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Virgolino Faneca resolve o mistério de Tancos que afinal não tem mistério. Só ilusão

O que está na origem do problema de Tancos é o facto do senhor ministro da Defesa não distinguir uma Glock de uma Nerf. Desgostosos com a situação uns senhores que usam estrelas nos ombros resolveram intervir.

29 de Setembro de 2017 às 17:00
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Caro Azeredo

Peço-lhe, antes de mais, que não atire esta carta para o lixo, presumindo que o remetente é alguém que o quer endrominar, achincalhar ou até gozá-lo por causa do roubo de armamento militar em Tancos.

Não é nada disso que me move, embora depois de ter escrito este intróito tenha tentação de o fazer. Contudo, o sentido patriótico de que estou imbuído e a vontade indómita de ajudar o senhor ministro da Defesa neste momento difícil supera qualquer arremedo de mesquinhez que possa surgir.

É por isso, com gosto, e até alguma prosápia, que venho pela presente anunciar-lhe que descobri o que realmente se passou nos paióis de Tancos. Não há mistério nenhum. Ou melhor, havia mistério até eu ter descoberto a marosca com a ajuda das celulazinhas cinzentas celebradas pelo grande Poirot. E, num ápice, tudo se tornou claro e óbvio.

A realidade é que na base deste acontecimento extraordinário está o facto de os senhores que vestem farda não gostarem de ver um civil a mandar neles. Ainda por cima um professor universitário com a mania de que pode falar com os senhores que usam estrelas nos ombros (e não dançam o Moonlight) como se fossem alunos deles. Como é possível manter um diálogo com alguém que não consegue distinguir uma Glock de uma Nerf, perguntam estes senhores marmanjos. Que tipo de identificação é praticável com alguém que mostra dificuldades em destrinçar um canhão sem recuo 84 mm Carl Gustav M2 m/94 de um canhão de água, questionam os mesmos indivíduos, do alto da sua sapiência castrense.

Desgostosos com a situação, estes senhores orquestraram um plano maquiavélico para correr consigo do Ministério. E o que fizeram? Pois bem, contrataram um mágico para criar um mistério, conducente ao seu desaparecimento. Primeiro entabularam conversações com o senhor David Copperfield, mas a contratação do mesmo revelou-se impossível, não só por razões orçamentais, mas também porque ele estava ocupado a fazer desaparecer a Estátua da Liberdade.

Vai daí viraram-se para o Luís de Matos, um mágico com predicados e duas vantagens substantivas: fala português e é mais barato. Assim, contrataram o dito para criar uma ilusão de desaparecimento de material militar nos paióis de Tancos. E depois montaram a rambóia. Ai que foi roubado material, ai que não está cá nada, ai que venham cá ver com os vossos olhos (alguém foi ver?), ai que afinal não havia nada só bolachas estragadas, e por aí em diante. Meteram o senhor ministro em bolandas, a dar o dito por não dito, a enterrar-se cada vez mais e eles a gozarem o pagode enquanto jogavam ao Risco na messe dos oficiais.

Para reverter a situação basta-lhe pois contactar o mágico Luís de Matos e ordenar-lhe que ele desfaça a ilusão de imediato. Caso ele se mostre renitente, diga que sabe fazer muito bem aquele truque de meter uma pessoa dentro de uma caixa e atravessá-la com espadas, porque viu muitos filmes do Zorro na sua juventude e maneja-as como ninguém. E assim porá um fim ao mistério de Tancos que, afinal, foi só uma partida engendrada por militares com bílis.

Há quem diga que também é uma ilusão você ser ministro da Defesa, mas isso são contas de um outro rosário.

Um abraço deste que o estima,


Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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