Notícia
Virgolino Faneca tem um plano para ajudar os catarianos
O xeque Tamim, intrépido líder do Qatar, está em sobressalto com o isolamento político a que foi submetido pelos seus parceiros do Médio Oriente. Pediu ajuda a Virgolino Faneca e este, claro, apresenta uma solução para o problema.
O senhor xeque, muito humildemente, endereçou-me uma carta, pedindo que eu esclareça o público em geral sobre o Qatar e a sua magnífica política, para que o rótulo de país apoiante do terrorismo se desvaneça.
O que efectivamente gera uma indómita vontade de rir é ver a Arábia Saudita acusar o Qatar de apoiar o terrorismo, o que é o mesmo que o roto dizer para o nu porque não te vestes tu.
Neste contexto, xeque Tamim, a minha missiva serve para o ajudar a definir um novo posicionamento do seu país, um extraordinário conceito criado pelo agora desaparecido Jack Trout - podia escrever, pela boca morre o peixe (porque "trout" na língua de Shakespeare significa truta na língua de Camões), mas seria um graçola estúpida e potencialmente desrespeitosa para com o finado e por isso não a faço - pelo que remeto três propostas tendentes a materializar a estratégia que me encomenda. A primeira é a de mudar o posicionamento geográfico do país, pedindo para fazer parte da Oceânia. Se esta medida se revelar inexequível, existe uma segunda possibilidade de remediar a arrelia da Arábia Saudita cedendo-lhes, por exemplo, o patrocínio das camisolas do Barcelona, oferecendo-lhes um clube de futebol inglês ou mesmo o Harrods, o género de presentes que poderá ajudar o magnânimo rei Salman a reconsiderar.
Caso esta última iniciativa se gorar, existe ainda uma terceira via, que consiste em recorrer aos serviços do senhor Trump, um mago da diplomacia, que lhe poderá vender "a tia-avó materna de todas as bombas não nucleares" e mais "uma série de bonito material militar" (Presidente dos EUA, "dixit"), acessórios com os quais poderá reforçar os seus poderes argumentativos.
Se todas estas estratégias falharem, o melhor é o xeque Tamim considerar a hipótese de vir residir para Portugal, um país muito hospitaleiro, com um clima soalheiro, vastos espaços desérticos para montar tendas e que já não maltrata infiéis para aí desde o século XII. Também estamos habilitados a organizar corridas de Fórmula 1, de cavalos, camelos e galgos e caçadas de falcões e gostamos muito de turistas. Em última análise, até podemos organizar testes de condução para as senhoras sauditas que, como é sabido, no seu país estão inibidas de conduzir, uma acção que poderá contribuir para o degelo das relações entre sauditas e catarianos.
Xeque Tamim, se vier para Portugal poderá até participar livremente nos debates estruturantes que estão a acontecer no nosso tranquilo país, como a gravidez da namorada do Ronaldo, o português dos D.A.M.A ou o estado de saúde de Manuel Luís Goucha. E não se preocupe com os "posts" da Maria Vieira. Está tudo controlado. É vir, com todo o seu dinheirinho, que nós lhe daremos bom uso.
Um bacalhau seco deste seu,
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.