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O remate empresarial de José Veiga

Entrou no mundo do trabalho como pintor de automóveis mas foi como agente de jogadores de futebol que saltou para a cena mediática. Hoje dedica-se aos negócios, sobretudo em África.

23 de Janeiro de 2016 às 14:30
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Aos 53 anos, José Veiga voltou às manchetes dos jornais com a compra do Banco Internacional de Cabo Verde por 14 milhões de euros, a instituição que o Novo Banco tem naquele país africano. Um negócio que está agora dependente do aval do Banco de Portugal e das autoridades responsáveis, mas que não deixou de surpreender quem se lembrava do nome de Veiga sempre ligado ao futebol.

José Veiga nasceu em 1963, na aldeia de Seixo de Ansiães em Trás-os-Montes. Filho varão de uma família humilde, e irmão de quatro raparigas, foi no Luxemburgo que passou boa parte da infância e da adolescência. No Grão-Ducado, para onde os pais emigraram quando o jovem Veiga tinha apenas seis anos, completou o 12.º ano e, em paralelo, investiu na aprendizagem de vários idiomas que lhe viriam a ser muito úteis para as negociações futebolísticas e não só. Fala fluentemente inglês, francês, alemão, italiano e luxemburguês.

Adepto do Futebol Clube do Porto (FCP) foi um dos fundadores, juntamente com um grupo de amigos, da casa dos dragões no Luxemburgo. 

Reservado e pouco dado a manifestações exteriores do caminho que vai seguir - quando o tema são os negócios - iniciou a vida profissional como pintor de automóveis e delegado comercial mas a paixão pelo futebol levou-o à FIFA e fê-lo regressar a Portugal na década de 90. Foi pela mão de Joaquim Oliveira dono da Olivedesportos, na Futeinveste, que começou a construir a carteira de clientes que em 1994 passou para a sua empresa, a Superfute - criada com Alexandre Pinto da Costa, filho de Pinto da Costa do qual chegou a ser amigo mas com quem acabou de costas voltadas.


São da sua responsabilidade algumas das grandes transferências futebolísticas da época, desde o passe de Fernando Couto do FCP para o Parma ao de Paulo Sousa do Sporting para a Juventus. Os holofotes aqueceram com as passagens de Figo, primeiro para o Barcelona e mais tarde para o Real Madrid. Era meticuloso e rigoroso nas transacções, recorda quem conviveu com ele de perto nessa época.

Casado e pai de dois filhos quem o conhece diz que o núcleo familiar é das coisas que mais preza, desde as raízes transmontanas. Os amigos são outro dos aspectos da sua vida que gosta de manter longe das páginas dos jornais e revistas. Quem priva com ele reconhece que é difícil saber no que está a pensar mas não esquece nunca quem lhe deu a mão.

Com um faro apurado para os negócios "não dá ponto sem nós" mas acabou por sucumbir às rivalidades com Jorge Mendes nos tempos do agenciamento. Esta terá sido uma das razões porque deixou estas lides em 2004 e, apesar da paixão pelo FCP, entrou para o Benfica como director-geral da SAD. As ligações ao FCP, as eventuais tentativas de controlo do grupo de adeptos No Name e Diabos Vermelhos e o alegado envolvimento em negócios pouco claros ditaram a sua saída. Um jogo de três anos envolto em polémicas, algumas relacionadas com o fisco em Portugal – a título pessoal e ao nível da Superfute - e alegados esquemas de desvio de dinheiro no Luxemburgo que culmiraram com a sua demissão do clube da Luz.

José Veiga com Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica.
José Veiga com Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica. Record

Abandonou o drible dos clubes mas sentou-se no banco. "Fura vidas" por natureza, entre 2007 e 2009, fez consultoria para diversos clubes europeus, sul-americano e africanos. Foi neste período que conheceu alguns empresários africanos de outras áreas, que não o futebol, que lhe abriram a porta para o futuro desafio: África.

Em 2009 mudou-se de armas e bagagem para o Congo. É lá que ainda hoje mantém a residência oficial e fiscal e foi a partir deste "hub" que começou a alargar o seu leque de interesses a outros países da região. No Benin é accionista do Banque Africaine pour le Commerce et l’Industrie mas também está na Nigéria, Togo, Costa do Marfim, Guiné Conacri e Guiné Equatorial com negócios que vão desde o petróleo, ao imobiliário, energia, saúde e construção.

Um caminho discreto e meticuloso, como ele, e longe da euforia do desporto rei. Mas o nome de Veiga voltou a ser empurrado para a esfera mediática em Janeiro de 2014. O Congo entrou na lista de potenciais investidores ao aumento de capital da Espírito Santo Control que seguia em paralelo com reestruturação do Grupo Espírito Santo. A discussão no seio do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo culminou com ex-empresário do futebol, que representava interesses do Congo, a ser convidado a investir 30 milhões na Espírito Santo Control e mais 120 milhões na Rio Forte. O colapso do GES ditou o desfecho inconclusivo da operação mas havia muito mais na mente do empresário transmontano.

Actualmente, os projectos em que José Veiga está envolvido dão emprego directo e indirecto a cerca de 6.000 pessoas, das quais mais de mil são expatriados em África. No Congo construiu parques industriais e está envolvido num consórcio que está a finalizar a construção de 12 hospitais centrais. Em andamento está também a instalação de seis mil furos de água para alargar o acesso da população a água potável. E estes projectos parecem ser pequenas pontas do iceberg. O aval do Banco de Portugal para a compra pelo empresário da instituição financeira em Cabo Verde promete desvendar os meandros da "holding" de Veiga cujo nome, accionistas e fontes de financiamento continuam no segredo dos deuses.

Um percurso carregado de amores e ódio, sobretudo no futebol, onde promete não voltar.

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