Notícia
Corrida ao lítio faz disparar preços e deixa mineiras sem mãos a medir
A electrificação automóvel, cujas baterias implicam elevadas quantidades de lítio no seu fabrico, estão pôr pressão do lado da oferta e a fazer aumentar os preços. A entrada de novos 'players' demora tempo e o investimento é muito elevado.
26 de Agosto de 2017 às 17:00
Nas salinas da Cordilheira dos Andes, na América do Sul, escondem-se vastos depósitos do lítio que Elon Musk, o fundador da Tesla, pode precisar para a sua revolução dos automóveis eléctricos. Mas a extracção deste mineral das lagoas de salmoura criadas pela Orocobre está a tornar-se mais difícil que o esperado.
O mau clima e as falhas técnicas na bombagem a partir da salmoura levaram a que a produção no primeiro semestre em Olaroz, no norte da Argentina, tenha sido 21% inferior à meta inicial da Orocobre. A situação está a regressar ao normal, mas o CEO Richard Seville afirma que a empresa "subestimou a complexidade ou sobrestimou a sua própria capacidade".
Em todo o mundo as produtoras têm tido dificuldades para acompanhar a procura, tendo em conta que os carros eléctricos passaram das vendas residuais de há uma década para mais de meio milhão de veículos no ano passado. A bateria do Model S da Tesla usa cerca de 45 quilos de carbonato de lítio. Há mais minas a serem planeadas, mas as dificuldades em Olaroz - a primeira mina de lítio da América do Sul criada em duas décadas - limitam o financiamento de novos empreendimentos na Argentina, território que abriga a terceira maior reserva mundial daquele mineral.
"A incerteza no lado da oferta está a fazer subir os preços e a deixar os investidores nervosos", disse Daniela Desormeaux, CEO da consultoria focada no lítio SignumBOX, sedeada em Santiago. "Precisamos de um novo projecto a entrar no mercado em cada ano para responder à procura crescente. Se isso não acontecer, o mercado ficará constrangido."
Preços reagem a forte procura
Os preços do carbonato de lítio, a base química produzida pela indústria, mais do que duplicou nos cinco anos que precederam 2016, segundo o UBS Group AG. O valor deste material aumentou em média 5% entre Junho e Julho, para uma média de 14.250 dólares por tonelada, de acordo como a Benchmark Mineral.
A Austrália é a maior produtora de lítio, embora Chile e Argentina representem 67% das reservas globais, segundo a U.S. Geological Survey.
A experiência da Orocobre na Argentina mostra que o processo tem desafios, sobretudo para uma empresa estreante.
"A produção de lítio não é fácil", disse Juan Esteban Fuentes, director da CRU Group para a América do Sul, entrevisto em Santiago, Chile. "É necessário um elevado conhecimento técnico e químico. Haverá certamente mais interrupções sempre que chegam ao mercado empresas que nunca extraíram lítio e que não têm esse conhecimento técnico."
Investidores cautelosos
Dos 39 empreendimentos de lítio acompanhados pela CRU, apenas quatro mantêm compromissos firmes e todos estão na China, somando cerca de 24 mil toneladas de oferta anual. Outros 10 projectos, que representam 400 mil toneladas, são classificados como "prováveis" -- no Canadá, no Chile, na China, no México, na Argentina e na Austrália --, mas é provável que apenas cerca de 30% cheguem à fase de produção, afirmou a CRU.
Os problemas iniciais da Orocobre estão a ser acompanhados de perto pelos investidores, cada vez mais relutantes em financiar projectos de novos players na Argentina, afirmou Gabriel Rubacha, chefe de operações da Lithium Americas na América do Sul.
O Chile considera que o lítio é "estratégico", o que significa que as eventuais produtoras precisam de autorização da Comissão de Energia Nuclear e que as condições operacionais são estabelecidas directamente pelo governo, caso a caso. A Wealth Minerals estima que demorará sete anos a montar uma operação no Chile.
"Mas temos uma janela de apenas 25 anos para desenvolver esses projectos, porque os preços podem cair novamente assim que surgir um substituto para o lítio", explicou Marcelo Awad, gerente da Wealth para o Chile, em entrevista, em Santiago.
Texto publicado originalmente a 22 de Agosto, disponível no site da Bloomberg.
O mau clima e as falhas técnicas na bombagem a partir da salmoura levaram a que a produção no primeiro semestre em Olaroz, no norte da Argentina, tenha sido 21% inferior à meta inicial da Orocobre. A situação está a regressar ao normal, mas o CEO Richard Seville afirma que a empresa "subestimou a complexidade ou sobrestimou a sua própria capacidade".
"A incerteza no lado da oferta está a fazer subir os preços e a deixar os investidores nervosos", disse Daniela Desormeaux, CEO da consultoria focada no lítio SignumBOX, sedeada em Santiago. "Precisamos de um novo projecto a entrar no mercado em cada ano para responder à procura crescente. Se isso não acontecer, o mercado ficará constrangido."
Preços reagem a forte procura
Os preços do carbonato de lítio, a base química produzida pela indústria, mais do que duplicou nos cinco anos que precederam 2016, segundo o UBS Group AG. O valor deste material aumentou em média 5% entre Junho e Julho, para uma média de 14.250 dólares por tonelada, de acordo como a Benchmark Mineral.
A Austrália é a maior produtora de lítio, embora Chile e Argentina representem 67% das reservas globais, segundo a U.S. Geological Survey.
A experiência da Orocobre na Argentina mostra que o processo tem desafios, sobretudo para uma empresa estreante.
"A produção de lítio não é fácil", disse Juan Esteban Fuentes, director da CRU Group para a América do Sul, entrevisto em Santiago, Chile. "É necessário um elevado conhecimento técnico e químico. Haverá certamente mais interrupções sempre que chegam ao mercado empresas que nunca extraíram lítio e que não têm esse conhecimento técnico."
Investidores cautelosos
Dos 39 empreendimentos de lítio acompanhados pela CRU, apenas quatro mantêm compromissos firmes e todos estão na China, somando cerca de 24 mil toneladas de oferta anual. Outros 10 projectos, que representam 400 mil toneladas, são classificados como "prováveis" -- no Canadá, no Chile, na China, no México, na Argentina e na Austrália --, mas é provável que apenas cerca de 30% cheguem à fase de produção, afirmou a CRU.
Os problemas iniciais da Orocobre estão a ser acompanhados de perto pelos investidores, cada vez mais relutantes em financiar projectos de novos players na Argentina, afirmou Gabriel Rubacha, chefe de operações da Lithium Americas na América do Sul.
O Chile considera que o lítio é "estratégico", o que significa que as eventuais produtoras precisam de autorização da Comissão de Energia Nuclear e que as condições operacionais são estabelecidas directamente pelo governo, caso a caso. A Wealth Minerals estima que demorará sete anos a montar uma operação no Chile.
"Mas temos uma janela de apenas 25 anos para desenvolver esses projectos, porque os preços podem cair novamente assim que surgir um substituto para o lítio", explicou Marcelo Awad, gerente da Wealth para o Chile, em entrevista, em Santiago.
Texto publicado originalmente a 22 de Agosto, disponível no site da Bloomberg.