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Virgolino Faneca recomenda o óleo de coco como a panaceia para todos os males

O óleo de coco virgem (atenção, tem mesmo de ser virgem) pode ser a argamassa do Portugal do futuro. É capaz de resolver os problemas do PIB e do sistema financeiro, podendo até ajudar a controlar os custos do SNS.

Bloomberg
16 de Junho de 2017 às 17:00
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Pois que te escrevo, não em resposta a qualquer carta tua, porque tu és um ingrato e não me escreves, mas precisamente para lamentar esta tua falha epistolar que me despedaça o coração e entristece a alma.

Pois que estava a partilhar este meu estado de espírito com amigas, eis senão quando uma delas me sugeriu a utilização de óleo de coco virgem de forma a apaziguar a minha vontade de te ir à fuça, fazer-te em picado ou simplesmente ir-te às trombas.

Óleo de coco virgem, exclamei. Óleo de coco virgem, reafirmou ela. Estás a mangar comigo, questionei. Não é de manga, é de coco, rectificou ela.

Foi então que me explicou que Passos Coelho usa o dito óleo para sarar as feridas da vitória eleitoral mais amarga de sempre, que António Costa recorre a ele para prevenir o aparecimento de estrias na geringonça, que o professor Marcelo o utiliza porque sim e que Mário Centeno recorre a ele para manter o cabelo saudável, circunstância que em muito o beneficia no Eurogrupo e nos debates com o ministro das Finanças da oposição, o doutor José Gomes Ferreira, que parece padecer de seborreia.

Fiquei boquiaberto e a minha amiga sugeriu-me de imediato os préstimos do óleo de coco virgem para branquear os dentes, coisa que levei a mal antes de levar a bem, o que sucedeu perante a constatação de que uma dentição alva é importante para singrar na política e poder rir alarvemente mesmo quando se está a dizer umas retumbantes inverdades.

Perante estas evidências, tive uma epifania, a de que o óleo de coco virgem pode ser o fio condutor, a argamassa, a pedra basilar, o suporte, o pilar, a trave-mestra, do Portugal do futuro.

Passo a explicar. Podemos usar óleo de coco para manter o PIB hidratado, para diminuir os gastos com saúde distribuindo frasquinhos do dito pela população ou para clarear o sistema financeiro, que bem precisa. Com jeito, muito jeitinho, podemos até substituir o Governo todo por frascos de óleo de coco virgem que ficam bem mais em conta.

Modestamente, acho esta minha ideia genial, tão genial que tive de a partilhar contigo. No fim de contas, quando te puser a fachada em obras, vais precisar de algo para tratar dela e o óleo de coco faz bem a tudo, embora me tenha escapado o "plus" do virgem nas virtudes terapêuticas do produto.

Além disso, como certamente concordarás, o óleo de coco virgem, neste caso, fez o milagre de ser a base de um texto que parece ser fruto de uma grande reflexão, mas é apenas blá-blá-blá inconsequente, o que abona a favor do produto.


Sem mais, deste que te odeia,

Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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