Opinião
Marques Mendes: O BE desmascarou-se. Afinal é igual aos outros partidos
As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador fala do caso Ricardo Robles, dos fogos na Grécia, da crise nos comboios, da descentralização contestada, de Centeno e os professores e a entrevista de Rio.
CASO RICARDO ROBLES
- Este caso é um desastre político para Ricardo Robles e para o Bloco.
- Hipocrisia e incoerência de Ricardo Robles
a) O vereador do Bloco de Esquerda não cometeu nenhuma ilegalidade. O que ele fez faz muito boa gente: compra um imóvel, valoriza-o com obras e coloca-o à venda para fazer uma mais-valia e ter um lucro significativo.;
b) O problema é que Ricardo Robles, no discurso, é contra este tipo de operações. Para ele, estas operações são especulativas e absolutamente condenáveis.
c) Ou seja: ele diz uma coisa e depois faz outra. Ele critica os especuladores mas depois é um deles. Ele reprova a especulação, mas beneficia com ela. A isto chama-se incoerência e hipocrisia. É a velha máxima de Frei Tomás: olha para o que ele diz, não para o que ele faz.
d) A partir de agora, este homem perdeu autoridade, legitimidade e credibilidade. Não tem autoridade para criticar os negócios imobiliários; não tem legitimidade para denunciar a especulação. E a sua credibilidade fica nas ruas da amargura. Não é mais levado a sério.
- Finalmente, o desastre do Bloco de Esquerda.
a) Perante o que se passou, o BE só tinha uma atitude credível – demarcar-se de Ricardo Robles. Ao fazer o contrário, o BE desmascarou-se – afinal, é igual aos outros. Critica os adversários mas pactua com os seus.
b) É deprimente ver Catarina Martins a defender o indefensável. Se isto se passasse com alguém de direita, censurava, reprovava, pedia a demissão, caía o Carmo e a Trindade. Como é dentro de casa, cala, consente e aprova. É assim que se perde a credibilidade.
c) Afinal, é fácil criticar os outros. Pinho, Sócrates, Tutti-Frutti, o BPN, tudo isso. Mas o que é credível é ter a coragem de criticar os seus, de pôr ordem dentro da própria casa. O BE está a ser vitima dos falsos moralismos que apregoa e com os quais gosta de desqualificar os adversários.
FOGOS NA GRÉCIA
- Infelizmente, tudo isto faz lembrar Portugal de 2017. Já vimos este filme.
a) Uma tragédia sem descrição, com gente completamente desesperada;
b) Incêndios violentíssimos que ninguém foi capaz de parar;
c) Acusações de falta de atenção, de desleixo, de inércia e de falta de combate. Pedidos de demissão e acusação de responsabilidades políticas.
d) Infelizmente, quase tudo igual.
- Mas há outro problema: o combate às alterações climáticas.
a) Catástrofes destas vão ser, infelizmente, cada vez mais frequentes no futuro, por causa da conjugação de dois factores: um clima mais seco (sobretudo na região do Mediterrâneo) e temperaturas mais elevadas.
b) O que nos conduz à questão das alterações climáticas. É um problema sério. Não é nenhuma invenção.
c) A grande questão é esta: estamos ou não estamos a cumprir as metas definidas para estancar o aumento da temperatura média do Planeta? Vejamos três quadros essenciais:
- Quadro 1 – Ranking europeu – Portugal é o segundo melhor país europeu no cumprimento das metas definidas.
- Quadro 2 – Energia Renovável no Consumo Final de Energia – Portugal já alcançou 92% da sua meta para 2020.
- Quadro 3 – Gases com Efeito de Estufa – Estamos a descarbonizar a economia.
CRISE NOS COMBOIOS
- Contestação popular durante a semana relativamente à degradação da qualidade dos serviços da CP. Compreende-se. A situação é explosiva:
- Há 20 anos que não se compra um comboio novo em Portugal.
- As estimativas apontam para a necessidade de 10 novos comboios para o longo curso e de 25 para o serviço regional.
- Há falta de pessoal na área de manutenção (EMEF) porque saem os que se reformam e não são substituídos.;
- Os poucos investimentos que têm sido feitos são nas linhas e não em material circulante.
- E, como se tudo isto não chegasse, a partir do próximo ano chega a Portugal a liberalização no transporte ferroviário de passageiros. Logo, mais concorrência, mais operadores, espanhóis e não espanhóis, e, como dizia há dias um sindicalista, isto pode ser a "morte da CP".
- Por que é que isto sucede? Por dois erros antigos em matéria de transportes: ou falta de investimento ou investimento errado.
a) Governo Durão Barroso – Não havia recursos para investimento público. Portugal entrou na lista negra dos défices e teve de apertar o cinto.
b) Governo José Sócrates – Houve a megalomania do TGV e a irresponsabilidade das PPP rodoviárias. A ferrovia ficou a ver navios.
c) Governo Passos Coelho – Com a troika e o espectro da bancarrota, não havia dinheiro para investimento público.
d) Governo António Costa – Muitas promessas e muita propaganda (até foi aprovado o Programa Ferrovia 2020, que está tudo muito atrasado, por causa das cativações). E o investimento previsto é sobretudo em obras e não em material circulante.
- Em conclusão: sem investimento, os serviços públicos degradam-se. É assim na Saúde. É assim nos Comboios. E é muita gente afectada.
- Em 2017 houve 122 milhões de passageiros a viajar na CP.
- É natural que as pessoas se revoltem. Precisam do comboio para ir para o trabalho. Não para fazer turismo.
DESCENTRALIZAÇÃO CONTESTADA
- O Parlamento aprovou há dias, por maioria PS/PSD, a nova lei quadro de descentralização. Uma lei que está a ser muito contestada pelos autarcas e que é, na prática, uma fraude:
a) Primeiro – Não é uma reforma. É um simulacro de reforma.
b) Segundo – Tudo o que é importante continua no Poder Central.
c) Terceiro – As populações voltam a ser defraudadas.
- Vejamos apenas alguns exemplos na Educação e na Saúde.
a) Educação:
- Os municípios vão definir a oferta formativa dentro do seu concelho? Quantos cursos e que tipo de cursos? Não.
- E definir o número de turmas e de alunos por turma? Não.
- E ajustar horários e calendário escolares à realidade local? Não.
- E ter responsabilidades sobre os professores? Não.
- Acerca disto, que é essencial para o sucesso educativo, tudo continua na mesma.
b) Saúde:
- Os municípios vão tratar da gestão dos centros de saúde? Não.
- E ter a responsabilidade sobre o seu pessoal técnico, superior e administrativo? Não.
- E definir a estratégia de intervenção domiciliária? Não.
- Acerca de tudo isto, NADA. Nenhuma mudança concreta!
- Esta lei é mais uma oportunidade perdida. Claro que na prática é impossível o Presidente da República vetá-la, porque foi aprovada por uma maioria alargada de dois terços( PS/PSD). Mas era o que verdadeiramente merecia: ser vetada e devolvida ao Parlamento para ser aprofundada.
CENTENO E OS PROFESSORES
- A entrevista do MF ao Público visava marcar terreno e deixar vários recados sobre o próximo OE. Mas converteu-se, afinal, numa entrevista sobre a questão dos professores. E Mário Centeno fez de polícia mau – não é possível satisfazer as pretensões dos professores. O que falta saber é se, nesta matéria, vamos ter um polícia bom.
- A questão dos professores é um berbicacho para o Governo. Já não há nenhuma boa solução. Há as más e as menos más. Vejamos:
a) Se o Governo dá o que os sindicatos pedem, compromete o OE e gera um precedente de proporções financeiras incalculáveis. Impossível.
b) Se o Governo dá o que os sindicatos pedem mas de forma gradual, ao longo de anos, compromete os anos futuros, os governos futuros e os orçamentos futuros. Inaceitável.
c) Se o Governo dá o que os sindicatos pedem, não em remuneração mas em antecipação da idade de reforma – a solução menos má – acaba por ceder à mesma, cria um precedente para outras carreiras e tem igualmente impacto financeiro na Caixa Geral de Aposentações.
d) E, finalmente, se o Governo cede aos professores, desagrada à opinião pública que está contra a reivindicação dos professores. Se o Governo não cede e o conflito se mantém, provavelmente o Governo paga um preço político – não chega à maioria absoluta. Os professores têm um peso eleitoral significativo.
- Em conclusão: o que nasce torto tarde ou nunca se endireita. Este provérbio aplica-se na perfeição ao caso dos professores. O Governo criou facilidades no início. Por isso, colhe agora dificuldades.
A ENTREVISTA DE RIO
- Na forma, Rui Rio esteve bem. Esteve solto, tranquilo, descontraído, fluente, afirmativo. Passou uma imagem de autenticidade e sentido de Estado.
- No conteúdo, teve uma falha e uma precipitação.
a) A falha é que Rui Rio foi igual a António Costa. Em quase tudo. Nos professores, no salário mínimo, nos impostos. A diferença é meramente de calendário e de ritmo. Não há diferenças de fundo. E isto sucede porquê?
- Primeiro, porque Rio gosta de António Costa, aprecia António Costa, concorda no essencial com António Costa. É a vida. Gostos não se discutem.
- Depois, porque Rio não tem um pensamento alternativo ao do Governo. O que é um risco: se aos olhos do país não há diferenças entre Costa e Rio, os portugueses preferem o original à cópia.
b) A precipitação de Rui Rio foi a ideia que lançou de que, se o OE chumbasse, o PS devia apoiar um Governo PSD/CDS. Uma ideia que não lembrava "ao careca".
- Então Rio vai falar em nome do CDS? O líder do PSD pode falar pelo PSD mas não pode falar pelo CDS. O CDS não é um apêndice do PSD. Por isso é que o CDS não gostou e Cristas veio logo criticar Rio e demarcar-se da ideia.
- Conclusão: esta ideia parece ter sido inventada no Largo do Rato. Objectivamente só serviu para criar dificuldades entre PSD e CDS. Logo, só serviu aos interesses de António Costa.
MARCELO OUVE PARTIDOS
- Amanhã e na 3ª feira o PR vai ouvir os partidos. Do que é que verdadeiramente se trata?
a) Primeiro: é uma iniciativa habitual do Presidente.
b) Segundo: não é difícil antever os principais temas a abordar.
- No plano externo – A UE, o Quadro Financeiro Plurianual e as Migrações.
- No plano interno – A questão do OE; dos professores: o estado da saúde; a legislação laboral; os incêndios florestais.
- Politicamente falando, julgo que há pelo menos três questões relevantes:
a) Primeira questão: o Presidente quer assegurar-se de que o OE para 2019 vai ser mesmo aprovado pela geringonça. Ou seja, que não haverá nem crise nem eleições antecipadas. E julgo que vai ter respostas favoráveis.
b) Segunda questão: a eventual criação de um novo partido, a ser liderado por Santana Lopes. Vai ser provavelmente um tema a abordar. O PR vai seguramente querer indagar: o que pode mudar, sobretudo à direita? Que perturbações e que desafios o novo partido pode colocar ao nosso sistema partidário?
c) Terceira questão: o novo ano lectivo, a abrir em Setembro. Com a crise dos professores em agenda, o PR vai querer assegurar-se de que o próximo ano lectivo vai abrir com normalidade, assim defendendo os anseios dos alunos e das suas famílias.
NOTAS FINAIS:
- Excelentes resultados da CGD e do BCP
- Um português em alta – Fausto Quadros
- Comporta – Adiada a venda para garantir transparência
- Boas notícias para os emigrantes:
a) Recenseamento eleitoral passa a ser automático.
b) Voto por correspondência passa a ser gratuito.
c) Cidadãos com dupla nacionalidade, residentes no estrangeiro, passam a poder ser eleitos para a AR (desde que não tenham cargos nos países de acolhimento).