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Virgolino Faneca oferece a Costa um 4x2x3x1 vencedor

Virgolino Faneca explica a António Costa o que deve fazer para poder dizer, de peito cheio, sou primeiro-ministro porque ganhei as eleições.

04 de Outubro de 2018 às 17:00
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Caro Costa,

 

Venho por este meio apresentar um conjunto de sugestões que te proporcionarão uma vitória nas eleições legislativas de 2019, quiçá com maioria absoluta, que é aquilo que queres, mas estás impedido de verbalizar por duas ordens de razão substantivas que têm os seus predicados e também os devidos complementos directos. Por um lado, para não desaustinar os parceiros da geringonça, por outro, mais importante ainda, para não arreliar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, derivado da relevância política que tem pelo facto de não haver uma maioria absoluta. Trata-se, claro está, de duas fortes maiorias de bloqueio, que terás de contornar para atingir o teu desiderato.

 

Feito este intróito que também pode ser catalogado como um prolegómeno, passo a explanar a táctica para seres um vencedor e finalmente poderes clamar aos quatro ventos. Ganhei as eleições e por isso sou primeiro-ministro, afastando de vez a imagem de um derrotado que só lá chegou através da dita cuja que ficará conhecida para todo o sempre como geringonça, um epíteto saído da cartola gramatical de Paulo Portas. 

Vamos então à táctica (inspirada no 4x2x3x1 aberto da PS4) que te permitirá atingir o supracitado desiderato.

 

4. Fazes circular a ideia de que vais afastar Mário Centeno, na medida em que o ministro das Finanças é um castrador dos sonhos gastadores da geringonça e tu já não está para o aturar. Acrescenta que não conseguiste satisfazer todas as pretensões das diferentes corporações, a contragosto, e só por culpa do Centeno, que tu julgavas ser uma pessoa e afinal saiu outra. Concomitantemente, podes alimentar o rumor de que estás a pensar convidar Francisco Louçã para o lugar, de forma a ter alguém capaz de fazer frente ao presidente do Eurogrupo que, por acaso, será Mário Centeno.

 

2. Convocas Rui Rio para reuniões ultra-secretas, dizes-lhe que a única maneira de o país andar para a frente é constituir um Bloco Central e que, qualquer que seja o resultado das legislativas, contas com ele para a formação de um novo Governo, e que de igual forma, ele deverá contar contigo caso se verifique que o PSD ganhe as eleições. Insiste que se trata de um acordo que exige o máximo sigilo para não colocar em causa a aprovação do Orçamento para 2019 e depois, mais próximo das eleições, segredas a Marques Mendes que  Rui Rio aceita ser teu vice-primeiro-ministro, explicando que este facto é um claro indicador de que o PSD não acredita numa vitória eleitoral e, mais do que isso, o seu líder aceita um lugar subalterno. Marques Mendes encarregar-se-á de fazer o resto.

 

3. Neste três reside o sucesso da táctica, fazendo dele um três em um. O alvo é o Presidente e é inútil fazer de sonso ou usares a estratégia de vichyssoise porque, em todos estes domínios do jogo político, Marcelo ganha-te de goleada. Portanto, aqui o caminho é unívoco. Tens de garantir ao chefe do Estado que vais fazer tudo ao teu alcance para impedires que o PS tenha uma maioria absoluta, nem que para isso tenhas de tomar duas ou três medidas impopulares, como manteres o braço-de-ferro com os professores ou dares o dito por não dito nos aumentos da Função Pública. Garantes que em qualquer circunstância ele será sempre o teu Presidente e que o PS o irá apoiar nas próximas eleições. Também pode dar jeito insinuares que estás a pensar trazer o Roland Garros, na medida em que o Presidente gosta muito de ténis, e até que ponderes a possibilidade de convidares o Novak Djokovic para as Finanças, não só pela excelência do seu "passing shot", mas também porque tem sentido de humor, o que dá jeito para quebrar o gelo nas reuniões de conselho de ministros mais tensas.

 

1. Dizes a Pedro Santana Lopes que ele é único e a única pessoa em quem confias. Aduzes que o seu partido, o Aliança, é decisivo para o refrescamento da política portuguesa, que as suas propostas são de uma excelência inultrapassável e que contas com a sua experiência para te ajudar a enfrentares os desafios do futuro, na medida em que os desafios do passado já não podem ser por um constrangimento temporal. O segredo é conseguires fazer esta conversa toda sem te rires.

 

Com este 4x2x3x1 aberto, a vitória estará mesmo ao virar da esquina.

 

Com os melhores cumprimentos,

Virgolino Faneca 

 

 

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.

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