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Bolsa grega afunda e juros da dívida disparam devido a instabilidade política

O primeiro-ministro grego conseguiu recolher oito votos de independentes para o candidato à presidência da República helénica Stavros Dimas, mas os mercados temem um novo período de indefinição política. O que já levou a bolsa grega a afundar 20% desde terça-feira. Os juros da dívida permanecem em alta.

Bloomberg
11 de Dezembro de 2014 às 14:12
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Os receios face à instabilidade política na Grécia já estão a provocar danos e nem os dados mais recentes permitiram acalmar os mercados.

 

O primeiro-ministro grego Antonis Samaras está incumbido de captar apoios para o candidato presidencial Dimas, tendo já conseguido que oito do total de 24 deputados independentes representados no parlamento helénico tenham declarado o apoio ao homem escolhido pelo Nova Democracia e pelo Pasok para as eleições presidenciais antecipadas de Fevereiro para este mesmo mês.

 

Samaras acusou esta quinta-feira o Syriza de tentar provocar o "terror" nos mercados através da ameaça de eleições legislativas antecipadas. Isto numa altura em que o partido de extrema-esquerda liderado por Alexis Tsipras lidera a generalidade dos estudos de opinião.

 

"Eles estão a tentar interromper o progresso do país, com a ameaça de eleições antecipadas", acusou Samaras. No entanto, a ameaça de eleições parlamentares é bem real na Grécia e nem mesmo a declaração de apoio a Stavros Dimas feita por oito deputados independentes está a contribuir para acalmar os mercados.

 

A Bolsa grega segue esta quinta-feira a recuar 7,01%, acentuando assim as perdas face à sessão desta quarta-feira, na qual acabou por perder menos de 2%. A praça helénica negoceia em mínimos de Abril de 2013 e desde a passada terça-feira, o dia seguinte ao anúncio de eleições antecipadas feito por Antonis Samaras, já desvalorizou 20,04%.

 

Também a tendência registada nos juros da dívida grega se afigura preocupante para as autoridades de Atenas. Depois das subidas registadas nos últimos dias, as taxas de juro exigidas pelos investidores nos mercados secundários para comprar obrigações gregas continuam a crescer.

 

Na maturidade a três anos, a "yield" exigida para que o Estado grego coloque dívida sobe 56,5 pontos base para 9,986%. No prazo a cinco anos aumenta 51,7 pontos para 9,171% e a 10 anos cresce 11,2 pontos base para 8,685%.

 

Os mercados estão a reflectir a indefinição política grega, que conjectura um conjunto de cenários sobre o futuro próximo que seriam, com toda a certeza, mal recebidos, não apenas pelos mercados, mas também pela troika que ainda na semana passada acedeu às pretensões de Atenas e concedeu um prolongamento de dois meses do programa de assistência económica e financeira que terminava no final de 2014.

 

Até porque tendo em conta as leis da Grécia, se o parlamento não conseguir eleger um presidente da República nas três rondas de votação possíveis, haverá lugar à realização de eleições legislativas antecipadas. Os partidos que suportam o actual Executivo detêm 155 deputados, pressupondo que não haja dissidências no Nova Democracia e no Pasok, e contando com os oito independentes, Samaras precisa ainda de recolher pelos menos mais 17 apoios parlamentares para o candidato Dimas.

 

Para o conseguir, além dos restantes 16 deputados independentes que constituem o actual parlamento grego, Samaras estará a tentar recolher apoios junto dos Gregos Independentes, um partido que conta com oito deputados e que foi formado há dois anos em resultado de dissidências do próprio Nova Democracia de Samaras, e também no seio dos dez deputados do Esquerda Democrática (DIMAS), partido que esta semana já assegurou que não apoiaria o candidato presidencial da maioria de governo.

 

O chefe do Executivo grego está perante uma quadratura do círculo: tem que negociar, em simultâneo, com os credores internacionais a adopção de novas medidas de austeridade para 2015, de forma a enquadrar o final do resgate internacional grego com linhas de crédito cautelares que garantam uma almofada à Grécia para o período pós-troika, e captar apoios para Stavros Dimas junto de deputados que assentam os seus programas políticos na oposição à austeridade excessiva ditada pela troika.  

 

Cronologia das presidenciais gregas:

1. A 17 de Dezembro os deputados gregos vão realizar a primeira votação, de três possíveis, para a escolha do presidente helénico. Todos os partidos representados no parlamento têm direito a apresentar um candidato, podendo essa escolha ser alterada no decorrer do processo. Para garantir a eleição do presidente nesta primeira votação é necessária uma maioria de dois terços, ou seja de 200 parlamentares. Se esta não for alcançada ter-se-á de realizar uma segunda votação no prazo de cinco dias;

 

2. A 23 de Dezembro terá lugar uma eventual segunda votação que, no entanto, também requer uma maioria qualificada de 200 deputados. Se não for alcançada a maioria necessária haverá então lugar a uma terceira e última votação no prazo de cinco dias;

 

3. Nesta última votação é exigida uma maioria de três quintos, bastando apenas os votos de 180 parlamentares para eleger o presidente grego. Se o actual governo não conseguir eleger o seu candidato (Stavros Dimas), o parlamento será dissolvido e será anunciada a data de realização de legislativas antecipadas no prazo de dez dias. As hipotéticas eleições parlamentares teriam de acontecer até 21 dias após o dia em que forem marcadas as legislativas antecipadas;

 

4. Assumindo as regras eleitorais gregas, que também obrigam a que as legislativas sejam realizadas num domingo, surgem os dias 25 de Janeiro e 1 de Fevereiro como datas mais plausíveis para as eleições parlamentares gregas caso não se consiga eleger um presidente da república nas três votações já referidas;

 

5. Terminadas as votações parlamentares, se o partido mais votado tiver alcançado maioria, o líder desse partido recebe mandato para formar governo até ao terceiro dia após as eleições. Se não houver nenhum partido maioritário, é o líder do partido mais votado que tem três dias para formar o Executivo, cuja formalização requer posterior aprovação em sede parlamentar;

 

6. No caso de insucesso destas tentativas de formação de governo, é atribuído um prazo de três dias ao líder do segundo partido mais votado para que este forme governo. Caso esta opção não valide um Executivo, surge a última tentativa ao ser atribuído novo prazo de três dias para que o líder da terceira força partidária mais votada forme Executivo governamental;

 

7. Por fim, falhadas todas estas tentativas, e à imagem do sucedido em 2012, os líderes partidários terão de reunir-se com o presidente grego, que no caso deverá continuar a ser Karolos Papoulias, que assumiu funções em 2005, de forma a tentar ser encontrada uma coligação estável de governo. Se tal não for possível, serão agendadas novas eleições legislativas.

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