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Independentistas desfazem dúvidas: participam nas eleições e acatam demissões
Apesar de considerarem que a destituição do governo catalão e a dissolução do parlamento regional são medidas antidemocráticas, os partidos independentistas (PDeCAt e ERC) anunciaram que vão às urnas nas eleições agendadas para o próximo dia 21 de Dezembro. Independentistas aceitam demissões.
Está desfeita uma das principais incógnitas em torno das eleições autonómicas antecipadas convocadas pelo primeiro-ministro Mariano Rajoy para o dia 21 de Dezembro (21-D). Os maiores partidos do bloco soberanista (PDeCAT, conservador de centro-direita, e a ERC, esquerda nacionalista) anunciaram esta segunda-feira que vão participar nas eleições autonómicas de 21-D.
"Senhor Rajoy, vêmo-nos nas urnas", atirou a coordenadora-geral do PDeCAT após a reunião da direcção do partido que decorreu esta manhã e que não contou com a presença do agora ex-presidente do governo autonómico catalão (Generalitat), Carles Puigdmeont, que estará na Bélgica. Marta Pascal reiterou que "a aplicação do [artigo] 155 é miserável", referindo-se à intervenção de Madrid na Catalunha que implicou a suspensão de facto da autonomia da região.
Antes, tinha sido a ERC a confirmar que a força de esquerda nacionalista encontrará "uma forma de participar" nas eleições autonómicas, que classifica de "ilegítimas". Através do porta-voz Sergi Sabrià, a ERC garante que "as urnas não nos metem medo".
?? @martapascal: "No tenim por a les urnes. @marianorajoy ens hi veurem!" pic.twitter.com/3H22U6k3Bw
— Partit Demòcrata (@Pdemocratacat) 30 de outubro de 2017
Nenhum destes partidos se tinha ainda pronunciado sobre a eventual participação nas eleições autonómicas de 21-D, já que as duas forças que integravam a aliança de governo independentista Juntos pelo Sim se tinham remetido ao silêncio sobre esta questão desde que na, passada sexta-feira, Rajoy revelou as primeiras medidas a serem implementadas com a colocada em prática do artigo 155 da Constituição, através do qual Madrid assumiu o controlo sobre a Catalunha. Havia a possibilidade de estas forças boicotarem o processo eleitoral.
Porém, nem o PDeCAT (antiga Convergência Democrática da Catalunha, CDC) nem a ERC adiantaram se pretendem manter de pé a aliança com que concorreram, e venceram, nas eleições regionais de Setembro de 2015.
A outra força do campo independentista (CUP, partido de extrema-esquerda anti-sistema, que apoiava no parlamento catalão o governo do Juntos pelo Sim) revelou este domingo que "não descarta" concorrer às eleições agendadas por Madrid, no entanto deixa essa decisão nas mãos dos seus militantes.
"Não descartamos apresentar-nos em 21-D porque não descartamos nada, e isso terão de ser os militantes a decidir", explicou Núria Gibert que insiste em não reconhecer nenhuma das medidas aplicadas ao abrigo daquele mecanismo constitucional porque a CUP só aceita "o mandato de 1 de Outubro (1-O)".
Até aqui persistia a dúvida sobre se os partidos "catalanistas" aceitariam concorrer a uma eleições que consideram "ilegítimas" e usurpadoras da "legítima república" catalã proclamada na sexta-feira com base na clara vitória do "sim" à independência na consulta popular de 1-O.
A intenção parece clara, voltar a utilizar as eleições autonómicas como uma espécie de plebiscito à independência: "hoje a nossa república não tem a capacidade que queríamos para se impor, mas apesar disso queremos defende-la. E por isso precisaremos de todos. Juntos chegámos até aqui", declarou hoje o porta-voz da ERC que quer converter o acto eleitoral "numa oportunidade".
@sergisabria: "Nosaltres no agredim mai les urnes com van fer ells. El 21D és una oportunitat més per consolidar la #RepúblicaCatalana" pic.twitter.com/9p2dO1Lods
— Esquerra Republicana (@Esquerra_ERC) 30 de outubro de 2017
Uma sondagem ontem publicada no El Mundo – com entrevistas realizadas entre 23 e 26 de Outubro, o dia anterior à declaração de independência e entrada em marcha do artigo 155 – mostra a ERC (26,4%) como o partido mais votado em 21-D, enquanto o PDeCAT de Puigdemont deixa de ser a maior força catalã com apenas 9,8%. A CUP alcança 6,3%.
As forças soberanistas perderiam a actual maioria absoluta no parlamento catalão (42,5% e 65 deputados, a três da maioria). Já o bloco "espanholista" surge reforçado face às eleições de há dois anos, com os partidos constitucionalistas a conseguirem 43,4% das intenções de voto. À parte de independentistas e constitucionalistas, o Catalunha Sim Podemos (aliado do Podemos na Catalunha, força que criticou a declaração de independência e também o accionar do artigo 155) alcança 11%. Esta sondagem mostra ainda uma queda do independentismo na Catalunha, com apenas 33,5% dos inquiridos favoráveis à independência.
El apoyo a la independencia baja hasta el 33% en Cataluña @elmundoes https://t.co/BjVKkKxXZc
— Sigma Dos (@sigmados) 30 de outubro de 2017
Soberanistas acatam demissões impostas por Madrid
Outra das dúvidas que persistiu ao longo do fim-de-semana passava por perceber se, esta segunda-feira, os independentistas titulares de cargos executivos (e no parlamento) iriam ocupar os respectivos postos de trabalho ou se acatariam as demissões decretadas pelo governo chefiado por Mariano Rajoy.
Al despatx, exercint les responsabilitats que ens ha encomanat el poble de Catalunya. #seguim pic.twitter.com/npc6vFH0rB
— Josep Rull i Andreu (@joseprull) 30 de outubro de 2017
A única excepção coube a Josep Rull, demitido do cargo de conselheiro (ministro) do Território e Sustentabilidade, que esta manhã se apresentou ao trabalho tendo mesmo publicado uma fotografia nas redes sociais senado à secretária.
Carme Forcadell, presidente do parlamento catalão dissolvido e membro da associação independentista ANC, desconvocou a reunião ordinária da Mesa do "parlament" prevista para esta terça-feira de manhã, justificando a decisão com o facto de a câmara parlamentar ter "sido dissolvida."
A histórica líder independentista cumpriu assim os ditames de Madrid. No entanto, Forcadell continua a ser a presidente do parlamento catalão até que sejam realizadas eleições e também pode continuar a presidir a reunião da Mesa permanente, órgão composto por 23 parlamentares.
Continuem treballant. #Parlament https://t.co/6l3fhAGdu4
— Carme Forcadell (@ForcadellCarme) 30 de outubro de 2017