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Juncker não quer que "forças extremistas conquistem o poder na Grécia" e Syriza ameaça com fim do memorando

No seio das instituições europeias cresce o receio face ao desenlace das eleições presidências gregas. O presidente da Comissão Europeia toma posição e garante que "não gostaria que forças extremistas conquistem o poder na Grécia". Moscovici recusa reunir-se com o Syriza enquanto o partido de Tsipras ameaça com fim precipitado do memorando. Já o Goldman Sachs não vislumbra sérios riscos de contágio da situação grega aos restantes periféricos.

Bloomberg
12 de Dezembro de 2014 às 12:43
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Aproximam-se as eleições presidenciais na Grécia, cuja votação acontece a 17 de Dezembro no parlamento helénico, e ganham forma as pressões sobre os deputados gregos. Desta feita foi o presidente da Comissão Europeia, o luxemburguês Jean-Claude Juncker, a garantir, citado pela Bloomberg, que "não gostaria que forças extremistas conquistem o poder na Grécia".

 

Isto porque uma eventual incapacidade de gerar apoios suficientes à eleição de um presidente poderá levar à antecipação de eleições parlamentares que, levando em linha de conta as sondagens, poderiam determinar a chegada ao poder do partido de extrema-esquerda Syriza.

 

O sucessor de Durão Barroso sublinha que "preferia que caras conhecidas voltassem a surgir na Grécia", no que é uma clara referência de apoio a Stavros Dimas, antigo comissário europeu para o Ambiente, e que assume o papel de candidato presidencial apoiado pelos partidos que formam a actual maioria governativa, o Nova Democracia e o Pasok.

 

Em declarações feitas ainda na quinta-feira, Juncker explicou o porquê da sua preferência referindo que gostaria que a Grécia fosse governada por pessoas "que entendam as obrigações dos processos europeus", segundo escreve o jornal grego Kathimerini.

 

Num tom mais carregado, o antigo primeiro-ministro do Luxemburgo estabeleceu uma ligação directa entre a actual instabilidade política grega e consequentes efeitos nefastos para a Europa, garantindo estar "seguro de que os gregos, que não têm uma vida fácil, sabem muito bem o que um mau resultado eleitoral significaria para a Grécia e para a Zona Euro".

 

Ainda assim, numa alusão ao comportamento da bolsa grega ao longo desta semana, em que acumulou fortes desvalorizações, e à subida generalizada dos juros da dívida helénica, Jean-Claude Juncker quis deixar claro que não vê estes dados recentes como indiciadores "de uma nova crise na Zona Euro".

 

Bolsa recupera, juros continuam a subir e Goldman Sachs tranquiliza periféricos

 

Apesar de esta sexta-feira a bolsa grega estar a subir 1,61%, recuperando assim ligeiramente das fortes perdas acumuladas desde terça-feira, as taxas de juro das obrigações de dívida gregas seguem em alta.

 

Na maturidade a três anos, a taxa exigida pelos investidores no mercado secundário para comprar dívida helénica sobe 20,2 pontos base para 10,903%. No final da semana passada, a taxa de juro desta maturidade situava-se nos 6%. No prazo a cinco anos a "yield" cresce 2,6 pontos para 9,658% e a 10 anos avança 8,3 pontos base para 9,166%.

 

Todavia, apesar do avolumar de preocupações face ao que poderia significar para a Grécia e para o conjunto europeu uma hipotética conquista do poder pelo Syriza, o Goldman Sachs regista que a volatilidade na Grécia não deverá colocar em causa um possível programa de compra de activos pelo Banco Central Europeu (BCE), que poderá iniciar a compra de títulos da dívida soberana dos Estados em dificuldades já na primeira metade de 2015.  

 

O analista do banco norte-americano Themistoklis Fiotakis, citado pela Bloomberg, defende também que mesmo "existindo, naturalmente, o risco de contágio", não deverá estar em causa a continuidade da Grécia no seio da moeda única até porque "a maioria da população grega continua a favor da participação na união monetária tal como todos os grandes partidos gregos que consideram como indesejável a saída do euro". 

 

Bruxelas não reúne com Syriza que ameaça com cancelamento do memorando

 

O jornal britânico Guardian noticiou entretanto que as diferenças entre Bruxelas e o Syriza foram sendo adensadas ao longo do dia. O programa, divulgado esta tarde, da visita de dois dias do comissário europeu para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, não inclui nenhum encontro com o Syriza, actualmente o maior partido da oposição e líder nas sondagens.

 

Também já durante a tarde, a porta-voz de Juncker na CE, a grego Margaritis Schinas tentou colocar alguma água na fervura face ao apelo do presidente da Comissão que não pretende ver o partido de Alexis Tsipras alcançar o poder na Grécia. "Há várias formas de interpretar aquilo que ele [Juncker] poderá ter querido dizer", afiançou.

 

Mas não parece haver disponibilidade dos principais actores europeus para negociar com o Syriza. No passado mês de Maio, Moscovici referia-se ao Syriza como "um grande perigo para a Grécia". "Estou disposto a cooperar, mas não creio que [Tsipras] esteja disposto a cooperar se se tornar primeiro-ministro", referia na altura o político francês.

 

A atitude das instâncias europeias perante a hipótese real de o partido de Tsipras chegar ao poder, está a ter repercussões no Syriza. Citado pelo Guardian, o porta-voz do grupo parlamentar do Syriza, Panaghiotis Lafazanis, garantiu que com Tsipras como primeiro-ministro o Governo iria, não apenas "cancelar o memorando" que foi formalmente prolongado até Fevereiro na passada segunda-feira, mas também assegurar o fim precipitado da presença da troika no país.

 

"Somo um país soberano e independente e tomaremos as nossas próprias decisões ao dizer que a troika e o memorando não se coadunam com os interesses do país", avisou Panaghiotis Lafazanis.

 

(Notícia actualizada às 18h10m com novo título e "lead" e com o subtítulo "Bruxelas não reúne com Syriza que ameaça com cancelamento do memorando")

 

Cronologia das presidenciais gregas:

1. A 17 de Dezembro os deputados gregos vão realizar a primeira votação, de três possíveis, para a escolha do presidente helénico. Todos os partidos representados no parlamento têm direito a apresentar um candidato, podendo essa escolha ser alterada no decorrer do processo. Para garantir a eleição do presidente nesta primeira votação é necessária uma maioria de dois terços, ou seja de 200 parlamentares. Se esta não for alcançada ter-se-á de realizar uma segunda votação no prazo de cinco dias;

 

2. A 23 de Dezembro terá lugar uma eventual segunda votação que, no entanto, também requer uma maioria qualificada de 200 deputados. Se não for alcançada a maioria necessária haverá então lugar a uma terceira e última votação no prazo de cinco dias;

 

3. Nesta última votação é exigida uma maioria de três quintos, bastando apenas os votos de 180 parlamentares para eleger o presidente grego. Se o actual governo não conseguir eleger o seu candidato (Stavros Dimas), o parlamento será dissolvido e será anunciada a data de realização de legislativas antecipadas no prazo de dez dias. As hipotéticas eleições parlamentares teriam de acontecer até 21 dias após o dia em que forem marcadas as legislativas antecipadas;

 

4. Assumindo as regras eleitorais gregas, que também obrigam a que as legislativas sejam realizadas num domingo, surgem os dias 25 de Janeiro e 1 de Fevereiro como datas mais plausíveis para as eleições parlamentares gregas caso não se consiga eleger um presidente da república nas três votações já referidas;

 

5. Terminadas as votações parlamentares, se o partido mais votado tiver alcançado maioria, o líder desse partido recebe mandato para formar governo até ao terceiro dia após as eleições. Se não houver nenhum partido maioritário, é o líder do partido mais votado que tem três dias para formar o Executivo, cuja formalização requer posterior aprovação em sede parlamentar;

 

6. No caso de insucesso destas tentativas de formação de governo, é atribuído um prazo de três dias ao líder do segundo partido mais votado para que este forme governo. Caso esta opção não valide um Executivo, surge a última tentativa ao ser atribuído novo prazo de três dias para que o líder da terceira força partidária mais votada forme Executivo governamental;

 

7. Por fim, falhadas todas estas tentativas, e à imagem do sucedido em 2012, os líderes partidários terão de reunir-se com o presidente grego, que no caso deverá continuar a ser Karolos Papoulias, que assumiu funções em 2005, de forma a tentar ser encontrada uma coligação estável de governo. Se tal não for possível, serão agendadas novas eleições legislativas.

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