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Virgolino Faneca andou de lanterna à procura de Bruno

Virgolino vestiu a pele de Diógenes que caminhava de dia pelas ruas de Atenas, de lanterna na mão, à procura de um homem honesto e explicar a Bruno as idiossincrasias do outro Bruno

24 de Agosto de 2018 às 17:00
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Caro Bruno

Escreveste a desabafar sobre a tua angústia existencial derivado do facto de os teus pais te terem dado o nome de Bruno e de existir, por estes dias, que já são centenas, um Bruno que dá má fama à casta dos Brunos.

Antes de mais, deixa-me dizer que os teus progenitores tiveram a melhor das intenções. Após uma aturada pesquisa (abrir o Google, escrever o significado da palavra Bruno, abrir o primeiro link que surge ao nível do olhar e fazer um corta e cola), descobri que a origem do nome é teutónica, significa moreno e indica uma pessoa calma que consegue tudo o que deseja pela capacidade de persuasão, mas jamais pela força. Tem natureza de líder, capaz de atingir os seus objectivos após analisar correctamente a situação que o envolve.

Esta é a prova de que os teus paizinhos pintaram o futuro do seu rebento com cores brilhantes e devem estar ligeiramente arreliados com a circunstância de teres escolhido profissionalizar-te como utente do eléctrico 28, dizes tu, para confraternizar com os estrangeiros, de um modo tão simpático que eles te acabam por oferecer as carteiras.

Pois que o Bruno a que te referes é de facto um problema, sendo ainda mais intricado, na medida em que ele é um Bruno diferente todos os dias. Num dia, envia sms aos jogadores porque está com saudades deles, noutro diz que não quer fazer mal ao Sporting, a seguir pede aos bancos para congelarem as contas do clube e no momento imediatamente a seguir diz que não o fez. Pelo caminho, garante que é presidente do mesmo e insinua que os votos da assembleia destitutiva foram falcatruados. Ainda lhe sobra tempo para se atirar à primeira mulher, uma tal de Irina, enquanto promete divulgar fotos comprometedoras de Sousa Cintra, um dos convidados do seu terceiro casamento.

Para te explicar quem é, efectivamente, Bruno de Carvalho, enfrento o dilema de Diógenes de Sinope, que durante o dia vagueava pelas ruas de Atenas com uma lamparina acesa à procura de um homem honesto, não existindo registos de que tenha sido bem-sucedido na sua demanda. Eu também procurei, percorrendo o estádio Alvalade XXI e as suas imediações, a lanterna do telemóvel, tendo alcançado um resultado idêntico ao de Diógenes de Sinope, ou seja, nada.

Perante este fracasso, persisti, para não defraudar as tuas expectativas. Um amigo, que é psiquiatra, falou-me da possibilidade do Bruno, que não és tu, ter uma psicose sifilítica, i.e., um delírio de grandeza, daqueles de quem pensa que é dono de tudo, tendo manifestado estranheza pelo facto de Daniel Sampaio, que é também psiquiatra, ter apoiado esse Bruno que não és tu, sem ter dado conta de nada.

Outra hipótese é tratar-se de uma personalidade paranóica. Olhando para os sintomas (não suporta ser contrariado, não aceita desculpas, desconfiado, distorce os factos, acha-se muito importante, acha que é o centro de tudo, combativo na defesa dos seus direitos), até que tudo parece bater certo, embora deixe ao teu critério um juízo final.

Houve ainda um amigo que me lembrou de uma frase proferida por Bruno: "Para fazerem mal ao Sporting, primeiro vão ter de me matar", para considerar que existe uma vaga possibilidade de ele ter tendências suicidárias.

De todos, este parece-me ser o cenário mais plausível, na medida em que Bruno se tem em tanta boa conta que seria capaz de casar consigo próprio. Citando o próprio, de uma "crassa ignorância", olvidar esta possibilidade.

A realidade é que com Bruno de Carvalho o termo "silly season", usado para classificar o Verão, faz todo o sentido. E, só por isso, acho que todos, menos os sportinguistas e tu que te chamas Bruno, lhe devemos estar agradecidos.


Um amplexo deste teu,

Virgolino Faneca
 

Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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