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Virgolino Faneca, na praia, galopando no carro de Madonna

Virgolino elabora sobre o parque automóvel da artista e outros temas palpitantes, rasgando as fronteiras do pensamento instituído

06 de Julho de 2018 às 17:00
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Caro Fernando

Estando de gozo de férias, fui deveras surpreendido com a polémica que se instalou em torno do estacionamento das 15 viaturas -15 - da senhora dona Madonna.

Antes de mais, surpreendido com a quantidade do parque automóvel de tão ilustre cidadã lisboeta. Depois estupefacto por a senhora ter adquirido um imóvel que não possui, pelo menos por enquanto, de infra-estrutura capaz de albergar as referidas viaturas, o que me leva desde já a concluir que a malta da imobiliária que lhe vendeu a casinha só estava preocupada com a mais-valia e despreocupada com as necessidades da artista.

As más-línguas indignam-se com o facto de só cobrares 750 euros por mês à senhora para ela estacionar os carros, subtraindo assim à EMEL a possibilidade de engordar os seus cofres.

Não leves as críticas a peito. Com a eliminação de Portugal do Mundial e o fim da telenovela o Grande Brunão, o pessoal ficou carente de assuntos palpitantes. É claro que existem sempre outros temas fracturantes, como o facto de Carolina Patrocínio, na terça-feira, ter comprado os biquínis para as filhas numa loja chinesa ou o de Fátima Lopes, durante a sua infância em Moçambique, ter sido vítima de racismo por ser a única criança branca e ninguém querer brincar com ela. Sendo assuntos fracturantes, faltam-lhes, contudo, a dimensão telúrica da polémica Madonna, razão que me leva a manifestar estupefacção pelo facto de o Presidente Marcelo ainda não se ter dignado intervir, mais que não seja para disponibilizar à artista uns lugares de garagem em Belém.

Isto assim à distância pode até parecer ridículo. Mas não é, derivado de algumas vantagens que até agora ninguém enumerou. Por exemplo, a Madonna paga um balúrdio em IUC, arranja empregos a motoristas, dinamiza o comércio automóvel, paga bué em portagens, inspecções automóveis e afins, contribuindo assim para variados cofres.

Aliás, tenho para mim, e para ti Fernando, que seria fundamental oferecer soluções de estacionamento a todas as estrelas que habitam a capital, solução que defenderei com unhas e com os poucos dentes que me restam, desde que assegures um lugar para a minha amiga Alice, que demora um tempo infinito a arranjar um lugar em Campo de Ourique e que é famosa, não só pelos sonoros impropérios que lança durante a demanda, mas também porque lê muitas revistas de famosos e até sabe que a Madonna tem uma unha do dedo grande do pé esquerdo encravada e que a Bellucci tem problemas de odor ao nível dos membros inferiores, derivado do facto de ser pedicura.

De igual forma, acho estranho e até indelicado que o treinador do Benfica, Rui Vitória, ainda não tenha aceitado na equipa principal do Benfica o filho da artista Madonna, sendo que a idade não é desculpa porque o talento não escolhe idade. Eu indigno-me por ninguém se indignar com isso.

Não, Fernando. Isto que dizem e escrevem não é contra a Madonna. É contra ti e, porventura, contra o vereador Salgado, o grande povoador de parquímetros e mentor de obras pouco compreensíveis em Lisboa. E é, inequivocamente, um excelente tema de férias. Ontem, quando o Abílio passou pela praia a mercadejar as suas bolachas americanas, o seu pregão era: "Madonna mia, esta bolachinha é tão boa que tem estacionamento grátis na sua boca." Ao que a Felisbela, frequentadora assídua do areal, retorquiu: "Ó Abílio, traz meia dúzia que eu tenho uma garagem grande, maior do que a da Madonna." E o vendedor trauteou "Like Virgin", o que motivou uns tímidos comentários de que o diálogo estava a soar a javardice.

Sem me querer alargar muito, devo apenas aduzir que a minha opinião definitiva sobre a Madonna e os seus carros fica dependente da douta análise que, certamente, o arquitecto Saraiva fará sobre este assunto, porque ele é especialista em dissecar minudências e em descobrir nas mesmas mais significantes do que o Barthes numa fotografia.

Para já, apraz-me apenas registar que, apesar do tempo incerto, a "silly season" já chegou, cavalgando pela areias da Comporta, de cabelo ao vento, montada na Madonna. Ou será o inverso?


Um abraço quatro por quatro deste que te admira,

Virgolino Faneca
 

Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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