Notícia
Virgolino Faneca oferece a Costa um 4x2x3x1 vencedor
Virgolino Faneca explica a António Costa o que deve fazer para poder dizer, de peito cheio, sou primeiro-ministro porque ganhei as eleições.
Caro Costa,
Venho por este meio apresentar um conjunto de sugestões que te proporcionarão uma vitória nas eleições legislativas de 2019, quiçá com maioria absoluta, que é aquilo que queres, mas estás impedido de verbalizar por duas ordens de razão substantivas que têm os seus predicados e também os devidos complementos directos. Por um lado, para não desaustinar os parceiros da geringonça, por outro, mais importante ainda, para não arreliar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, derivado da relevância política que tem pelo facto de não haver uma maioria absoluta. Trata-se, claro está, de duas fortes maiorias de bloqueio, que terás de contornar para atingir o teu desiderato.
Feito este intróito que também pode ser catalogado como um prolegómeno, passo a explanar a táctica para seres um vencedor e finalmente poderes clamar aos quatro ventos. Ganhei as eleições e por isso sou primeiro-ministro, afastando de vez a imagem de um derrotado que só lá chegou através da dita cuja que ficará conhecida para todo o sempre como geringonça, um epíteto saído da cartola gramatical de Paulo Portas.
Vamos então à táctica (inspirada no 4x2x3x1 aberto da PS4) que te permitirá atingir o supracitado desiderato.
4. Fazes circular a ideia de que vais afastar Mário Centeno, na medida em que o ministro das Finanças é um castrador dos sonhos gastadores da geringonça e tu já não está para o aturar. Acrescenta que não conseguiste satisfazer todas as pretensões das diferentes corporações, a contragosto, e só por culpa do Centeno, que tu julgavas ser uma pessoa e afinal saiu outra. Concomitantemente, podes alimentar o rumor de que estás a pensar convidar Francisco Louçã para o lugar, de forma a ter alguém capaz de fazer frente ao presidente do Eurogrupo que, por acaso, será Mário Centeno.
2. Convocas Rui Rio para reuniões ultra-secretas, dizes-lhe que a única maneira de o país andar para a frente é constituir um Bloco Central e que, qualquer que seja o resultado das legislativas, contas com ele para a formação de um novo Governo, e que de igual forma, ele deverá contar contigo caso se verifique que o PSD ganhe as eleições. Insiste que se trata de um acordo que exige o máximo sigilo para não colocar em causa a aprovação do Orçamento para 2019 e depois, mais próximo das eleições, segredas a Marques Mendes que Rui Rio aceita ser teu vice-primeiro-ministro, explicando que este facto é um claro indicador de que o PSD não acredita numa vitória eleitoral e, mais do que isso, o seu líder aceita um lugar subalterno. Marques Mendes encarregar-se-á de fazer o resto.
3. Neste três reside o sucesso da táctica, fazendo dele um três em um. O alvo é o Presidente e é inútil fazer de sonso ou usares a estratégia de vichyssoise porque, em todos estes domínios do jogo político, Marcelo ganha-te de goleada. Portanto, aqui o caminho é unívoco. Tens de garantir ao chefe do Estado que vais fazer tudo ao teu alcance para impedires que o PS tenha uma maioria absoluta, nem que para isso tenhas de tomar duas ou três medidas impopulares, como manteres o braço-de-ferro com os professores ou dares o dito por não dito nos aumentos da Função Pública. Garantes que em qualquer circunstância ele será sempre o teu Presidente e que o PS o irá apoiar nas próximas eleições. Também pode dar jeito insinuares que estás a pensar trazer o Roland Garros, na medida em que o Presidente gosta muito de ténis, e até que ponderes a possibilidade de convidares o Novak Djokovic para as Finanças, não só pela excelência do seu "passing shot", mas também porque tem sentido de humor, o que dá jeito para quebrar o gelo nas reuniões de conselho de ministros mais tensas.
1. Dizes a Pedro Santana Lopes que ele é único e a única pessoa em quem confias. Aduzes que o seu partido, o Aliança, é decisivo para o refrescamento da política portuguesa, que as suas propostas são de uma excelência inultrapassável e que contas com a sua experiência para te ajudar a enfrentares os desafios do futuro, na medida em que os desafios do passado já não podem ser por um constrangimento temporal. O segredo é conseguires fazer esta conversa toda sem te rires.
Com este 4x2x3x1 aberto, a vitória estará mesmo ao virar da esquina.
Com os melhores cumprimentos,
Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.