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Virgolino Faneca foi à raiz do problema de Madonna e voltou

O caso da encomenda de Madonna deve ser tratado como um assunto de interesse nacional. Virgolino Faneca conta o que efectivamente se passou e avança com uma solução para o problema.

08 de Setembro de 2017 às 17:00
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Cara Hermengarda

Minha dilecta prima. Acuso a recepção da tua carta onde me pedes que esclareças as últimas sobre a senhora dona Madonna que muito nos prestigia por ter escolhido Portugal, mais concretamente Lisboa, como sua nova morada.

Pois que há dois factos que te preocupam de maneira profunda (e de sobremaneira os portugueses em geral e as revistas cor-de-rosa em particular), as raízes nos cabelos da senhora dona Madonna e o facto de ela ter não conseguido levantar uma encomenda nos correios por falta de meio de prova da sua identidade. Percebe-se e eu até estou à vontade neste assunto porque estava nesse estabelecimento quando se verificou o ocorrido.

A senhora dona Madonna chega à dona Suzete dos correios, apresenta-se como tal, e diz: menina estou aqui para levantar uma encomenda, e ouve como resposta, em português esganiçado: não há aqui nenhuma encomenda para uma "Mandona", só para uma tal Luísa "Ciclone", ou "Chicone" ou seja lá o que for, porque esta caligrafia não presta nada.

E não serviu de nada a Madonna dizer, essa sou eu, porque a dona menina Suzete, ciosa no cumprimento da lei dos correios, atirou-lhe com o pedido fatal: então mostre-me lá o cartão do cidadão. E a Madonna, que não percebeu bem, ainda piorou as coisas ao dizer, só tenho American Express e Visa. E a dona Suzete: olha-me estes estrangeiros, vêm para cá e lá porque têm dinheiro pensam que podem fazer pouco de nós. Com que então American Express… Olha, filha, sem cartão do cidadão, bem que podes pedir que daqui não levas nada, o melhor é desamparares a loja que eu tenho de vender umas sardinhas em loiça e três livros de auto-ajuda ao Aniceto que está aí atrás a tirar-te as medidas, como se tu valesses alguma coisa, quando nem o cabelo sabes pintar em condições.

E de nada valeu a Madonna mostrar-lhe o passaporte. Isso é para viajar e aqui não dá para nada, excepto para viajares daqui para a rua, retorquiu ácida a dona menina Suzete, enquanto ajeitava os óculos no nariz adunco.

É por isso que vês aquela imagem que a senhora dona Madonna publicou no Instagram, com o cabelo deslavado, a preparar-se para escrever uma carta. A carta era destinada ao senhor ministro dos Negócios Estrangeiros a pedir-lhe ajuda para desbloquear o assunto. Só que Augusto Santos Silva despachou para a ministra da Administração Interna, e Constança Urbano de Sousa, que tem mais com que se coçar, varreu para a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, que por sua vez atirou para o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, que sem delongas empurrou com a barriga para o presidente dos CTT, Francisco Lacerda, o qual convocou uma reunião da comissão executiva que se deverá realizar na próxima semana para debater o assunto. O dossiê queima porque ninguém quer ser acusado de favorecimento (vide viagens Galp, Oracle, Microsoft) e de ajudar uma camone, quando os de cá andam ao tio, ao tio.

O que ninguém sabe e te revelo em primeira mão, Hermengarda, é que estes dois factos estão intimamente ligados. Ouve-se agora um rufar de tambores destinado a criar suspense. Segue-se um silêncio. E um novo rufar de tambores para aumentar o dito suspense. Mais um silêncio. Porra, que já chega de encanar a perna à rã (pensamento de mim para mim que o leitor poderá subscrever). Está bem. Avanço para a revelação: a encomenda que a senhora dona Madonna foi impedida de levantar pela menina dona Suzete contém tintas destinadas a pintar as raízes do cabelo. Sem elas, a senhora dona Madonna parece uma daquelas senhoras que vende o seu corpo em troca de pouco dinheiro, devido à sua fraca figura.

Por isso, o desbloqueamento da encomenda da senhora dona Madonna é um assunto de interesse nacional, porque está em causa a imagem do país. Já que os ministros, os secretários de Estado e o presidente dos CTT estão a procrastinar, é imperiosa a intervenção concomitante do professor Marcelo e do doutor Costa. A bem da nação. Não achas, Hermengarda?


Um beijo afectuoso deste que te estima,


Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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