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Virgolino Faneca ensina a Mário uns belos e úteis truques orçamentais

Virgolino Faneca dá umas dicas de inquestionável relevo para Mário concluir com êxito a elaboração do Orçamento. Vale tudo, até pedir ajuda à Maria Luís e ao Vítor e ir a Bruxelas tomar café.

13 de Outubro de 2017 às 17:00
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Prezado Mário

Sei que andas num afã para concluíres o Orçamento do Estado para 2018, sendo que, julgo (perdoa a petulância), te poderei ajudar a concluir com êxito esse desiderato, na medida em que eu próprio (poderia ser eu impróprio, mas não sou) estive a fechar as contas do mês no meu livro de Inverno produzido pela imorredoura Papelaria Emílio Braga (um enorme bem-haja para ela), chegando à triste conclusão de que a coluna do deve é sempre mais robusta do que a do haver. Por isso, Mário, sei o que deves sentir em relação à dívida pública, na medida em que, sempre que entra mais guito nos cofres do Estado, tens logo os teus colegas e também os afamados geringonços, de mão estendida, a pedirem mais.

E perguntas tu (com propriedade ou sem propriedade, é melhor sem para não teres de pagar IMI), quais são os contributos que posso dar para melhorar esse documento que todos os anos provoca um comovente frisson, sobretudo entre jornalistas e políticos. Nesta medida, o Orçamento é uma espécie de "Biggest Deal", o último concurso da Teresa Guilherme, porque promete muito mas acaba por ser um fiasco.

Sem mais delongas, aqui vão as minhas excelentes sugestões (poderia escrever inigualáveis, mas acontece que estou sempre a exceder-me e sou um poço de modéstia, sem fundo, claro está).

Podes começar com um truque básico. Partindo do pressuposto de que o Orçamento é como um mapa no qual se revela para onde o país está a ir, faz umas manigâncias no dito, criando a ilusão de que as cidades são mais perto do que na realidade (ou seja, de que a despesa é menor do que efectivamente é), podes tirar uns concelhos (depois voltas a pôr quando te der jeito, tipo cativações) e ainda pintares as fronteiras das ditas cujas (despesas) com aquela tinta vermelha dos espiões que desaparece passado uns tempos, o que te permitirá ires alterando as referidas sem que ninguém dê pela tramóia.

Uma outra via que deves ter muito em conta é a da rubrica das receitas extraordinárias. Imagina que os cofres públicos estão mesmo exauridos depois de satisfazer as clientelas todas (imagino que fiques com calafrios só de pensar nisso). Assim sendo, pões o torreão do Ministério das Finanças à venda e resolves dois problemas de uma só penada, a Madonna consegue encontrar uma casa em Lisboa com vista de rio e mar e o Estado uma receita extraordinária para tapar os buracos que certamente surgirão.

Um outro contributo que classifico como estruturante é baseado na premissa filosófica (desconfio que socrática e, se não é, vem mesmo a calhar) de contar com o ovo no cu da galinha, o que neste caso significa dar como garantido que o Estado vai receber os 58 milhões de euros que pede aos acusados da Operação Marquês (entre os quais se encontra um outro filósofo, pós-modernista, que responde pelo nome de José Sócrates) e começar a gastar por conta disso. Enquanto o dinheiro não chega, podes sempre colocar esta despesa na coluna dos pendentes.

Para terminar, uma ideia mesmo bestial (afinal, sou uma grande besta). Pede ao Vítor Gaspar e à Maria Luís Albuquerque para fazerem uma versão alternativa do Orçamento para 2018, assim cheia de medidas duras e impopulares, colocas essas propostas a circular como se fossem as verdadeiras e depois zás, apresentas o verdadeiro Orçamento, mais brando, e sais como um herói.

Se nada disto correr bem, podes sempre dizer ao António Costa que vais beber um café a Bruxelas e acabas por ficar lá a presidir ao Eurogrupo, dando a desculpa que ainda não te deram troco do dito porque pagaste com uma nota de 50.

Esperando que estas estonteantes propostas tenham utilidade, despeço-me.


Atentamente,


Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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