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Virgolino Faneca revela o porquê de Schäuble ter chamado CR7 a Centeno

Com a ajuda de Nero Wolfe e Arquibaldo Boa Vitória, Virgolino desvenda o plano assustador e maquiavélico do ministro alemão.

Reuters
02 de Junho de 2017 às 17:00
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Caro Paulo

Como sabes (e se não sabes ficas a saber porque o saber não ocupa lugar e mesmo que ocupe podes deitar fora aquele sofá cor de musgo que a tua madrinha Natália te ofereceu) sou um aficionado de literatura policial e este meu predicado mostrou-se fundamental para resolver o enigma que assola a tua moleirinha.

Questionavas tu o que quis dizer, efectivamente, o ministro Schäuble quando classificou o ministro Centeno como o Ronaldo do Ecofin, partindo da premissa que um putativo elogio, proferido por um empedernido alemão, que raramente mostra os dentes, é uma razão mais do que suficiente para ficar em estado de alerta.

Argumentavas, na carta enviada, que o laudo a Centeno te parecia um ardil, solicitando por isso os meus préstimos para uma cabal esclarecimento das coisas. Pois bem, satisfazendo a tua demanda, encarnei na figura desse mítico detective que dá pelo nome de Nero Wolfe, o que significa que fiquei em casa a empanturrar-me de comida e cervejolas, recorrendo ao meu assistente pessoal Archie Goodwin (Arquibaldo Boa Vitória para os amigos) para fazer o trabalho de campo por mim.

Sem pestanejar, até porque o movimento das pálpebras é cansativo, enviei-o de imediato para Bruxelas com duas incumbências: comprar umas "moules" frescas e responder à tua interrogação, tarefa na qual foi bem-sucedido. E tenho a dizer-te, desde já, que as tuas suspeitas eram fundadas. Mas antes de chegar aos finalmente é imperioso preambular.

Assim sendo, começo por te dizer que o Arquibaldo Boa Vitória correu sérios riscos de vida durante a sua estada em Bruxelas, porque pensava que as "moules" se comiam com casca e teve de ser sujeito a uma manobra de Heimlich efectivada por um empregado do restaurante Le Marée, que ofereceu um olho negro ao meu colaborador, quando se apercebeu que este não o iria gratificar. Recomposto, Arquibaldo entrou no edifício-sede da União Europeia, de óculos escuros e de costas para que as pessoas pensassem que ele ia a sair, tendo-se infiltrado numa reunião onde só estavam presentes senhores alemães, entre os quais o pérfido Schäuble, e um senhor holandês de nome impronunciável, a combinar a táctica pós-elogio ao ministro Centeno, rindo com escárnio.

E foi assim, disfarçado de candeeiro de pé alto, que Arquibaldo descobriu a marosca. Que basicamente é esta. O ministro Schäuble, ao comparar Centeno a Ronaldo, pretende que Centeno fique inchado de vaidade e o Ronaldo irritado até à medula. Consumado, este objectivo, Ronaldo, ou seja CR7, vai querer mostrar que é o melhor em tudo e aceitará, de bandeja, o lugar de presidente do Eurogrupo, ao mesmo tempo que desafiará Centeno a ir jogar por ele para o Real Madrid.

E perguntas: o que ganha Schäuble com isto? Pois que ganha de duas maneiras. Como é adepto do Bayern Munique, considera, de forma racional, que o seu clube terá mais hipóteses de ganhar a Liga dos Campeões se o Ronaldo for jogar para outra freguesia. Por outro lado, como acha que o CR7 não percebe nada de finanças, pensa que isso é meio caminho andado para desprestigiar os países do Sul e Portugal em particular.

Para mim este plano tem uma falha, a qual resulta do facto de o ministro Schäuble desconhecer Jorge Mendes, mister em contas, que certamente CR7 irá contratar quando for capitão do Eurogrupo. E mesmo a cena da Liga dos Campeões não é certa, porque já me disseram que o ministro Centeno deu nas vistas enquanto juvenil do Olhanense.

Espero que a informação te seja útil e ajas em conformidade.


Um abraço deste teu,

Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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