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Virgolino Faneca acha que o o bruxo Nhaga pode resolver o roubo de Tancos

Não existindo em Portugal bruxos capazes de resolver o enigma de Tancos (Alexandra Solnado mostrou-se indisponível por não ter saldo no WTF), Virgolino tomou a iniciativa de solicitar os préstimos do espectacular bruxo Nhaga.

07 de Julho de 2017 às 17:00
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Prezado general Nhaga

Espero que esta o encontre bem aí na Guiné-Bissau, assim como a todos os seus, exceptuando o seu familiar Tito, que se revelou um usurpador sem qualidade alguma.

Eu, para que não restem dúvidas, respeito as hierarquias, e por isso dirijo-me ao senhor general para solicitar que entre em contacto com os conhecimentos que tem no Além, no sentido de resolver um problema que inquieta Portugal, no todo e nas partes.

Como pugno pela honestidade, devo confessar que antes de lhe endereçar esta missiva me dirigi à doutora Alexandra Solnado a requerer os seus préstimos, uma iniciativa infrutífera. Ela disse que só tratava com Deus de coisas boas e fofinhas e não ia incomodar o Senhor com coisas menores como bruxarias, até porque já estava com pouco saldo no WTF - um acrónimo que o pudor me impede de decifrar.

Sendo que fez um trabalho de elevado nível no Benfica - o qual, porventura, terá despertado a inveja do bruxo Francisco J. Marques e do mestre Alves -, venho assim pedir-lhe encarecidamente que aceite a missão esotérica que lhe pretendo encomendar. O senhor tem também a vantagem adicional de ser um dois em um, ou seja, além de bruxo é também general.

Esta é uma condição relevante para a missão, visto que os militares costumam desdenhar dos civis, não obstante serem eles que fazem acções de vigias com armas descarregadas. No meu bairro, por exemplo, andamos todos equipados com Nerf Elite Rapidstrike, quem têm um pente de 18 balas, e já fomos capazes de impedir a dona Aurora, de um bairro rival, de roubar tomates cacho na mercearia do Alfredo.

O que solicito, general barra bruxo barra feiticeiro Nhaga, é que utilize os seus dons para descobrir quem roubou o armamento do paiol de Tancos. Você, feitas as contas, é a única pessoa capaz de levar a cabo este desiderato de incomensurável importância. Um homem do seu calibre, capaz de oferecer um tetra ao Benfica, tem recursos mediúnicos mais do que suficientes para detectar os salafrários e pô-los a passar um mês na Guiné-Bissau para verem com quantos paus se constrói uma cabana. Isto se tiverem tempo para os contar, porque coisas ruins acontecem em qualquer parte do mundo.

A nossa Polícia Judiciária mostra-se ineficaz, o general responsável pela coisa, um tal de Rovisco Duarte, anda a jogar Risco com o senhor ministro da Defesa, Azeredo Lopes. O nosso primeiro-ministro resolveu investigar uma pista externa e dirigiu-se para Palma de Maiorca (as línguas viperinas dizem que foi a banhos mas não acredito). Já o comandante supremo de todos os ramos militares, mesmo dos quebrados, o professor Marcelo, acha que não foi roubo mas apenas um truque de prestidigitação e que o David Copperfield irá aparecer com o material sonegado em Tancos montado num tapete persa apreçado na feira de Castro.

Mais informo que tenho capacidade para lhe fornecer o material necessário à materialização dos bruxedos, sejam miudezas de frango, missangas de cores variadas, vísceras de cabrito, sangue de bode, pernas de rã, um galhardete do Exército português, patas de coelho, búzios e bagaço, tudo conveniente e generosamente embrulhado em quatro notas de 500 que pode interpretar como o pagamento pelos serviços que irá prestar à pátria lusa.

Um favor que lhe peço encarecidamente, general Nhaga, é que seja intransigente e não deixe o Tito meter o bedelho neste assunto, porque os resultados, efectivamente, desiludem. Basta ver o quer aconteceu com o Benfica. O senhor general ausentou-se para passar uns dias nos Bijagós e o aprendiz Tito foi incapaz de fazer com o que o Benfica vencesse uma singela eliminatória da Liga dos Campeões.

Aguardo ansiosamente por uma resposta positiva da sua parte. Deste que o admira,

Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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