Notícia
Virgolino Faneca faz uma narrativa libidinosa e parva para revelar a verdade sobre Tancos
Virgolino Faneca teve acesso às escutas telefónicas que permitiram descobrir o armamento de Tancos na Chamusca. Tudo graças à Hermengarda, a uma mulher a dias sem nome e à kizomba. Fica tudo em pratos limpos
Satisfazendo o teu pedido, embebido em curiosidade, de possuíres mais informação sobre o material militar roubado em Tancos e descoberto na Chamusca, passo a relatar-te as escutas efectuadas pela Polícia Judiciária Militar (PJM), às quais tive acesso, derivado do facto de ter abundantes conhecimentos que me permitiram chegar até elas.
Feito este preâmbulo, aqui vai o que interessa, ou seja, as escutas.
Voz 1 - Tenho aqui a fruta que recolhi em Tancos. Está madura e pronta a ser comida.
Voz 2 - Porra, já me conheces há tanto tempo… Não sabes que não gosto de fruta?!
Voz 1 - Fruta é código.
Voz 2 - Código do quê pá! Não venhas com merdas, eu quero é o armamento que tu disseste que ias roubar a Tancos.
Voz 1 - Era disso que estava a falar.
Voz 2 - Porra, não fales disso ao telefone, que podemos estar a ser escutados.
Voz 1 - Era por isso que estava a falar em fruta. É um código.
Voz 2 - Entendido. A fruta são armas. E código é o quê, morteiros?
Voz 1 - Olha, o melhor é encontráramo-nos no bar do Aposento da Chamusca.
Voz 2 - Acho bem. E estás proibido de falar em armas ao telefone.
(PJM monta escuta no Aposento da Chamusca)
Voz 1 - Aquilo foi como limpar o rabinho a meninos pequeninos.
Voz 2 - Mas foste roubar armas a Tancos ou andaste a fazer de baby-sitter do teu bastardo?
Voz 1 - É código!
Voz 2 - Mas afinal o código não era fruta?! Em que ficamos?
Voz 1 - Vamos ao que interessa. Já arranjaste comprador para a fruta?
Voz 2 - Então não eram fraldas.
Voz 1 - Esquece. Fruta, fraldas, vai tudo dar ao mesmo. Quero é ver-me livre do material.
Voz 2 - E de que material estás a falar?
Voz 1 - Granadas, morteiros, munições, explosivos plásticos, etc.
Voz 2 - Porra. És muito parvo. Não sabes que todos os cuidados são poucos e que as paredes têm ouvidos. Não fales em armas. Usa um código qualquer.
Voz 1 - Por favor. Se alguém estiver a escutar esta conversa, que me prenda. Já não suporto este gajo. É burro que nem uma porta?
Voz 2 - O código agora é porta?! És mesmo inconstante. Se não sabes o que queres, é mais difícil vender as armas. Olha que até tenho um interessado, um tipo chamado Azeredo Lopes…
[Como sabes, o desejo da Voz 1 concretizou-se].
E pronto, foi isto.
Atentamente,
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.