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Itália prepara Plano B para resgatar Monte dei Paschi
Se o plano de recapitalização através de investidores falhar, o Governo italiano tem preparado um plano para salvar o Monte dei Paschi.
O Governo italiano já tem em prevenção um plano para resgatar o Banca Monte dei Paschi, caso a instituição financeira não consiga angariar capital através dos seus accionistas e outros investidores.
A notícia é avançada pelo jornal Il Sole 24 Ore, que dá conta que o Estado italiano avançará com um aumento de capital "cautelar" no Paschi, tendo para o efeito já preparado um decreto através do qual será efectuado o resgate.
Esta intervenção estatal só avançará caso o Paschi falhe o plano de recapitalização através de fundos privados que tem em cima da mesa e através do qual pretende encaixar 5 mil milhões de euros.
Na segunda-feira, primeiro dia após o referendo que resultou na demissão do primeiro-ministro Matteo Renzi, os consultores que estão a assessorar o banco nesta operação de reforço de capital fizeram saber que foi adiada por alguns dias a decisão de se avançar ou não com o aumento de capital.
Esta terça-feira, de acordo com o jornal italiano, os gestores do Paschi têm reuniões agendadas com o Banco Central Europeu, sendo que um dos objectivos passa por pedir um adimento da venda da carteira de crédito mal parado.
O Il Sole 24 Ore assinala que se avançar o resgate do Paschi, Roma arrisca mais um confronto com Bruxelas, devido ao modelo que Itália pretende utilizar para intervir no banco, que não estará de acordo com as novas regras europeias.
O Monte dei Paschi, terceiro maior banco italiano e o mais antigo do mundo, é a instituição financeira de Itália que apresenta as maiores fragilidades, depois de no Verão ter falhado os testes de stress do BCE. Depois de conhecidos os resultados do referendo o banco convocou os consultores JPMorgan e Mediabanca, que estão a assessorar o processo de recapitalização, para se decidir o que fazer. O objectivo era avaliar se se avança com o plano ou se, por não haver condições de mercado, se deixa cair o processo.
Neste último caso, a solução seria um resgate público. Esta segunda-feira, a agência de informação Ansa revela que a opção foi a de adiar por três ou quatro dias a decisão.
Monte Paschi reforça capital em mil milhões de euros
Apesar das dificuldades em angariar capital fresco, o Banca Monte dei Paschi conseguiu reforçar o capital em 1,02 mil milhões de euros, já que cerca de um quarto dos detentores de obrigações subordinadas aceitou trocar os títulos por capital.
Os resultados da oferta foram conhecidos ao final de segunda-feira, primeiro dia após o referendo que resultou na demissão do primeiro-ministro Matteo Renzi, que não conseguiu que os italianos aprovassem as suas propostas de alteração à Constituição.
O Monte dei Paschi tinha lançado no mês passado a oferta de troca de 4,3 mil milhões de euros em dívida subordinada, tendo estimado que iria encaixar cerca de mil milhões de euros.
Os resultados saíram assim em linha com o esperado pelo banco, que contudo tem ainda várias etapas para cumprir de modo a conseguir reforçar os seus rácios de capital. O plano de recapitalização totaliza 5 mil milhões de euros e além destra troca de dívida por acções prevê uma injecção de capital de vários investidores e uma emissão de novas acções.
Investidores cautelosos
E se o Monte dei Paschi necessita de cinco mil milhões de euros já, o Unicredit, o maior banco italiano com quase 900 mil milhões de euros em activos (cinco vezes o PIB português), pode vir a necessitar em breve de 13 mil milhões de euros.
As dificuldades para Itália são adensadas pelos problemas de muitos pequenos bancos do país – alguns dos quais já foram intervencionados este ano por um fundo de resgate privado apoiado pelo Estado, que está a perder capacidade de intervenção. Além disso, o "banco mau" suportado pelo conjunto dos bancos para absorver o crédito malparado continua a suscitar reservas, em parte pela dimensão do problema a resolver: Itália tem 360 mil milhões de euros de crédito em risco, ou seja, duas vezes o PIB português, ou 4,6 vezes o empréstimo da troika a Portugal.