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Virgolino Faneca enaltece as propriedades do manto laranja

Derivado dos achaques provocadora por assuntos diversos, Faneca rendeu-se ao poder da espiritualidade

13 de Julho de 2018 às 17:00
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Prezado Anacleto

Serve a presente para te informar que ocorreu uma súbita transformação na minha vida. Por isso, caso me vejas com um manto cor-de-laranja e de cabeça rapada, não julgues que ensandeci. Antes pelo contrário, encontrei o meu nirvana, pese também goste dos Pearl Jam. Esta transformação radical ocorreu nas duas últimas semanas.

O salvamento das 12 crianças e do seu treinador, que se encontravam enclausurados numa gruta, ensina-nos muitas coisas, umas mais importantes que outras, mas há uma que nitidamente se sobrepõe, a da importância do budismo. Digo isto porque foi a prática dos princípios budistas que me permitiu ouvir as intervenções em directo da Judite Sousa na TVI, no local, ou algures na Tailândia, parafraseando Artur Albarran, sem qualquer sintoma de irritação, pese embora existissem razões fundadas para tal. Foi também o budismo que me permitiu resistir incólume às grosas de especialistas que comentaram abundantemente o tema, enchendo chouriços com imensa categoria. Ou à leitura de conteúdos extraordinariamente relevantes que rodearam este drama, tais como o da primeira-dama que cozinhou para os mergulhadores ou o facto de o presidente da Liga de futebol ter convidado os jovens para assistirem à final four da Taça organizada por esta entidade.

O caminho da libertação aberto pela meditação budista foi ainda útil em assuntos laterais como, por exemplo, a ida de Cristiano Ronaldo para a Juventus, novela que forçou os jornalistas, absolutamente sem nada para dizer, a irem à procura de casa em Turim para o craque português ou a entrevistarem o dono de um restaurante que os jogadores do clube italiano alegadamente costumam frequentar.

É claro que o uso do manto laranja já me trouxe contratempos. No café do Tó, perguntaram se eu era pimpolho. Naturalmente, mantive a calma, mas insistiram, então viraste para o outro lado?, tendo eu surpreendido ao responder que sim. Virei para o lado do conhecimento interior, da meditação como estrada para a felicidade e do perdão como acto supremo de sabedoria. Por isso, aduzi, desculpo as vossas infantilidades. Ficaram a mirar-me embasbacados, é o que dar ler muito, diagnosticou um. É mas é falta de mulher, apontou outro. Enquanto um terceiro sugeriu o eventual consumo de substâncias alucinógenas.

Dados os indiscutíveis méritos do budismo, estou a pensar oferecer mantos laranja ao Costa, à Catarina e ao Jerónimo para negociarem o Orçamento para 2019, sendo que a cor dos mesmos poderá provocar até alguma confusão no Rio e inveja na Assunção.

Ainda pensei presentear os militantes do PAN com uns mantos, mas depois recuei derivado da cor laranja, a qual poderia provocar investidas fortes de alguns animais que é suposto defenderem.

Para a semana vou fazer a prova dos nove das capacidades excelsas do manto laranja, assistindo a um programa de pugilato verbal, chamado Prolongamento, em que participam dois Pedros e um Manuel. Aparentemente, aquilo é futebol, mas é uma aparência muito ténue. Se resistir, sereno, saberei que estou pronto para tudo. Caso contrário, montarei domicílio fiscal na caverna que já foi do Platão e pedirei ao Centeno para cobrar impostos às sombras. Pode ser que resulte, até porque o ministro das Finanças está bastante mais focado na contratação de enfermeiros, necessários para amenizar as dores que sente, provocadas pela porrada que tem levado por negar dinheiro ao seu colega da Saúde.

Como vês, um manto laranja faz toda a diferença. Já a cabeça rapada prejudica a moleirinha devido ao sobreaquecimento dos neurónios.

Votos de uma boa meditação veranil e um abraço transcendente deste que te estima,

Virgolino Faneca
 

Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.

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