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Virgolino Faneca foi segurança de Madonna e conta (quase) tudo

Madonna esteve em Portugal para gáudio geral, suscitando uma gloriosa cobertura mediática. O que poucos sabem é que Virgolino Faneca foi um espectador privilegiado da sua estada no nosso país e tem muito para revelar.

26 de Maio de 2017 às 17:00
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Aos meus dilectos leitores e aos cuscos endinheirados

Para gáudio dos meus indefectíveis leitores, i.e., os meus progenitores e dois amigos que estão a pagar uma dura penitência, venho por este meio informá-los de que durante a passada semana cumpri serviço como segurança da senhora dona Madonna Louise Ciccone e tenho imensas histórias para contar de teor e feitio variável, conforme a clientela, e outras de natureza mais íntima que posso revelar em troca de uma recompensa monetária generosa.

Antes de mais compete-me explicar as razões pelas quais fui escolhido para segurança da senhora dona Madonna. A primeira delas foi o meu domínio da língua de Shakespeare e também da falada por Trump, que como se sabe é um derivado rústico da primeira. A segunda foi o facto de ter produzido um vídeo em que a minha comadre Celeste aparece a cantar "Like a Virgin" num moliceiro e acaba comida pelo leão que havia alugado ao circo Cardinal para replicar o videoclipe original. A terceira, foram as minhas preciosas informações sobre a actividade do senhor Presidente da República, as quais permitiram que a senhora dona Madonna nunca se cruzasse com Marcelo Rebelo de Sousa durante a sua estada no nosso país apesar das inúmeras e persistentes tentativas deste. A última, e mais relevante, foi a circunstância de ser amigo de um primo de um tipo que é segurança no Estádio da Luz, o qual por sua vez conhecia Rui Costa, um encadeamento de conhecimentos que me permitiu colocar o filho da senhora dona Madonna a apanhar bolas no Benfica, tarefa que não está ao alcance de qualquer um.

Para eventuais interessados na aquisição das minhas histórias - tenho de tudo, picantes, amorosas, ternurentas, inesperadas, odiosas - por um preço que me permita comprar um carro em segunda mão e um T1 em Ranholas, deixo aqui um cheirinho de como foram os meus dias.

Investido como segurança da senhora dona Madonna e dos seus rebentos, a minha primeira tarefa foi ir comprar dois aventais para as meninas, que quiseram brincar ao chá das cinco com as Barbies, tendo acabado a fazer as vezes de Ken, porque o mais forte candidato ao lugar, o irmão delas, estava a treinar no Seixal. Para saber mais é favor depositar 4.000 euros na conta com o NIB 0007 0007 0007 0007.

De seguida, fui com a senhora dona Madonna escolher uma casa na Lapa e estava lá um senhor mediador com uma placa pregada no casaco onde se lia F. Medina. O senhor teceu loas à vista, à vizinhança, à pacatez do lugar, elogiou o facto de a cozinha estar equipada com a última geração de electrodomésticos, disse que gostava muito da senhora dona Madonna e escorria-lhe um fio de baba quando ela me franziu um sobrolho, sinal de que se queria ver livre dele. Para saber mais é favor depositar 6.500 euros na conta com o NIB 0007 0007 0007 0007.

Num dia luminoso, mais precisamente um domingo, fui com a senhora dona Madonna à praia do Pêgo, ela ficou muito triste por não ver lá o senhor Salgado, mas recuperou rapidamente e pediu-me para lhe colocar protector solar nas costas, o que permitiu descobrir tatuagens em lugares recônditos do corpo. Muito picante. Para saber mais é favor depositar 30.000 euros na conta com o NIB 0007 0007 0007 0007.

Acompanhei a senhora dona Madonna a Beringel onde ela foi aprender as artes da olaria com um senhor apropriadamente chamado António Mestre, enquanto as filhas comiam migas de espargos e o filho se entretinha a apanhar bolas no campo da União Desportiva e Cultural Beringelense. Fez três obras de arte que, num ápice, foram compradas por outras tantas figuras do jet set mundial, circunstância que deixou o Mestre catatónico, e uma quarta que me ofereceu, inspirada nas bolas que o filho ia apanhando com zelo. Para saber quem comprou as obras de arte e muito mais é favor depositar 20.000 euros na conta com o NIB 0007 0007 0007 0007.

Colocando-me inteiramente à disposição dos potenciais interessados nestas histórias únicas e maravilhosas, subscrevo-me gananciosamente,

Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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