho, algo especialmente num país onde uma maior integração das mulheres no mercado de trabalho pode impulsionar o crescimento económico na ordem dos 2%, de acordo com dados da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico.

Segundo estimativas da McKinsey & Co, se existisse paridade laboral o produto interno bruto da Índia poderia ser 60% maior em 2015 do que se se mantiverem os níveis actuais de participação feminina no mercado de trabalho.

Assim sendo, este tipo de incentivos são cruciais. Porquê as sogras? Porque estas tendem a pressionar as noras a ficar em casa e a cuidar da família. Então a General Electric, na Índia, começou a promover o "dia de trazer a sogra ao trabalho". A ideia é que estas possam perceber o que as suas noras engenheiras fazem todo o dia.

"O efeito foi dramático", contou Ipsita Dasgupta, responsável comercial da empresa para o sul da Ásia. "As mulheres regressam e dizem que ‘agora a minha sogra grita ao meu marido e diz-lhe: coloca no jantar na mesa. Ela tem coisas importantes para fazer amanhã".

A Bloomberg cita outro exemplo, da empresa de recursos humanos TeamLease, que adoptou um programa que permite às mulheres levar consigo filhos com menos de cinco anos em viagens de trabalho, sendo a empresa a assumir todas as despesas.

"Reparámos que, especialmente no segmento de vendas, temos muitas mulheres talentosas e com alto desempenho que abandonam o emprego quando têm filhos ou casam", contou Rituparna Chakraborty, vice-presidente da TeamLease, para quem os custos da medida são compensados pelo desempenho e envolvimento das funcionárias no trabalho.

A empresa Paytm Mobile Solutions tem planos para abrir uma creche interna, a HCL Technologies tem um curso para mulheres com dificuldade em equilibrar a carreira profissional e a vida familiar. O Citigroup oferece 132,000 rupias (1.788 euros) por ano para ajudar famílias com filhos, um incentivo da empresa exclusivo para a Índia, escreve a Bloomberg.

"A noção de que ‘o meu trabalho é secundário em relação ao meu marido’ está presente nas mulheres, e é algo que combatemos todos os dias", conta Anuranjita Kumar, responsável de recursos humanos para o sul da Ásia, do Citigroup.

De acordo com dados o Banco Mundial, a percentagem de mulheres no mercado de trabalho indiano era de 37% em 2005, tendo recuado para 27% em 2014.

"Isto é uma questão cultural, e ainda existem muitos argumentos por parte da sociedade para que as mulheres fiquem em casa", disse à Bloomberg Akhilesh Tilotia, autora de um livro que visa a transição económica da Índia.

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