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Virgolino Faneca faz uma narrativa libidinosa e parva para revelar a verdade sobre Tancos

Virgolino Faneca teve acesso às escutas telefónicas que permitiram descobrir o armamento de Tancos na Chamusca. Tudo graças à Hermengarda, a uma mulher a dias sem nome e à kizomba. Fica tudo em pratos limpos

20 de Outubro de 2017 às 17:00
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Mui ilustre Anacleto

Satisfazendo o teu pedido, embebido em curiosidade, de possuíres mais informação sobre o material militar roubado em Tancos e descoberto na Chamusca, passo a relatar-te as escutas efectuadas pela Polícia Judiciária Militar (PJM), às quais tive acesso, derivado do facto de ter abundantes conhecimentos que me permitiram chegar até elas.

Esses abundantes conhecimentos, para que saibas, consubstanciam-se no facto de ser amigo muito chegado à Hermengarda (às vezes chegado demais), que por sua vez é prima da mulher-a-dias de um inspector da PJM (que às vezes também é chegado demais à mulher-a-dias), a qual faz as limpezas na casa do dito e de vez em quando leva uns CD para casa, crente nos gostos musicais do senhor. Ora, acontece que numa das vezes pegou num CD onde estava escrito bazucas & morteiros e pensou que se tratava de um grupo de kizomba. Como gosta muito de menear as ancas e outras partes do corpo, como o referido inspector pode atestar, levou o dito e quando chegou a casa percebeu o logro. Afinal, bazucas & morteiros, não era música, mas uma conversa estapafúrdia entre dois senhores. Vai daí, deu o CD à Hermengarda para que ela apagasse aquela balhana sem sentido e gravasse umas kizombas. Por sua vez, a Hermengarda, num daqueles dias em que estava chegada demais a mim, pediu para acelerar os preliminares porque tinha de gravar o dito CD, eu prontifiquei-me a ajudar dado os vastos conhecimentos musicais que tenho e ouvi a conversa. Fez-se luz e disse logo à Hermengarda, aí não mexes, e ela ficou momentaneamente triste até perceber que aquilo que eu queria que ela não mexesse não era o mesmo em que ela queria mexer.

Feito este preâmbulo, aqui vai o que interessa, ou seja, as escutas.

Voz 1 - Tenho aqui a fruta que recolhi em Tancos. Está madura e pronta a ser comida.
Voz 2 - Porra, já me conheces há tanto tempo… Não sabes que não gosto de fruta?!
Voz 1 - Fruta é código.
Voz 2 - Código do quê pá! Não venhas com merdas, eu quero é o armamento que tu disseste que ias roubar a Tancos.
Voz 1 - Era disso que estava a falar.
Voz 2 - Porra, não fales disso ao telefone, que podemos estar a ser escutados.
Voz 1 - Era por isso que estava a falar em fruta. É um código.
Voz 2 - Entendido. A fruta são armas. E código é o quê, morteiros?
Voz 1 - Olha, o melhor é encontráramo-nos no bar do Aposento da Chamusca.
Voz 2 - Acho bem. E estás proibido de falar em armas ao telefone.

(PJM monta escuta no Aposento da Chamusca)

Voz 1 - Aquilo foi como limpar o rabinho a meninos pequeninos.
Voz 2 - Mas foste roubar armas a Tancos ou andaste a fazer de baby-sitter do teu bastardo?
Voz 1 - É código!
Voz 2 - Mas afinal o código não era fruta?! Em que ficamos?
Voz 1 - Vamos ao que interessa. Já arranjaste comprador para a fruta?
Voz 2 - Então não eram fraldas.
Voz 1 - Esquece. Fruta, fraldas, vai tudo dar ao mesmo. Quero é ver-me livre do material.
Voz 2 - E de que material estás a falar?
Voz 1 - Granadas, morteiros, munições, explosivos plásticos, etc.
Voz 2 - Porra. És muito parvo. Não sabes que todos os cuidados são poucos e que as paredes têm ouvidos. Não fales em armas. Usa um código qualquer.
Voz 1 - Por favor. Se alguém estiver a escutar esta conversa, que me prenda. Já não suporto este gajo. É burro que nem uma porta?
Voz 2 - O código agora é porta?! És mesmo inconstante. Se não sabes o que queres, é mais difícil vender as armas. Olha que até tenho um interessado, um tipo chamado Azeredo Lopes…

[Como sabes, o desejo da Voz 1 concretizou-se].
E pronto, foi isto.


Atentamente,


Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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