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Virgolino Faneca lança o alerta: há uma epidemia grave na Comporta

Virgolino Faneca detectou a existência na Comporta de uma epidemia que provoca graves perturbações nos humanos. E pede ajuda ao doutor George, o único capaz de pôr cobro a esta calamidade.

João Paulo Dias
11 de Agosto de 2017 às 17:00
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Espero que perdoe a ousadia de me dirigir até si nestes moldes, mas faço-o porque constato que o senhor age de forma diligente sempre que Portugal se depara com um problema de saúde ou a ameaça de um, seja uma gripe das aves ou um surto de sarampo.

Neste contexto, presumo que seja por falta de informação que o senhor doutor ainda não se tenha pronunciado sobre uma grave epidemia que está a vitimar a Comporta e já tem ramificações no Carvalhal e no Pego.

Não, doutor. Não tire conclusões apressadas. Não se trata de um problema de mosquitos - que nesta altura estão tão bem alimentados que se deviam chamar mosquitões - nem de moscas, que inopinadamente surgiram naquela área. O problema é bem mais grave e requer uma intervenção assertiva da Direcção-geral de Saúde, do Ministério da Saúde, das autoridades locais de saúde, passando ainda por um reforço substantivo de determinados medicamentos nas farmácias locais, de forma a mitigar os efeitos desta surpreendente maleita.

Claro que por esta altura o senhor doutor Moura George já está a cofiar a sua espessa barba, um sinal evidente de impaciência perante aquilo que julga ser uma procrastinação premeditada, o que mostra também que se trata de uma pessoa perspicaz.

Mas vamos ao que interessa. E o que interessa é que se instalou na Comporta e arredores um surto de sinusite que tem de ser debelado com rapidez. Faço esta afirmação porque são raros os espécimes humanos encontrados na praia e na vila da Comporta que não falem pelo nariz. Um tipo vai ao café e lá estão uma série de senhoras com um sotaque nasalado a comentarem o padrão foleiro das saídas de praia das amigas ausentes. Na praia, deparamos com uns miúdos a comprar bolas-de-berlim e o pedido das mesmas é feito numa voz afectada que sai do nariz e obriga o vendedor das ditas a pedir: importam-se de repetir. Já os senhores, refastelados nas espreguiçadeiras, envergando na moleirinha uns chapéus alvos que dizem ser do Panamá, comentam as últimas de Portugal e do mundo com carradas de sinusite. Um espectáculo que até dá dó.

Esta maleita produz, inclusive, efeitos colaterais. A patologia manifesta-se pelo facto de todos os espécimes masculinos se tratarem por Maria. Zé Maria, Bernardo Maria, António Maria, Vasco Maria, João Maria, Afonso Maria e por aí adiante. O que permite, indubitavelmente, extrair a conclusão de que este surto provoca efeitos no plano da identidade sexual.

Vê-se que são pessoas que estão realmente doentes e precisam de auxílio médico imediato. Se o doutor Moura George me permite, sugiro mesmo uma quarentena desta gente afectada pela sinusite, para que o surto da mesma seja contido. E que a mesma seja efectivada na praia, de preferência ao lusco-fusco, pois pode ser que assim os humanos acabem por infectar os mosquitos com sinusite, o que a concretizar-se resolveria dois problemas de uma só vez.

Como vê, doutor Moura George, trata-se de um assunto premente que exige ser tratado como tal. Até porque as férias de pessoas (também elas humanas) que não têm sinusite nem Maria no nome estão a ser seriamente prejudicadas.

Aguardo ansiosamente pelas suas instruções.


Com os melhores cumprimentos,


Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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