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Virgolino Faneca defende Rui com um rio de palavras
Virgolino Faneca, com a sua habitual imodesta opinião, explica que o líder do PSD está prenhe de razão na sua acção política e até cita Nietzsche para se aproximar do líder do PSD, que, como se sabe, tem uma costela germânica.
Venho pela presente manifestar toda a minha solidariedade para com a tua pessoa e endereçar-te umas palavras de ânimo, de modo que tu conduzas a tua demanda com sucesso.
Depois, esta coisa de o Santana Lopes criar um partido é uma outra manobra de diversão. Mal planeada, aliás. Basta atentarmos no absurdo primordial que está na sua génese. Como é que uma pessoa cujo percurso sentimental tem sido marcado por um frenético casa-descasa cria um partido chamado Aliança. Só pode ser brincadeira. E é-o, efectivamente, mas também é uma maneira de te desviar do tal caminho que delineaste sagazmente.
Entendo quando tu dizes que quem não está bem no partido deve sair, embora em minha opinião tenhas decalcado a estratégia de Bruno de Carvalho, segundo o qual o Sporting era ele. Tu ages de igual forma, o PSD és tu e quem não está bem que se mude. O que traz uma vantagem adicional: quanto mais gente se desvincular do PSD menos oposição interna terás, circunstância que facilitará a tua afirmação como líder, embora corras o risco de não teres ninguém para liderar.
Já a ideia de te colares ao Bloco de Esquerda na questão de uma putativa taxa sobre as mais-valias imobiliárias é brilhante, na medida em que abre caminho para que o PSD possa fazer uma coligação governamental com os bloquistas, mandando às urtigas o CDS e a menina Assunção, que anda para aí de nariz empinado a pensar que pode ser a líder da oposição. E para quem te acusa de que assim estás a dar uma mão ao PS, tens certamente esta resposta na ponta da língua: tudo o que aparentemente parece ajudar o PS é excelente para a estratégia do PSD porque já se sabe que o António Costa só ganha alguma coisa quando perde (vide eleições de 2015).
Pelo caminho também julgo que seria sensato da tua parte recuperares aquela ideia dos "outdoors" que implementaste no Porto, enquanto presidente da câmara, a criticar um jornalista de que não gostavas. Tenho para mim que devias disseminar "outdoors" por Lisboa a pores em causa os jornalistas e todos os outros que criticam, os quais, sendo muitos, fariam com que esta tua acção tivesse um impacto estruturante na paisagem urbana da capital.
Na minha imodesta opinião tu estás prenhe de razão quando afirmas que os partidos estão "profundamente descredibilizados" e é necessário ter a criatividade de encontrar novas formas de militância e novas formas de participação na política". Tu tens feito a tua parte.
Por exemplo, a ideia de fazer a rentrée política com um jogo de futebol durante o qual envergaste a camisola 7, numa colagem óbvia a Cristiano Ronaldo, é o verdadeiro corte epistemológico com a tradição das festas e similares, não obstante as más-línguas tenham sugerido, face ao forrobodó que vai no PSD, que teria sido mais adequado um jogo de râguebi.
Não deves, contudo, ligar a nada disto. Segue o conselho do imorredoiro professor Alexandrino e mantém-te firme e hirto, porque vais no caminho certo. Podes sempre contar comigo para te dar conselhos avisados e não te esqueças da recomendação de Nietzsche, um filósofo que por ser germanófilo, deve ser do teu agrado: "É verdade que se mente com a boca; mas a careta que se faz ao mesmo tempo diz, apesar de tudo, a verdade."
Um abraço deste que te estima,
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.