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Virgolino Faneca vinga-se, ganha o euromilhões e depois acorda

Ostracizado pelos seus colegas, Virgolino Faneca ripostou com uma aposta temerária no euromilhões. Eles diziam que eram a Alemanha, ele vestiu a pele de Maradona e fez a aposta do século.

06 de Outubro de 2017 às 17:00
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Dilecto Tiago

Estava mesmo preparado para me queixar ao Totta, mas isto de um tipo se meter com a banca é uma má resolução, dá muito trabalho e depois ainda me fazem um ETRICC e acabo goleado, o que é uma enorme chatice, até porque os únicos hat-trick de que gosto são os do Cristiano Ronaldo ou do Éder (nunca fez nenhum, mas isso também não vem ao caso).

Pois que te escrevo a propor uma sociedade para ganharmos no euromilhões, derivado do facto de os meus colegas de sueca e bisca lambida me terem ostracizado de forma evidente ao me afastarem de um grupinho (ou será grupelho?) que criaram para se afiambrar aos 190 milhões de euros que estão em jogo.

Estes amigos de Peniche aproveitaram o facto de eu ter ido vazar águas ao Horácio da taberna e depois ter lá ficado uns minutos para atestar o depósito, e nas minhas costas criaram a dita cuja sociedade e quando dei pela marosca já estavam a dividir o dinheiro do prémio. Uns milhões para comprar umas casitas, outros milhões para dois ou três Ferraris (o Diogo até conduziu um imaginariamente e estampou-se logo), mais uns quantos milhões para uma viagem à Nova Zelândia (o Bruno encomendou com antecedência uma farda de piloto num site da especialidade), uns trocos largos para reforçar uma equipa de futebol (a Alexandra começou a dar a táctica ao Messi) e mais umas quantas minudências que me escuso de enumerar para não te causar fastio.

Em resumo, mancomunaram-se e trataram como se eu fosse o duque de uma cena triste.

Portanto, exijo vingança e esta só se consumará se aceitares a sociedade para jogares comigo ao euromilhões. E temos uma vantagem adicional. Como somos apenas dois, ficamos com mais dinheiro para achincalhar os ingratos que já estão a dividir o prémio com a certeza de que ganharam, tipo o futebol são 11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha. Não ganham não, porque nós somos o Maradona e vamos fazer o euromilhões do século. Mais nada!

Sendo que também já sei o que vou fazer com o dinheiro. Cinco milhões vão ser guardados para comprar todas as cadernetas de futebol da Panini, antigas e futuras, cinco milhões para pagar cafés de 10 cêntimos aos pobretanas que sonharam ser ricos e 10 milhões para ir com o Mário Ferreira à Lua no dia de São Nunca à Tarde porque de manhã faz muito calor.

O resto do dinheirinho é para guardar, seguindo escrupulosamente os conselhos de poupança sugeridos em livro por esse ser iluminado que responde pelo nome de Cláudio Ramos.

Quanto a ti não sei, Tiago, mas até acabo por ter pena dos desgraçaditos que ousaram pensar que iam ganhar o euromilhões. Nesta medida agirei em consonância, ou seja, vou escarnecer deles sem dó e apenas com uma ligeira piedade. Querem dinheiro? Vão ao Totta e não se fala mais disso.

[Este espaço em branco funciona como um sonho de que não nos lembramos].

Pronto, passado o sonho de terça-feira acordámos todos a contar os tostões para o café de quarta-feira. Amigos como dantes.


Um abraço onírico deste teu,


Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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