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Virgolino Faneca defende aquele juiz que vocês sabem quem é. Yabba dabba doo

O juiz N. Moura está a ser apedrejado na praça pública, uma prática que devia ser aplicada apenas às mulheres adúlteras. É injusto. Por isso Virgolino defende o juiz que nos permite sonhar com o regresso ao mundo dos Flintstones.

27 de Outubro de 2017 às 17:00
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Venho pela presente manifestar a minha solidariedade com a sua pessoa e considero injustificável a forma como está a ser vilipendiado na comunicação social e nas redes sociais por ter proferido um acórdão em que absolve um homem que insultou a mulher e divulgou fotos de cariz sexual.

O senhor juiz sentencia, com inteira propriedade, que "uma mulher adúltera é hipócrita e imoral" e lembra que existem sociedades onde "a mulher adúltera é alvo de lapidação" e também que na Bíblia (muito mais valiosa do que qualquer código penal) "podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte".

Ou seja, o senhor juiz N. Moura acha, e muito bem, que a referida mulher até teve muita sorte. Só foi insultada (nem sequer levou umas valentes arrochadas daquelas de ir parar ao hospital para ver com quantos paus se faz uma canoa) e, como adúltera, o seu depoimento não pode ser levado em consideração. Tanto mais porque ia ter com o amante para este lhe dar a ‘subremesa’ enquanto o marido ficava em casa a tomar conta dos filhos do casal.

Na minha opinião, que não é tão douta quanto a sua, o senhor juiz só pecou na brandura do acórdão. Em meu entender, devia ter ido mais além, organizando uma sessão de pedrada à adúltera ou até um enforcamento no pelourinho que servisse de exemplo para outras mulheres que, eventualmente, estivessem predispostas a cair em tentação. Se querem ‘subremesas’, que comprem pudins flã boca doce ou mousse de chocolate royal que são fáceis de fazer, e assim não precisam de sair de casa.

Aliás, como é que uma mulher adúltera se pode arrogar ao direito de ser vítima? Não pode, ponto final parágrafo, porque uma adúltera (ao contrário de um adúltero) não tem direitos. Ou melhor, o único direito que tem é que lhe façam mal, a enxovalhem ou lhe batam, e que aceite o seu destino sem um único queixume.

O senhor juiz, aliás, devia ser nomeado para exercer magistratura no purgatório, substituindo o Torquemada, que já deve estar para lá de velho. Aí é que estas mulheres libidinosas iriam ter o tratamento que verdadeiramente merecem. Adúlteras? Para o Inferno com elas. Não sabem cozinhar bacalhau à brás? Ora tomem lá um Inferno a escaldar. Recusam-se a coser meias? Vão arder no Inferno e ainda é pouco.

Neste contexto, julgo que o senhor juiz – e muito bem – deve estar contra o facto de a Arábia Saudita ter finalmente permitido que as mulheres conduzam. Tenho para mim que os sauditas estão a ficar moles e que o senhor também pode lá fazer muita falta, atendendo aos conhecimentos que mostrou das leis islâmicas.

Caro juiz N. Moura. Não ligue às críticas avassaladoras que lhe fazem, porque partem de pessoas repletas de preconceitos e com a mania que são uns espíritos abertos. Na verdade, é este tipo de mentalidade que permitiu os maiores retrocessos da humanidade – as mulheres a usar mini-saia, as mulheres a trabalhar e a ganhar ordenado (se não receberem ainda se aceita), as mulheres a fumar, as mulheres a sair à noite e, pior que tudo, as mulheres a terem opinião. O mundo entrou verdadeiramente na idade das trevas com estes acontecimentos e, a partir de então, tem sido um descalabro completo. Pelo contrário, o seu acórdão é uma luz que nos permite sonhar com o regresso ao mundo dos Flintstones (mas sem a parte da piada). Yabba dabba doo para si também.


Cumprimentos deste seu,

Virgolino Faneca



Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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