Notícia
Virgolino Faneca vinga-se, ganha o euromilhões e depois acorda
Ostracizado pelos seus colegas, Virgolino Faneca ripostou com uma aposta temerária no euromilhões. Eles diziam que eram a Alemanha, ele vestiu a pele de Maradona e fez a aposta do século.
Estava mesmo preparado para me queixar ao Totta, mas isto de um tipo se meter com a banca é uma má resolução, dá muito trabalho e depois ainda me fazem um ETRICC e acabo goleado, o que é uma enorme chatice, até porque os únicos hat-trick de que gosto são os do Cristiano Ronaldo ou do Éder (nunca fez nenhum, mas isso também não vem ao caso).
Estes amigos de Peniche aproveitaram o facto de eu ter ido vazar águas ao Horácio da taberna e depois ter lá ficado uns minutos para atestar o depósito, e nas minhas costas criaram a dita cuja sociedade e quando dei pela marosca já estavam a dividir o dinheiro do prémio. Uns milhões para comprar umas casitas, outros milhões para dois ou três Ferraris (o Diogo até conduziu um imaginariamente e estampou-se logo), mais uns quantos milhões para uma viagem à Nova Zelândia (o Bruno encomendou com antecedência uma farda de piloto num site da especialidade), uns trocos largos para reforçar uma equipa de futebol (a Alexandra começou a dar a táctica ao Messi) e mais umas quantas minudências que me escuso de enumerar para não te causar fastio.
Em resumo, mancomunaram-se e trataram como se eu fosse o duque de uma cena triste.
Portanto, exijo vingança e esta só se consumará se aceitares a sociedade para jogares comigo ao euromilhões. E temos uma vantagem adicional. Como somos apenas dois, ficamos com mais dinheiro para achincalhar os ingratos que já estão a dividir o prémio com a certeza de que ganharam, tipo o futebol são 11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha. Não ganham não, porque nós somos o Maradona e vamos fazer o euromilhões do século. Mais nada!
Sendo que também já sei o que vou fazer com o dinheiro. Cinco milhões vão ser guardados para comprar todas as cadernetas de futebol da Panini, antigas e futuras, cinco milhões para pagar cafés de 10 cêntimos aos pobretanas que sonharam ser ricos e 10 milhões para ir com o Mário Ferreira à Lua no dia de São Nunca à Tarde porque de manhã faz muito calor.
O resto do dinheirinho é para guardar, seguindo escrupulosamente os conselhos de poupança sugeridos em livro por esse ser iluminado que responde pelo nome de Cláudio Ramos.
Quanto a ti não sei, Tiago, mas até acabo por ter pena dos desgraçaditos que ousaram pensar que iam ganhar o euromilhões. Nesta medida agirei em consonância, ou seja, vou escarnecer deles sem dó e apenas com uma ligeira piedade. Querem dinheiro? Vão ao Totta e não se fala mais disso.
[Este espaço em branco funciona como um sonho de que não nos lembramos].
Pronto, passado o sonho de terça-feira acordámos todos a contar os tostões para o café de quarta-feira. Amigos como dantes.
Um abraço onírico deste teu,
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.