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Banca europeia já perdeu quase tudo o que ganhou desde que Draghi prometeu salvar o euro
Quedas expressivas voltaram a ser sentidas nas bolsas esta quinta-feira. A banca esteve em destaque, com os resultados negativos a justificarem parte do receio. A incerteza geral nas bolsas penalizou o sector.
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Lembra-se de Mario Draghi ter dito que "o Banco Central Europeu vai fazer o que for necessário para preservar a Zona Euro"? Lembra-se de as acções terem subido nos dias seguintes e de nunca terem caído desses valores? Pois bem, a recente desvalorização das acções já colocou a banca europeia próxima das cotações registadas antes dessa declaração.
O índice Stoxx para a banca europeia, que reúne as principais cotadas do sector financeiro, afundou mais de 6% esta quarta-feira. Encontra-se nos 130,48 pontos. Não era registada esta pontuação desde o início de Agosto de 2012. Mario Draghi falou na conferência em Londres a 26 de Julho desse ano.
Num contexto de instabilidade da economia global, com receios de crescimento mais brando do que o esperado (numa economia que nunca recuperou verdadeiramente desde a crise iniciada em 2007), os problemas dos bancos tornaram-se visíveis. E arrastaram-se para todo o sector. Foi, aliás, o sector que mais recuou numa Europa em que as taxas de juro associadas às dívidas soberanas dispararam. "É emoção humana", comenta na Bloomberg o vice-presidente do departamento de acções da casa de investimento Robert W. Baird, explicando que há um "sentimento negativo" no mercado ao qual se juntam preocupações específicas de cada banco.
O Deutsche Bank marcou o pontapé de saída para que o mercado tenha afundado esta semana. Circularam rumores de que o banco alemão não seria capaz de pagar as obrigações convertíveis (CoCos) que emitiu há anos. A resposta do banco seria a de recomprar dívida para mostrar a sua solidez. Wolfgang Schaüble, ministro das Finanças, veio assegurar também a resistência da instituição financeira. Mas as acções voltaram a cair hoje, mesmo depois da recuperação de ontem. A queda, que chegou a ser de 10%, acabou a ser de 6,14% para 13,685 euros. Em torno dos valores mais baixos de sempre.
Os resultados abaixo do esperado de outras instituições financeiras ajudaram ao cenário, para o qual contribui a ideia de que o abrandamento da economia mundial – com a China à cabeça – vai cortar ainda mais um sector já muito castigado. "A pressão sobre a margem está a tornar-se uma grande preocupação para o sector e os resultados de grandes bancos está a fazer pouco para revigorar a confiança dos investidores", comenta Jawaid Afsar, operador da Securequity, à Reuters.
O Société Générale afundou 12,57% - uma reacção directa aos resultados de 2015 abaixo do esperado e aos custos colocados de lado para possíveis encargos judiciais.
O Financial Times alerta ainda para um problema adicional: as novas regras de intervenção na banca que, a partir de 1 de Janeiro de 2016, passaram a prever a implicação de perdas aos detentores de dívida sénior e aos depositantes com mais de 100 mil euros.
O Reino Unido também tem um índice para os seus bancos, que recuou 5% e caiu para os níveis mais baixos dos últimos sete anos. A banca italiana afundou. Em Itália, há ainda a acrescentar o problema do crédito malparado, que deu um novo passo com a concessão de garantias estatais ao esquema de "cobertura" criada para resolvê-lo. Em Espanha, Bankia, BBVA e Santander cederam em torno de 7%.
Em Portugal, a banca não escapou ao comportamento negativo, tal como as acções dos outros sectores. O BCP perdeu 4,01% para 3,35 cêntimos. O BPI perdeu 5,65% para 0,935 euros. Sob o país, está ainda em cima a incerteza em relação ao Orçamento do Estado para 2016, com o Eurogrupo, que reúne os ministros das Finanças da Zona Euro, a lançar críticas ao documento feito pelo Governo de António Costa. Aliás, foi o próprio primeiro-ministro a admitir que quando houver uma conclusão do Eurogrupo, os mercados em Portugal poderão ficar mais tranquilos.