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BCE rejeita dar mais tempo para a capitalização do Monte dei Paschi

A instituição liderada por Mario Draghi rejeitou o pedido feito pelo Monte dei Paschi, que solicitava o prolongamento do período para concretizar o seu plano de recapitalização na sequência da crise política aberta em Itália.

O Monte dei Paschi, o banco mais antigo do mundo, também tem sentido a pressão devido à exposição a activos de risco. O banco procura novos investidores e parceiros para vender carteiras de crédito de menor qualidade de forma a aliviar o fardo que estes representam para o seu balanço. As acções descem 52,68% em 2016.
Bloomberg
09 de Dezembro de 2016 às 13:29
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O Banco Central Europeu rejeitou a solicitação feita pelo Banca Monte dei Paschi di Siena, que pedia mais tempo para concluir o processo de recapitalização de 5 mil milhões de euros, avançam as agências Reuters e Bloomberg. Esta decisão do BCE torna mais provável um eventual resgate público. As acções do Monte dei Paschi reagiram em forte queda, caindo mais de 7%. 

Na quarta-feira passada o Monte dei Paschi pediu ao BCE o alargamento do prazo para a conclusão do processo de recapitalização até ao dia 20 de Janeiro de 2017, e não até ao final deste ano como ditam as regras europeias, justificando a necessidade de mais tempo com a "alteração do contexto de referência".

 

A alteração referida pelo banco - o terceiro maior do sistema italiano e o mais antigo do mundo em actividade – prende-se com a crise política que eclodiu em Itália com a derrota do primeiro-ministro no referendo constitucional de domingo, o que levou Matteo Renzi a apresentar a sua demissão. 

Com a extensão de cinco semanas pedida, a instituição financeira transalpina tentava ganhar tempo na expectativa de que até meados de Janeiro já pudesse haver fumo branco quanto ao próximo Governo de Itália, uma vez que o Executivo Renzi está agora em gestão. 

É que a incerteza política no país, que poderá ter de antecipar as legislativas previstas para 2018, pode penalizar o plano de recapitalização do Monte dei Paschi, que quer reforçar o capital sem impor perdas aos obrigacionistas e depositantes tal como exigem as novas regras europeias que enquadram os processos de resgate. 

Além de ser o terceiro maior banco italiano, o Monte dei Paschi tem no Estado transalpino o seu principal accionista, facto que leva o Financial Times a antecipar que a rejeição hoje anunciada pelo BCE poderá tornar-se num novo impasse entre as autoridades italianas e a Zona Euro. Este jornal britânico retoma ainda a garantia de que, a acontecer um falhanço na capitalização do Monte dei Paschi, a administração do banco atirará as responsabilidades para o BCE.


As acções reagiram logo em forte queda, recuando mais de 7%

Vendo recusado o pedido de prolongamento do prazo para concluir a recapitalização, o Monte dei Paschi poderá agora ter de avançar para um reforço de capital feito pelo Estado. Mas se o recurso ao tradicional "bail out" é dificultado pelas regras europeias, adoptar a via do "bail in" (que implica perdas para os obrigacionistas e depositantes) configura um enorme risco de contágio à economia italiana e, consequentemente, ao restante sistema financeiro da Zona Euro.

 

Depois de identificadas necessidades de recapitalização nos testes de stress levados a cabo no Verão pelo BCE, foi delineado um plano que passa por assegurar mil milhões de euros vindos dos obrigacionistas e os restantes 4 mil milhões de grandes investidores, isto além da venda de acções em mercado (com um prémio entre 23% e 37% sobre os preços em bolsa).

 

No entanto o chumbo às alterações constitucionais propostas por Matteo Renzi reabriu um período de indefinição não apenas em relação ao futuro de Itália, mas também do próprio Monte dei Paschi. Logo na segunda-feira passada, os consultores do banco, que estão a gerir estas operações, optaram por adiar a decisão sobre se mantêm o plano ou se o deixam cair, por falta de condições de mercado.

 

Desde então sucedem-se notícias a apontar como cada vez mais provável um resgate público. Já antes do referendo tinha sido noticiado que o Governo estava a negociar com Bruxelas um potencial resgate financeiro do Monte dei Paschi. E na última terça-feira foi noticiado que, se não for possível concretizar o processo de recapitalização através dos investidores, o Governo italiano tem preparado um plano B.

 

Entretanto, há dois dias, foi noticiado que está mesmo a ser preparada uma intervenção pública. O jornal italiano La Stampa deu como certo que o Governo italiano iria pedir um resgate tipo espanhol para o seu sistema financeiro, com um empréstimo de 15 mil milhões de euros do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). A notícia foi negada tanto pelo Governo, como pelo MEE, mas uma intervenção pública, ainda que noutros moldes, poderá estar a caminho. Isso foi, pelo menos, o que garantiu a Reuters.

 

Após perder o referendo Renzi aceitou congelar a demissão, a pedido do presidente Sergio Mattarella, até à aprovação final do Orçamento do Estado para 2017. O que aconteceu ainda na quarta-feira, permitindo a Renzi formalizar, no próprio dia, a sua demissão. Renzi e o seu Governo continuarão a governar até ao dia 24 de Janeiro, data para o Tribunal Constitucional se pronunciar sobre a nova lei eleitoral (Italicum).

 

Só depois dessa data é que deverá ser tomada uma decisão final sobre o que fazer: a constituição de um Governo provisório (que pode ser liderado pelo PD, por uma figura de perfil técnico ou até mesmo por Renzi), para governar até haver uma lei eleitoral homogénea ou até às eleições de 2018, ou a ida a eleições antecipadas. Para já certa é a indefinição do futuro político, mas também financeiro, de Itália. 


(Notícia actualizada pela última vez às 14:15) 
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